Os campeonatos portugueses têm poucos jogadores de grande qualidade. É essa a opinião de Vitor Oliveira, ex-treinador do Leixões, que em entrevista ao Maisfutebol e ao Rádio Clube Português deixou bem clara qual a receita para o seu sucesso. É este homem que possui o recorde europeu nas subidas de equipas da II à I divisão.
Já perdeu a conta aos clubes que fez subir de divisão?
Não, não é uma contabilidade difícil. Subi por cinco vezes clubes da segunda divisão ao escalão máximo do nosso futebol. Tive conhecimento, aliás, através do jornal Público que é um recorde na Europa. São coisas que não se esquecem facilmente.
E qual é o segredo para esse sucesso contínuo?
O segredo disto tem a ver com quatro aspectos. Primeiro, possuir bons jogadores. Isso é o fundamental. Depois, uma boa ligação entre a equipa técnica e a direcção, como ocorreu no Leixões. O terceiro aspecto prende-se com o apoio dado pela massa associativa. É ela que pode dar o empurrão decisivo nos momentos cruciais de cada temporada. E o Leixões é um exemplo perfeito disso. Depois de 18 anos na II B e na Honra, os seguidores deste clube continuam com a mesma paixão e com a mesma força em todos os campos deste país. Finalmente, parece-me que podemos falar no mérito do próprio treinador. Uma equipa que conseguir juntar todos estes elementos estará sempre mais perto da vitória.
Para construir uma equipa que lute pela subida divisão é necessário ter atletas diferentes daqueles que precisa, por exemplo, para garantir a manutenção na I Liga?
Terão que ser substancialmente diferentes, é verdade. Há posições específicas que são muito importantes, cuja necessidade é diferente se estivermos na Liga Bwin ou na Liga Vitalis. Acredito, até, que uma equipa que suba de divisão e não seja substancialmente alterada irá ter muitas dificuldades em manter-se na Liga Bwin.
A Liga Vitalis é uma liga compatível com o bom futebol?
O futebol de grande qualidade só é possível se existirem grandes jogadores. Neste escalão prolifera o futebol atlético, a incerteza permanente no resultado e o grande equilíbrio na qualidade dos plantéis. A entrega dos atletas é total, há mutações tácticas interessantes e isto não sucede na primeira Liga, onde há menos equilíbrio e tacticamente é mais simples perceber como cada equipa joga. Não há grandes jogadores na Liga Vitalis, como não há na Liga Bwin, de resto. Nos nossos campeonatos teremos meia-dúzia de jogadores de grande qualidade e para o ano teremos menos, com a saída do Nani e do Anderson.
O Leixões tem, hoje em dia, condições para chegar à Liga Bwin e por lá ficar durante várias temporadas?
Tem, acredito que tem. Penso, até, que se isso acontecer vai ser muito importante para o nosso futebol. O Leixões vai trazer mais pessoas e mais alegria, tanto no Estádio do Mar como nos jogos fora. Mas é verdade que o clube precisa de melhorar em alguns aspectos. Nas suas infra-estruturas para treino, nas acessibilidades e nas condições para os órgãos de comunicação social. Em termos desportivos, parece-me que o Leixões vai manter a sua espinha-dorsal, o que é excelente, mas terá que se reforçar com sete/oito jogadores. Tudo isso está a ser tratado com cuidado.