A razão antes do coração. Foi esse um dos motivos que levou Vitor Oliveira a despedir-se do seu clube de sempre. Em entrevista ao Maisfutebol e ao Rádio Clube Português o experiente treinador explicou porque decidiu não continuar no Estádio do Mar e ainda traçou um breve perfil sobre Carlos Brito, o seu sucessor.
Nesta altura há uma questão que quase todos os leixonenses lhe gostariam de fazer. Porque é que decidiu não permanecer no comando técnico do Leixões?
Há razões estruturais, a ver com organização e logística, que me levaram a não continuar. Para além disso, há razões pessoais importantes. Este ano e meio foi muito bom, o Leixões andou quase sempre nos três primeiros lugares, ganhou muitas vezes, teve períodos excelentes e penso que era preciso mudar para as pessoas sentirem que nem tudo eram rosas. Há situações no Leixões que urge alterar. Isto é um alerta. Além disso, todos sabem que não é fácil ser treinador do clube da terra e muito menos em Matosinhos, dado que a paixão pelo clube é enorme.
Entre essas razões estruturais de que fala, estará incluída uma aproximação mais ou menos evidente ao F.C. Porto?
Não, não está. O Leixões terá obrigatoriamente que ter uma boa relação com o F.C. Porto e poderá tirar bons dividendos daí. Mas é evidente que não se pode confundir isso com subserviência. E é isso que se comenta em Matosinhos. Mas não acredito que isso possa acontecer. Um bom entendimento é importante. Tudo o que passar disso será negativo quer para o Leixões quer para o F.C. Porto.
A sua opção pela saída criou uma onda de desilusão nos adeptos do Leixões. Já sentiu isso no seu dia a dia em Matosinhos?
Não. Por paradoxal que pareça, tenho recebido por parte das pessoas ¿ e algumas são mesmo referências do concelho ¿ mensagens de apoio à minha decisão. Há duas formas de analisar isto. Através do coração ou da razão. No final do jogo com o Chaves, na última jornada, toda aquela gente falava com o coração, mas a razão acabou por prevalecer. Aliás, já tinha comunicado ao presidente a minha decisão há longo tempo. Mas as pessoas conhecem o clube e por isso entendem que a minha decisão foi a mais correcta.
Curiosamente, há 19 anos o João Alves subiu o Leixões e também não ficou para a temporada seguinte¿
Mas por razões distintas da minha. Ele ainda esteve a formar o plantel, mas depois houve alguns desacordos com a direcção e acabou por sair, dando lugar ao António Morais. No meu caso a decisão estava tomada há longo tempo mas decidimos, eu e o presidente, só comunicá-la no fim da época. Penso que agora as razões para a saída foram mais profundas do que há 19 anos.
Foi mais complicado aceitar o convite para treinar o Leixões ou tomar a decisão de abandoná-lo após uma época de sucessos?
Foi mais complicado aceitar o convite para treinar o meu clube do coração, sem qualquer dúvida. Aliás, antes de eu ser convidado, a direcção pediu-me para falar com alguns treinadores, na tentativa de os trazer para cá. Mas eles resolveram não aceitar, por o Leixões não estar numa situação muito cómoda. Fui, então, colocado entre a espada e a paredes e aceitei. Agora a decisão de sair foi uma decisão fácil. Nunca desejei treinar o Leixões.
E como definiria o seu sucessor no Leixões, o Carlos Brito?
É um treinador que merece todo o meu apoio como técnico do Leixões. As equipas dele praticam bom futebol e os resultados apresentados também são positivos.
E enquanto associado defende a construção de um novo estádio na zona de Matosinhos/sul ou da recuperação do velhinho Estádio do Mar?

Na minha opinião remodelar o Mar ficaria tão custoso como fazer um recinto novo. A zona de Matosinhos/sul está em franco desenvolvimento, facilmente valorizável e proporcionaria melhores acessos e condições. Poder-se-ia com alguma facilidade fazer um estádio com 14 mil lugares, até porque o Leixões não precisa de mais. Sou apologista de um estádio novo.