A vitória do Benfica em Londres assentou, em primeiro lugar, na tremenda eficácia ofensiva. Esta é uma conclusão empírica, mas reforçada pelos números: os dados recolhidos pelo  Centro de Estudos de Futebol da Universidade Lusófona para o Maisfutebol ajudam a perceber por onde passou a quase total superioridade encarnada no jogo de White Hart Lane.

A equipa de Jorge Jesus ganhou vantagem no primeiro (e único) remate à baliza em toda a primeira parte. Este «único» não se refere apenas à equipa portuguesa porque, além da vivacidade encarnada nas saídas rápidas em contra-ataque, a outra nota de destaque do primeiro tempo vai para a quase total ausência de trabalho dos guarda-redes: a única tentativa do Tottenham até ao intervalo saiu dos pés de Sandro (16 minutos) e passou longe da baliza de Oblak, que só teve de intervir em duas ou três saídas.

A segunda parte conta uma história diferente, mas não muito: o Benfica marcou dois golos nos cinco primeiros remates, e foi já depois do 3-1 que a eficácia baixou, com Gaitán e Siqueira a esbarrarem na oposição de Lloris. Do lado do Tottenham, quatro remates no segundo tempo, com um a resultar em golo, dois em defesas de Oblak e outro para fora. No somatório, o Benfica marcou três golos em oito tentativas, obrigou Lloris a quatro defesas e só por uma vez atirou para fora.

Outra nota a sublinhar a eficácia ofensiva dos encarnados, o facto de terem aproveitado bem as três situações de bola parada de que dispuseram: um golo de canto, em que Luisão apareceu a cabecear ao primeiro poste, sem marcação, e ainda um outro, de recarga, na sequência de um livre lateral que a defesa do Tottenham não conseguiu resolver. Do outro lado, o Tottenham dispôs de nove situações de bola parada ofensiva, das quais só uma resultou em golo: o livre direto de Eriksen. Boa nota, portanto, para as ações defensivas do Benfica neste particular – que em dada fase da temporada chegou a ser um calcanhar de Aquiles na equipa de Jorge Jesus.

Benfica chegou mais facilmente à área

No que se refere às dinâmicas de jogo, a análise das recuperações de bola permite perceber dois sintomas claros da superioridade do Benfica: a equipa encarnada recuperou sempre mais bolas na sua zona ofensiva (o que equivale a dizer que o Tottenham se mostrava frágil nas imediações da sua área) e, em especial na primeira parte, conseguiu chegar com facilidade à zona defensiva dos ingleses: foi já perto da área de Lloris, ou dentro dela, que o Tottenham conseguiu anular quase metade (48%) dos ataques encarnados do primeiro tempo. Por sua vez, o Benfica só precisou de recuperar 26% dos ataques ingleses nas imediações da área de Oblak: 41% por cento «morriam» mais à frente, na zona de ação de Fejsa e Rúben Amorim, determinantes para quebrar o ímpeto inicial dos ingleses.

Depois do intervalo, com o Benfica em vantagem, a tendência do jogo mudou um pouco: as recuperações encarnadas começaram a fazer-se mais atrás, com os desequilíbrios posicionais do Tottenham a serem explorados em transições rápidas, que por vezes geravam situação de igualdade, ou até vantagem numérica. E, tal como na primeira parte, os ingleses continuaram a perder a bola perto da sua área com mais frequência, o que ajudava também a reforçar a confiança dos homens de Jorge Jesus.

No geral, num jogo em que o número de faltas foi equilibrado (13-15), o Tottenham teve algum ascendente na posse de bola (55 contra 45%), fez mais passes (499-419), mas conseguiu apenas metade dos remates do Benfica. E, principalmente, cometeu erros de posicionamento defensivo que se revelaram fatais nos dois aspectos em que a equipa de Jorge Jesus conseguiu materializar a superioridade de forma mais evidente: as transições rápidas após recuperação e as bolas paradas.