O ex-candidato presidencial independente e deputado socialista, Manuel Alegre, teceu este sábado críticas demolidoras à reforma dos serviços de saúde, considerando que se trata de um «erro colossal» e de uma política «estapafúrdia» do actual Governo, refere a Lusa.

«As pessoas vão passar a nascer em casa ou a morrer em casa, para além daqueles que já andam a nascer pelo caminho», ironizou, ao abordar numa entrevista à jornalista Flor Pedroso, da Antena 1 - que vai para o ar às 12:00 horas - a desertificação dos serviços públicos no interior.

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Manuel Alegre confirmou que vai assinar uma petição em defesa do Serviço Nacional de Saúde (SNS), liderada pelo histórico do PS, António Arnaut, e que junta, entre outros, elementos do Bloco de Esquerda e do PCP.

«A esquerda moderna deve reforçar o Estado social e não desmantelar o Estado social», declarou, sublinhando que, no poder, esta deveria garantir o reforço e viabilidade do SNS.

«Eu avisei que isto é perigoso»

«Estaria a mentir se dissesse que me reconheço (no actual Governo). Não, não me reconheço», afirmou.

«Parece que é isto que se está a fazer (desmantelar)», disse, acrescentando «não compreender esta política, não só das taxas moderadoras para tratamentos e cirurgias (uma dupla tributação), como a extinção de urgências e de Serviços de Atendimento Permanente e o encerramento de maternidades em zonas do interior, seja qual for a fundamentação técnica».

«Se tiram os serviços públicos do interior, as pessoas sentem-se abandonadas e desprotegidas, não foram criadas alternativas, as coisas não foram explicadas e é tudo feito por atacado», afirmou.

«Eu já avisei que isto é perigoso», salientou, lembrando que até Jerónimo de Sousa foi «levado em ombros» na Anadia.

«Se aparece uma Maria da Fonte, de saias ou de calças, arranja uma fronda popular, e isso pode pôr em causa um certo consenso nacional sobre a própria democracia», sublinhou.

«Mas houve coisas boas que ficam

«Mas houve coisas boas e que ficam», afirmou, destacando a interrupção voluntária da gravidez (IVG), a Lei da Paridade, e a Procriação Médica Assistida.

Alegre destacou também a forma como foi exercida a presidência portuguesa da União europeia, nomeadamente a realização das cimeiras da UE com o Brasil e com África, e a assinatura do Tratado de Lisboa, apesar de ter herdado o trabalho da Alemanha, o que conferiu a Portugal um desempenho global mesmo sendo um país pequeno.

Alegre disse ser favorável ao referendo ao Tratado de Lisboa, mas reconheceu que essa forma de ratificação seria provavelmente «muito difícil».

O deputado socialista realçou a questão do «respeito pela palavra dada» e disse que se houvesse referendo isso teria sido «uma lição para os dirigentes europeus que tem medo de consultar os seus povos».

«Sócrates fez coisas que outros socialistas não foram capazes de fazer», disse referindo-se aos aspectos positivos da acção do governo que mostram «independência» em relação ao conservadorismo da sociedade portuguesa e a uma abertura sobre certos valores da esquerda, só que para Alegre, «a esquerda não acaba aí».