Fundamental na conquista do terceiro campeonato consecutivo do FC Porto e figura maior para o Maisfutebol no ano de 2013, Vítor Pereira é o nosso convidado especial para a projeção do ano desportivo de 2014.

A partir de Jeddah, na Arábia Saudita, o treinador bicampeão olha com incontida paixão o Mundial de 2014, regressa por instantes à meninice através das memórias mais entranhadas na saudade, fala sobre a Liga dos Campeões e disseca a liga portuguesa.

Vítor Pereira tinha «só dez anos» quando Mário Kempes lhe entrou pela casa adentro. Desse Mundial da Argentina, em 78, guarda «o futebol maravilhoso e os relvados cobertos de papelitos» lançados pelos emocionais hinchas.

«A Argentina tinha Kempes, sim, e foi campeã do mundo. Mas não me esqueço que foi a partir daí que me apaixonei também pelo futebol da Holanda», recorda o atual treinador do Al Ahli.



Johan Cruyff já não estava nessa sucedânea da laranja mecânica de Rinus Michels, mas Neeskens, Rep e Rensenbrink eram «herdeiros de altíssimo nível».

Quatro anos depois, em 1982, o reacender de um sentimento feérico. O adolescente Vítor conheceu o Brasil de «Sócrates, Zico e Falcão».

«Jamais esquecerei a derrota dessa equipa de sonho frente à Itália [3-2, 5 de julho]. Acabei em lágrimas, marcou-me muito. Esse escrete fez-me abraçar ainda mais o futebol», recorda o ex-treinador do FC Porto, personalidade especial do ano que agora finda.

O passado, «a coisa mais imprevisível do mundo», nas palavras de George Orwell, fica por aqui. Vamos com Vítor Pereira direitinhos até 2014. Na primeira pessoa, previsões e desejos de um técnico vencedor.

Campeonato do Mundo no Brasil

OS FAVORITOS:
. «Olho para a Espanha e identifico um estilo triunfador, recheado de troféus e qualidade. É uma seleção experiente e tem de estar neste lote. A Alemanha é forte e consistente, soube regenerar-se. É uma das seleções mais fortes e com qualidade para conquistar o torneio. Finalmente, escolho o Brasil. Por jogar em casa, claro, mas também pelo trabalho que o Scolari tem vindo a fazer, já com frutos recolhidos na Taça das Confederações.

PORTUGAL:
. «A prova é curta e começar bem é quase decisivo. É muito importante. Não só em termos pontuais, mas pela energia positiva que gera na própria equipa».

. «Devemos estar confiantes, pois a seleção que temos permite-nos sonhar. Não podemos é ter excessos. Isso pode ser fatal e basta olhar com atenção para os três adversários da primeira fase. O Paulo Bento vai preparar bem a equipa, como costuma fazer».

. «Não vale a pena esconder. Cristiano Ronaldo é fundamental. Num torneio curto, com um máximo de sete jogos, ter um catalisador desta dimensão é uma feliz mais-valia. O Cristiano tem apresentado um nível extraordinário, leva toda a equipa atrás de si, cria espaços, desequilibra. Enfim, faz tudo e faz tudo bem».

. «Destaco também o João Moutinho, que tão bem conheço. Faz passes maravilhosos, vê o que muitos não conseguem ver e depois tem a qualidade para executar bem. Tem sempre a solução mais ajustada para cada momento. É um médio fantástico».

ADVERSÁRIOS DE PORTUGAL:
. «A Alemanha é poderosíssima e temos de ter consciência disso. Individual e coletivamente tem soluções ótimas para todos os problemas. O selecionado Joaquim Low está há muitos anos no cargo, desde 2006, e exerce uma influência muito positiva sobre os jogadores».

. «Contra o Gana, uma seleção imprevisível, Portugal tem de conseguir o controlo da bola. A nossa seleção não pode permitir que o jogo se parta. Se isso suceder, o adversário terá o que mais gosta: espaço para fazer a transição ofensiva com rapidez. O Gana tem jogadores robustos e tecnicamente habilitados. É um conjunto complicado».

. «Os Estados Unidos serão, creio, um oponente de nível inferior. É o outsider do grupo, mas uma equipa bem organizada pelo Jurgen Klinsmann. Já tem vários jogadores a atuar na Europa [Dempsey, Bradley...] e a evolução é óbvia».

A SELEÇÃO SURPRESA:
. «Sempre que vejo a Colômbia a jogar fico espantado com a quantidade de bons jogadores que possui. Mas às vezes, apesar desta qualidade, surgem resultados estranhos. É essa oscilação que me faz ter algumas dúvidas naquilo que pode fazer no Mundial».

. «O país é um viveiro incrível de talentos. Normalmente saem muito cedo do país e adquirem na Europa os ensinamentos mais relacionados com questões táticas e físicas. Insisto: a Colômbia tem qualidade para surpreender muita gente».

Liga dos Campeões
. «Já há muitos anos que adoro a ideia de futebol do Pep Guardiola. É um treinador que honra o jogo e, ao mesmo tempo, apresenta coisas novas e vai até ao fim por elas. Por tudo isto, mas não só, acredito que o Bayern Munique é o mais sério candidato a levar a Liga dos Campeões em 2014».

Liga portuguesa
. «O campeonato está muito engraçado, muito interessante. O Sporting consegue finalmente ombrear com Porto e Benfica. A liga era bicéfala e deixou de o ser».

. «O Sporting é uma equipa jovem e tem mostrado muito mérito na forma como se está a intrometer na luta pelo título. Mas é preciso que em Alvalade todos tenham consciência que tudo se decidira no último terço da Liga. Aí sim, a pressão asfixia, um empate pode ser fatal e é obrigatório mostrar maturidade tática e competitiva. Gerir a tensão nos jogos contra os mais pequenos, ter paciência diante de blocos fechados, aguentar os relvados menos bons. Tudo isso é imperativo numa equipa com desejo de ser campeã».

. «Os próximos oito/dez jogos darão muita informação sobre cada um dos candidatos. Nesta altura seria precipitado apontar este ou aquele como candidato, até porque todos os maiores clubes têm perdido alguns pontos».

Mercado de transferências de janeiro:
. «Ou as coisas estão más e os reforços chegam para abanar, ou as coisas estão bem e só faz sentido contratar algum elemento de indiscutível valor. Nesta fase da temporada, caras novas apenas as de inegável qualidade. Fazer apostas duvidosas só cria problemas, não soluciona nada».

. «Mais importante, talvez, é que Benfica, Sporting e Porto consigam segurar os seus principais valores. Veja-se no FC Porto, por exemplo, os casos de Fernando e Jackson. A verdade é só uma: se algum deles sair, é impossível fazer uma substituição imediata de igual qualidade».