Se decidir ler esta crónica e não encontrar referência a lances de perigo do Sporting, não se admire.
Houve muito VITÓRIA, equipa com letras grandes ao longo da temporada 2007/08, no regresso ao seu habitat natural. O espírito conquistador apoderou-se definitivamente da equipa e não parece haver limite para a ambição. O pódio está aí e o Benfica a dois pontos.
Começa a chegar a altura de mudar o ponto de vista de análise. O Sporting perdeu, é facto, não conseguiu disfarçar as insuficiências físicas e limitações do plantel, mas estes homens de Cajuda merecem que a análise parta deles, do que fizeram para merecer um triunfo inquestionável (2-0).
Mexer na fórmula para o sucesso
O V. Guimarães procurava aproveitar nova oportunidade para assumir-se como real candidato a um lugar no pódio da Liga. À 17ª jornada, na recepção ao Benfica, o cenário apresentava semelhanças com o actual mas a resposta deixou interrogações no ar. Derrota final numa demonstração cinzenta da equipa, com Manuel Cajuda a admitir que, porventura, a manta já não tinha mais por onde esticar.
Cinco semanas depois, o Estádio D. Afonso Henriques voltou a abrir portas para a recepção a um «grande». Nova oportunidade, ambições renovadas e, desta feita, uma resposta capaz às exigências de um encontro desta dimensão. O técnico vitoriano mexeu numa fórmula praticamente imutável até então e foi extremamente feliz.
Com o recuo de Desmarets, o Vitória passou de um 4x2x3x1 para o 4x3x3 puro, garantindo o necessário equilíbrio de forças no sector intermediário, zona nevrálgica para definir o rumo do encontro.
Paulo Bento tinha a sua equipa presa por arames, face ao cansaço acumulada, e provocara criar todo o tipo de soluções para combater uma realidade cinzenta. A equipa viajara para o Norte de avião, depois da deslocação a Bolton, e elementos como Miguel Veloso e Tiuí recebiam ordem de descanso apesar da importância capital da partida.
Planos furados para o Sporting. Os leões entraram bem, provocaram temor no V. Guimarães mas cedo caíram numa espiral de problemas. Purovic não resistiu a um choque com Nilson e queimou-se uma substituição em sete minutos (Vukcevic ainda assustou pouco depois, mas viria a recuperar). À frente da defesa, o jovem Adrien não conseguir aproveitar a segunda oportunidade como titular e tremia, começando por aí o desaire do Sporting.
Sereno para despertar a alma
O trio intermediário do V. Guimarães encaixava em Moutinho, Romagnoli e Izmailov, deixando espaço para Adrien Silva pegar no jogo, algo que raramente aconteceu. Após um par de perdas de bola, o médio defensivo encolheu-se e desapareceu do jogo. Lá atrás, o Sporting também ia denotando nervosismo, com Grimi a sentir dificuldades para travar Alan. Miljan não correspondia às sucessivas solicitações, mas Sereno viria dar uma lição de eficácia.
Perto do intervalo, na sequência de um livre, a alma vitoriana sentiu-se conquistadora. Livre de João Alves, alívio ineficaz de Rui Patrício e recarga providencial de Sereno, nome apropriado para explicar o segredo local. Serenidade e clarividência em busca do sonho, perante um adversário que só conseguia vislumbrar um deserto de ideias.
Paulo Bento olhava para o banco de suplentes e suspirava por Liedson. Nem um vestígio atacante entre o leque de opções, sobrando Miguel Veloso e Pereirinha para refrescar uma equipa sedenta de soluções. Sem sucesso.
Lucílio Baptista concedeu uma grande penalidade ao V. Guimarães numa carga de Grimi que começou fora da área, justificando-se a expulsão do lateral argentino. Rui Patrício compensou a falha no golo e defendeu o castigo máximo, mas só conseguiu esconder a cereja em cima do bolo por alguns minutos, pois Fajardo viria a descobrir o caminho para a tranquilidade em cima do minuto 90. Nada mais justo.