Longe vão os dias de paz em Pina Manique. Em pouco mais de um ano, a vida de Zeca mudou radicalmente. Fez as malas, pôs-se ao caminho, passou uma temporada por Setúbal e já reservou casa em Atenas. A história do menino da Casa Pia, por ser incomum, justifica um olhar encantado. E atento. O Panathinaikos é a próxima paragem desta epopeia de superação.

«O que me está a acontecer é fenomenal», diz Zeca ao Maisfutebol, minutos antes do embarque para Atenas, a problemática Atenas. O avião é o passe para uma nova realidade, um novo mundo, um universo quase paralelo. «Nunca pensei chegar tão rápido a esta dimensão. É como diz a minha mãe: as coisas acontecem quando têm de acontecer, sem aviso

Jesualdo Ferreira é o grão-mestre na nova ordem estabelecida na carreira de Zeca. O antigo treinador do F.C. Porto merece «o maior respeito» ao pupilo resgatado nas águas mais turbulentas que azuis do Sado. «Ainda não falei com ele. É um homem experiente, habituado às vitórias, rigoroso e sei que me vai ensinar muito. Estou ansioso por conhecê-lo.»

«Nos grandes de Portugal ia jogar poucas vezes»

Um ano na primeira divisão, aparições convincentes, relatórios prometedores e o salto inimaginável. Isto tudo perante a postura desinteressada dos maiores de Portugal. «Não sinto mágoa por não ter sido chamado para o Porto, Benfica ou Sporting», assegura Zeca. «Em Portugal aposta-se pouco nos valores do país e se calhar não ia ter hipóteses de jogar muitas vezes. Foi melhor assim.»

Zeca: o Casa Pia, uma provocação e os 2,5 euros nas tardes a apanha-bolas

A Grécia vive uma época turbulenta, no limiar do precipício. As principais avenidas da ilustre Atenas servem de campo de batalha, uma ode irónica aos combates ancestrais no mais velho dos impérios civilizacionais. Zeca não vai ser apanhado de surpresa. Informou-se sobre tudo, tentou perceber o que o espera e confia na estabilização do país.

«As pessoas passam por dificuldades, mas acredito que tudo vai melhorar. Vou concentrar-me no futebol, em ser campeão nacional e estou com mais vontade do que medo. Sempre adorei conhecer culturas diferentes e esta é uma excelente oportunidade para isso.»

«A Selecção Nacional para já é só um sonho»

A Casa Pia, douta formadora, fica para trás. Entregue ao resguardo da memória. O Vitória de Setúbal também. Zeca carrega as sensações e aponta a novos objectivos. A Selecção Nacional, por exemplo, passa a estar mais perto, embora haja tempo para lá chegar.

«Para já ainda é um sonho. Talvez seja precoce dizer que vou lá chegar. O importante é trabalhar bem no Panathinaikos, ganhar confiança, somar minutos, jogar na Liga dos Campeões e conquistar o título. Sei do que sou capaz e vai ser óptimo.»

Em Atenas Zeca vai ter os bem conhecidos Karagounis e Katsouranis a seu lado, além de Jesualdo Ferreira, José Gomes e Nuno Espírito Santo, os três portugueses da equipa técnica. O Panathinaikos foi apenas duas vezes campeão nacional nos últimos 15 anos. Acabar com a ditadura do Olympiakos é objectivo-mor. Aí está um belo desafio.