A fragilidade emocional do Vitória é perturbadora. A felicidade suprema e a depressão incorrigível andam lado a lado. São parceiras no crime, cúmplices cegas. É uma paleta de emoções díspares e gémeas. Paradoxais, portanto. Tão depressa a equipa vence o Benfica, ameaça os lugares da UEFA e apaixona pelo bom futebol, como entra numa espiral de equívocos, é goleada em Alvalade e perde num minuto uma vantagem de dois golos.

O último exemplo aplica-se ao empate desconsolado cedido na receção ao Olhanense. O primeiro tempo revela uma eficácia cirúrgica, de sniper escondido num posto de tiro. Três oportunidades, dois golos, segurança em todos os itens de jogo, o sorriso recuperado e o coração inundado por planos luminosos.

A segunda parte desmascara a versão negra. O Vitória treme, o Vitória sofre, joga como se estivesse de mal com o mundo e encurralado num hospital psiquiátrico. Asfixiado por um colete de forças e dúvidas, a equipa sofre o 2-1 aos 54 minutos e o 2-2 aos 55. Dois erros de concentração, acerto e convicção.

Talvez seja tempo de perceber que a felicidade e a depressão, as tais cúmplices, jamais terão um final feliz. Uma acabará por atraiçoar a outra. Nesta trama, o triângulo relacional envolve um terceiro protagonista: o terrível gangster dos salários em atraso. Quem levará a melhor? A felicidade, essa donzela cândida, ou a depressão, vilã fria e cínica?

FICHA DE JOGO E NOTAS

No imediato, há uma conclusão obrigatória: a derrota em casa do Sporting e este empate eliminam toda e qualquer possibilidade de ver o Vitória entre os cinco primeiros na Liga. A boa entrada em jogo, o golo simples de Urreta e o cabeceamento letal de Rodrigo Defendi, apontavam num determinado sentido. Nada feito.

O Olhanense soube aproveitar os defeitos do adversário e num ápice passou de presa indefesa a predador perigosíssimo. Muito por culpa do atrevimento de Wilson Eduardo, é verdade. O internacional sub-21 ganhou nas alturas e isolou Dady para o primeiro golo do Olhanense. Logo depois assinou ele próprio o empate num extraordinário remate acrobático.

Este avançado é dos bons, não engana e tem condições para ser mais um elemento a lapidar na Academia de Alcochete.

O Olhanense, enfim, foi mais sólido. Resistiu à crueldade dos primeiros 45 minutos, chegou à igualdade num abrir e fechar de olhos, resistiu outra vez quando Cauê foi expulso e aguentou heroicamente o ponto conquistado no Minho.

Jogo AO MINUTO

Os algarvios completaram o quinto jogo sem perder e revelam uma característica interessante: jogam com um ânimo tremendo. Dedo de Sérgio Conceição, por sinal.

Foram capazes, acima de tudo, de controlar sem grandes problemas a baliza de Fabiano no período de maior aperto, passaram a ter Rui Duarte a gerir os ritmos do meio-campo e, lá está, nunca abdicaram de contra-atacar com Wilson e Salvador Agra.

Do Vitória era legítimo esperar mais. É verdade que o clube atravessa tempos complicados, é verdade que os jogadores não estão imunes a isso, mas a partir do momento em que a bola começa a saltar ninguém pode pensar nos cheques que estão por receber.

Rui Vitória tem feito um excelente trabalho, recolocou o clube na metade superior da tabela, e não pode estar satisfeito com a queda abrupta na segunda parte.

Feliz ou em sofrimento, o Guimarães só podia ter vencido este jogo.