O Maisfutebol acompanhou por um dia o plantel treinado por Paulo Fonseca. Espreitámos lugares sagrados e cantos sigilosos. Confirmámos o ambiente de familiaridade profunda, como se estivéssemos em casa. E saímos convencidos de que nada acontece por acaso.
O rigor é uma forma de vida. Equilibrada e saudável. O Pacinhos é disso o melhor exemplo. Durante segunda e terça-feira publicaremos vários artigos resultantes desta visita à Mata Real. Para último ficará a entrevista ao treinador Paulo Fonseca. Longa e surpreendente.
Bem-vindo ao maravilhoso mundo do emblema da Capital do Móvel.
14 horas, quinta-feira. A paisagem austera, fria, da zona industrial de Paços de Ferreira desvanece-se à medida que nos aproximamos do estádio. Na Mata Real somos recebidos com cumprimentos curiosos e sorrisos de quem está habituado a receber bem.
Chegamos antes de quase todos os jogadores. O treino começa só dali a uma hora. Temos tempo de tomar um café no bar do clube, passar os olhos pelos jornais do dia e testemunhar os dias de felicidade incontida no mundo dos castores.
Paulo Gonçalves, mais do que um simples dirigente, é o nosso cicerone. Desdobra-se em cuidados para que nada nos falte, oferece-nos um exemplar do livro que ele próprio escreveu sobre a história do clube. «Isto está a correr muito bem. Vamos lá a ver se é para continuar».
O parque de estacionamento começa a encher. Aproxima-se o senhor Arménio, sócio número 49 e funcionário do clube há 34 anos. Ninguém como ele sabe o que é viver pelo Paços de Ferreira. «A minha casa fica já ali, na parte de trás da bancada». Sim, o senhor Arménio vive mesmo no estádio.
Estamos nisto quando surge Ronny. Sim, o tal da mão em Alvalade. O avançado joga atualmente no CFR Cluj, da Roménia, mas está em Portugal a recuperar de uma intervenção cirúrgica a um joelho. «Quem joga aqui nunca mais esquece o Paços. Vivi aqui momentos incríveis».
O mais brincalhão e o brasileiro silencioso
O treino é, para variar, à tarde. Os jogadores almoçaram em casa e juntam-se apenas para o trabalho. Normalmente é ao contrário. Treino de manhã, descanso vespertino. Paulo Fonseca é o primeiro a chegar ao campo de treinos. Nuno Campos, Pedro Moreira e Pedro Correia, fieis escudeiros, preparam tudo antes da chegada dos atletas.
Há tempo para comentários indiscretos, bem humorados. «O mais brincalhão é Tony, um maluco. Está sempre a aprontar», contam-nos, já dentro do relvado número dois do complexo da Mata Real. Mas há mais.
«O Cássio também é extraordinário. Tem só um defeito. Fala, fala, fala e não sabe quando se calar. Às vezes temos de o deixar sozinho». Gargalhadas, claro. «O mais calado é o Luiz Carlos. Não abre a boca. Custa a acreditar que é brasileiro. E depois há o Josué, um viciado na playstation. Ele é o nosso campeão dos estágios».
Durante o treino chega o presidente. Carlos Barbosa fala connosco e o tema do dia é a anunciada saída de Vítor para o Benfica.
«No futebol tudo muda depressa. Não posso garantir que não vai sair ninguém. Se o Paços fosse inconsciente, contratava dois ou três jogadores e assumia a candidatura terceiro lugar e à Liga dos Campeões», diz-nos o dirigente, ainda sem confirmar a venda.
«Gostava muito de manter toda a equipa, mas este clube depende de receitas extraordinárias». Depois, um desabafo. O Paços de Ferreira cumpre todos os compromissos, mas as ajudas escasseiam. Cada vez mais.
«Estamos muito desiludidos com as forças vivas da cidade. Temos poucos sócios e pouco apoio. Fico feliz que sejamos reconhecidos internacionalmente. A comunidade pacense não dá o devido valor a este clube», lamenta.
«Merecemos mais, muito mais».
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