Não houve milagre em Atenas: mesmo cumprindo a sua parte do acordo, ao impor a primeira derrota ao PSG, o Benfica sai de cena na Liga dos Campeões. Cedo de mais? Apetece responder que sim, olhando para as hierarquias relativas do grupo C e para as oportunidades desperdiçadas pela equipa de Jorge Jesus nos dois jogos com o Olympiakos. Mas uma equipa que não vence qualquer jogo perante o adversário mais direto põe-se a jeito. Mesmo atingindo a barreira dos dez pontos – que, pela primeira vez no historial das participações portuguesas na Champions, não chega para garantir a passagem.

A vitória sobre o PSG – que volta a perder em Portugal, depois da derrota com o FC Porto, há um ano – começou a desenhar-se num clima estranho, ainda marcado pelo desastre de sexta-feira com o Arouca. A escassa presença de público – outra vez menos de meia casa, o que começa a ser hábito – e o «voto de silêncio» das claques na meia hora inicial obrigaram a equipa a fazer pela vida numa das noites europeias mais frias na era de Jorge Jesus.

Com Fejsa no meio-campo, permitindo adiantar Matic e Enzo, e com Sílvio a dar forte dinâmica ao corredor esquerdo, o Benfica teve um início interessante. Frente a um PSG muito desfalcado, e que tinha um estreante absoluto no lateral direito Traoré, foi pela esquerda que os encarnados costruíram a maior parte dos ataques.

O guarda-redes Sirigu começou cedo a mostrar serviço (remates de Enzo, aos 5 minutos e de Sílvio, aos 7), antes de uma transição rápida concluída por Menez obrigar Artur a mostrar atenção. A falta de algumas peças habituais e o apuramento já no bolso permitia, entretanto, que o PSG mostrasse alguma ligeireza na discussão a meio-campo e na recuperação defensiva.

Saviola lá e outro canto cá

Eram as chaves que pareciam inclinar o jogo a favor do Benfica, tanto mais que passado o protesto na meia hora inicial já era possível ouvir o público e o ambiente já era mais parecido com o de uma noite europeia clássica. Mas, em três minutos, uma dupla má notícia voltou a arrefecer o estádio da Luz: primeiro, a do golo de Saviola que punha o Olympiakos em vantagem sobre o Anderlecht, deixando os gregos numa inacessível situação de apuramento.

Pior, logo a seguir, foi a chegada de outra notícia bem conhecida: a da fragilidade defensiva na sequência de cantos. Da primeira vez que o PSG conquistou um, a defesa encarnada demorou a afastar o perigo e permitiu uma segunda vaga, conduzida por Pastore. Menez, em posição suspeita, recebeu na direita, tocou para o meio, e Cavani encostou para o 0-1 (37 minutos): em jogo e meio, era o terceiro golo marcado pelos franceses ao Benfica a partir de cantos mal resolvidos.

Frio e desajustado a um jogo em que, valha a verdade, o PSG nunca pareceu querer mergulhar mais do que o estritamente necessário, o golo mereceu uma reação interessante do Benfica, que seis minutos mais tarde conquistou um penálti. O lance foi fruto da dinâmica de Sílvio e também da inexperiência do tal estreante Traoré, que abalroou o lateral encarnado de forma tão ostensiva que só faltou fazer sinais de luzes para o árbitro. Lima não tremeu, e o empate reconquistado, em cima do intervalo, dava ao jogo um segundo fôlego de interesse, tanto mais que de Atenas vinham notícias de um surpreendente empate conseguido pelos belgas.

A dinâmica dos laterais

A um golo da passagem – desde que se mantivesse o empate na Grécia – o Benfica entrou a todo o gás no segundo tempo e demorou 14 minutos a virar o marcador, graças a uma pressão muito alta, a recuperar muitas bolas nas imediações da área do PSG. Por essa altura, já Maxi Pereira concorria com Sílvio na exuberância do apoio ofensivo dos laterais. E foi do uruguaio, na sequência de uma curiosa troca de papéis com Markovic, que nasceu o lance do 2-1: o sérvio recuperou a bola na área encarnada e lançou Maxi que, após uma tabela com Enzo, fez o cruzamento atrasado. Travada por Camara, a bola foi na direção de Gaitán, que bateu Sirigu.

Mas a euforia nunca chegou a instalar-se na Luz, porque, na mesma altura, o Olympiakos voltava a pôr-se em vantagem. Com um Anderlecht em inferioridade numérica eram quase nulas as esperanças de que os dois resultados necessários se conjugassem. E, também por isso, à medida que o jogo se foi tornando menos fluido e mais confuso, o Benfica passou a ter como única prioridade segurar uma vitória que lhe permite, pelo menos, fazer parcialmente as pazes com os adeptos.

E quando o instável Markovic, tão imprevisível como a sua equipa ao longo desta temporada, teve de ser substituído com uma lesão aparentemente complicada (69 minutos), qualquer vestígio de alegria e entusiasmo deixou de vez o relvado da Luz, transformando os minutos finais - com Cavaleiro e Sulejmani como aceleras de serviço - numa obrigação cumprida com a dignidade possível pelas duas equipas.