No instante em que Keita - confortavelmente só - atirou por cima com a baliza deserta, percebeu-se que muito dificilmente haveria lugar para o golo neste jogo. As balizas lançaram o seu charme, irresistíveis, piscaram o olho, deixaram mensagens com o número de telemóvel, mas nada. Ninguém se atrevia a fazer um avanço furtivo e eficaz, mortífero. Até que a 15 minutos do fim, numa grande penalidade, a bola beijou as redes e o Vitória atingiu o Sétimo Céu.

Muito a custo, mais por obrigação do que por deleite, os minhotos tocaram a felicidade e seguraram o sexto lugar. Edgar encarregou-se do pontapé decisivo e deu um toque de realismo ao sonho europeu. É suficiente? Para já tem de chegar, mas para que esta relação se solidifique e se torne um compromisso sério é preciso muito mais.

O Vitória, só para começar, tem de perder o medo de estar em casa. De jogar em casa. Ao longo dos 90 minutos pareceu que, mais do que jogar contra o Nacional, o Guimarães estava a jogar contra um trauma.

Alimentou esse complexo com um início horrível - excepção feita ao portentoso pontapé de Paulo Sérgio aos... 11 segundos -, viveu no limbo da incerteza até ao último instante e mostrou um medo de perder incomparavelmente superior ao desejo de conquista. O Vitória temeu ser engolido no flirt com as balizas e o jogo. Foi assediado, ameaçado, mas teve os deuses da bola (e o puxão irreflectido de Danielson no penálti) pelo seu lado.

FICHA DE JOGO E NOTAS

O Nacional, já se percebeu, escusava de ter regressado à Madeira de mãos a abanar e os bolsos vazios. O passaporte europeu continua a ser válido, é um facto, mas um proponente à mão de tã bela donzela não pode falhar tantas vezes.

Além do verdadeiro suicídio de ambição que foi o tal falhanço escandaloso de Keita, a equipa de Caixinha teve mais três ou quatro grandes oportunidades para marcar. Diego Barcellos não teve serenidade no frente a frente com Nilson, Claudemir acertou no poste e a derrota castiga esta esterilidade ofensiva.

Castiga excessivamente? Sim, é provável que sim. Afinal, os madeirenses até apareceram descomplexados, bem solidificados na dupla Moreno-Madrid, com Candeias e Diego Barcellos a mostrarem qualidade em cima da média mas... na hora de mostrar arrojo, de ir até ao fim, o Nacional falhou.

OS DESTAQUES

O Vitória, pese todos os problemas existenciais que vive, sai desta jornada com mais motivos para acreditar que a felicidade existe. Estas bancadas pesam horrores quando as coisas saem mal, ninguém duvida, mas são capazes de pegar na equipa ao colo quando se sentem mimadas e respeitadas.

No imediato, lá está, o golo de Edgar e os três pontos são a melhor terapia para este aconselhamento matrimonial. Um casamento não resiste a tudo, porém.

Haja amor de qualidade.