Na pré-época, poucos se atreveriam a vaticinar uma ascensão tão repentina de Hugo Faria no U. Leiria. Mais: o jovem médio, que vinha de uma temporada de empréstimo ao serviço do Olhanense, parecia condenado a ser um dos elos mais fracos do plantel e, consequentemente, estaria na rampa de lançamento para cumprir novo período de «rodagem». Puro engano. Sem olhar à concorrência, este algarvio de 23 anos arregaçou as mangas, cerrou os dentes e convenceu Domingos Paciência a tal ponto que o técnico apenas prescindiu dos seus serviços numa partida até ao momento, na segunda jornada, frente ao Beira Mar.
Este é um dos casos em que o trabalho e a força mental foram decisivos, sobretudo nos primeiros tempos, quando todos partiram em igualdade aos olhos do técnico. «Eu sabia perfeitamente que podia ser dispensado. Era um facto. Já tinha sido emprestado e, com um treinador novo, que ainda não me conhecia, podia voltar a acontecer. Mentalizei-me para ambos os cenários e, talvez por isso, senti-me liberto de pressão, porque pelo menos com o pior já contava», revela o camisola 15 da turma leiriense.
Um dos segredos que encontra para explicar a (aparente) facilidade com que se impôs no onze reside na experiência que acumulou na Liga de Honra, um escalão bastante diferente da BWin Liga. «Só se luta para subir ou para não descer, não há outros objectivos, como a Taça UEFA e, por isso, pratica-se um tipo de jogo mais aguerrido. Para mim, foi óptimo. A época correu-me bem, foi bastante produtiva, e senti que me tornei mais jogador. Ora, isso acabou por contribuir para que chegasse a Leiria em boa forma», desvenda o médio, que destaca a quantidade de jogadores oriundos das divisões secundárias cuja qualidade, à semelhança do seu caso, acabou, mais cedo ou mais tarde, por ser reconhecida ao mais alto nível.
Decorrido um terço do campeonato, Faria admite, ainda assim, que não esperava estar entre os atletas mais utilizados do plantel. «Não estava nos meus planos ascender desta forma tão rápida. Há dois anos, só tinha conseguido fazer dois jogos, antes de ir para Olhão, e, como tal, apenas queria ficar no plantel, para tentar jogar o mais possível», reconhece, mostrando-se convicto de que ainda terá maiores motivos de orgulho quando festejar o primeiro golo na Liga: «Espero que aconteça em breve e se for já neste domingo, tanto melhor. Mas não estou obcecado.»
A campanha dos comandados de Domingos Paciência tem sido excepcional e o actual terceiro lugar é disso fiel reflexo. Mas nada de deslumbramentos. «Por enquanto, temos de cingir-nos à meta traçada no início da época: conseguir o mais rapidamente possível a manutenção. Não poderemos pensar noutra coisa enquanto não ultrapassarmos essa fasquia. Depois, então, tudo o que vier a mais será bem-vindo.»
Apreciador de Gattuso
Pela posição que ocupa, Hugo Faria identifica-se com alguns jogadores de referência, casos de Gattuso (Milan) ou Essien (Chelsea). «Não direi que são ídolos, apenas atletas cujo estilo me cativa», apressa-se a esclarecer, enquanto revela alguns dos seus «hobbies»: «Adoro viajar pela Internet e participar em jogos on line. Quando não estou a treinar ou a jogar, são os meus passatempos favoritos.»