O treinador português e o milionário russo deixaram morrer uma relação que começou por ser de profunda admiração. Pareciam feitos um para o outro. Seguramente não viveriam felizes para sempre, mas ninguém tinha dúvidas de que a parceria servia a ambos.
A competência de Mourinho ofereceu ao Chelsea dois campeonatos ingleses e uma dimensão mundial. Além dos títulos, Mourinho somou fama, alguma glória, acentuou a reputação de treinador que defende ideias e estratégias. Nem que para isso alguém tenha de ficar pelo caminho.
Como dizia esta tarde um adepto do Chelsea, em Stamford Bridge já não havia lugar para dois egos. Alguém tinha de sair e nestas coisas Mourinho acaba por não ser diferente de todos os outros: saiu o treinador.
Mas ao contrário do que é habitual, no dia em que partiu algumas dezenas de adeptos disseram publicamente que estão ao lado do treinador. É verdade que a forma de jogar do Chelsea tinha pouco de inglesa. Para sermos justos, o treinador português acelerou a «continentalização» do futebol britânico, tornando-o menos arriscado e entusiasmante. E contagiou toda a gente, a começar pelo Manchester United e a terminar no Liverpool.
A exacta importância de Mourinho na história de um clube médio de Londres que de repente se tornou famoso será determinada pelos próximos capítulos. E nesse ponto Abramovich já está a «ajudar» o português, ao nomear um amigo israelita sem currículo como sucessor.
Para Mourinho, sair agora de um casamento que já nem era de conveniência é a melhor solução. Ainda por cima sai rico e sem a carga negativa de ter falhado. A época está a começar e tudo podia realmente acontecer em Stamford Bridge. Apesar das últimas exibições e resultados terem sido cinzentos.
Para Abramovich a pressão aumenta. Sem alguém carismático no banco, agora todos os olhos se voltam para a tribuna. Se ainda não sabe, o russo pode estar prestes a perceber que nem tudo se resolve com dinheiro. Pelo menos no futebol.
Quanto a José Mourinho, depois de umas semanas a descansar começará a pensar no próximo passo. Até hoje soube sempre escolher. E nada nos autoriza a pensar que a partir daqui será diferente. É bom que o mundo aprenda a dizer «special one» em outra língua. Porque vai ser preciso.
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