Décima presença na final da Taça de Portugal, segunda consecutiva, com treinador diferente, equipa distinta, menos futebol, mas a mesma paixão. O V. Setúbal sofre mais do que na época passada para conseguir os seus objectivos, mas não terá sido assim desde o início?
Por mais impossível que possa parecer a equipa de Norton de Matos e Hélio já conseguiu mais do que a de José Couceiro e José Rachão. No início da época já não podia contar com Jorginho, Manuel José, Hugo Alcântara, Meyong, Zé Rui, Sandro..., mas, mesmo assim, teimava em surpreender vencendo jogos. Foi uma das menos batidas da Europa, vendeu Moretto para o Benfica, mas continuou de cabeça levantada.
O futebol da equipa de Norton de Matos nunca foi espectacular. Muito longe disso. O aspecto defensivo foi sempre mais importante. Ganhar por poucos e por poucos perder foi sempre o lema. Com riscos controlados e muitos ganhos.
Mas a maior dificuldade nem veio do campo. Veio da organização. Os salários em atraso, os pré-avisos de greve e rescisão colectiva, a instabilidade directiva, o clube todos os dias falado nos jornais pelas piores razões. Mesmo assim a equipa teimava em fazer dentro de campo aquilo que poucas faziam com condições.
Por isso se pode dizer que esta equipa já fez mais do que a do ano passado, com todo aquele futebol espectacular. Sobreviveu às dificuldades financeiras, uniu-se à volta do objectivo colectivo, sofreu golpes com rescisões e vendas de jogadores importantes, mas manteve-se intacta. Apoiou a chegada de um homem da casa (Hélio), e continuou a olhar em frente. A chegada à final da Taça de Portugal é um prémio, já de si uma vitória (e daí a hipótese de voltar à Europa de todos os sonhos), é uma demonstração de como nem sempre o dinheiro interessa a quem joga o futebol dentro das quatro linhas. Basta querer. E por vezes isso faz toda a diferença.