A UEFA quer mesmo avançar com a proibição dos passes de jogadores nas mãos de terceiros, que não clubes. E pediu à FIFA que estenda essa proibição à escala global, revela Gianni Infantino, o secretário-geral do organismo, num artigo publicado na revista UEFA.Direct. Os responsáveis pelo futebol europeu admitem um período transitório de adaptação a uma proibição que afetará diretamente os principais clubes portugueses, os quais têm negociado partes substanciais dos passes dos seus jogadores com fundos de investimento.

Infantino começa por falar na «ameaça que constitui a denominada propriedade por terceiros de um jogador», e explica por que é «um problema». «Em primeiro lugar, porque levanta questões éticas e morais. Será apropriado que uma terceira pessoa detenha os direitos de um ser humano e os comercialize como um activo? Isso seria inaceitável na sociedade e não tem lugar no futebol», começa, para depois falar no risco de atentado à verdade desportiva: «Em segundo lugar, devemos proteger a integridade das competições desportivas. O que acontece quando a mesma empresa ou fundo detém os direitos económicos de muitos jogadores em diferentes equipas? Existe um risco real de conflito de interesses. O perigo de resultados manipulados é algo a que a UEFA tem de estar atenta, agora mais do que nunca.»

A terceira razão que aponta é a instabilidade: «O modelo de negócio dos terceiros detentores baseia-se numa mudança frequente de clubes por parte dos atletas. Sem rodeios, mais transferências significam mais dinheiro para esses proprietários, o que resulta numa instabilidade contratual e, a longo prazo, numa perda de receita a nível desportivo.»

A quarta razão que apresenta é a ameaça que aquele tipo de soluções representa para o equilíbrio desejável entre o que os clubes ganham e o que gastam: «Esta prática colide com a filosofia económica e desportiva do fair play financeiro, assegurando que os clubes vivem pelos próprios meios. Os clubes não devem aceitar investimentos de terceiros para adquirir jogadores que não podem pagar. A longo prazo, isso não é bom nem para o clube nem para o jogador.»

«O Conselho Estratégico para o Futebol Profissional tem este problema em consideração tendo recebido o apoio do Comité Executivo da UEFA, exigindo que a actividade seja proibida por uma questão de princípio. Esta proibição já vigora em alguns países europeus, pelo que agora é tempo de o aplicar à escala da UEFA», insiste Infantino, para depois colocar também a bola nas mãos da FIFA: «Este problema vai para além do nosso continente. Desde que os terceiros proprietários de um jogador apareceram que o fenómeno é global e dado que a FIFA é responsável pela operação do sistema internacional de transferências, pedimos-lhes para que interviessem no sentido de tomar as medidas necessárias para introduzir uma proibição à escala global.»

A FIFA, revela o dirigente, «encomendou um estudo para resolver este problema». Mas, enquanto, não o faz, «a UEFA, juntamente com o Conselho Estratégico para o Futebol Profissional, está pronta a implementar regras adequadas para a supressão desta actividade» nas suas competições.

Por fim, Infantino admite «que possa haver necessidade de um período de adaptação» e diz que «a UEFA seria a favor de medidas transitórias». Essa foi precisamente uma das sugestões apontadas por Fernando Gomes, o presidente da Federação Portuguesa de Futebol, que assumiu recentemente a sua preocupação com o impacto desta proibição no futebol nacional.