Ponto prévio: Enzo Fernández não é, obviamente, uma das grandes figuras da história do Benfica.

Posto isto, é justo dizer que o médio argentino que agora pertence ao Chelsea marcou muito do que foi o futebol das águias nos últimos seis meses. E esse futebol, também é justo dizer, foi do melhor que se viu nos últimos anos da Luz.

Enzo já saiu, mas depois da amostra deste sábado – à imagem do que já havia acontecido em Arouca – esse tal futebol da equipa de Roger Schmidt está saudável, e recomenda-se.

Mobilidade e paciência, a receita para os gansos

Esta tarde/noite, o Benfica recebeu e venceu o Casa Pia, sensação da Liga que tinha obrigado os encarnados a trabalhos forçados na primeira volta. Três pontos mais na luta pelo título e liderança reforçada, num dia especial, marcado pelo adeus de André Almeida.

FILME E FICHA DE JOGO.

E este triunfo tem um nome acima de todos os outros: de João Mário.

Mas já lá vamos.

Ainda privado de Gonçalo Ramos, Schmidt optou por um ataque mais móvel, com Gonçalo Gudes solto na frente, apoiado pelo trio João Mário, Neres e Aursnes. No miolo, Chiquinho ocupou o lugar que durante largos meses pertenceu e Enzo. O que não é novidade, diga-se.

No Casa Pia, Filipe Martins optou por reforçar o meio-campo, com Baró a juntar-se a Taira e Cuca. O ataque ficou entregue a Rafael Martins e Godwin. O respeito pelo líder do campeonato talvez tenha falado mais alto.

E essa mobilidade, refira-se, beneficiou o Benfica. Isso e paciência.

Numa das mais autoritárias primeiras partes desta época, a águia não deu qualquer hipótese ao adversário. Reação ótima à perda da bola, circulação boa e agitação q.b. A faltar, no entanto, ficou mais acutilância na hora de alvejar a baliza contrária.

Porque por vezes, note-se, este Benfica parece querer pegar na bola e levá-la até ao interior da baliza. Ricardo Batista e essa tal timidez foram adiando o 1-0, mas eventualmente a resistência do Casa Pia foi quebrada.

João Mário: um antes e depois de Schmidt

E é aí que entra João Mário.

O jogador de 30 anos chegou à Luz em 2021, depois de uma grande temporada no Sporting. Ainda assim, longe de convencer os adeptos leoninos. Mais tarde, diga-se, e principalmente desde a saída de Jorge Jesus, também não convenceu propriamente a massa associativa encarnada.

Mas com Roger Schmidt tudo mudou. O internacional avançou uns metros no terreno, ganhou outra liberdade e voltou a ser o futebolista que em 2016 custou 40 milhões de euros ao Inter.

Mais do que isso, foi com Schmidt que João Mário atingiu outra dimensão: a dos golos.

Em Arouca, o médio já havia bisado e com isso chegou aos 14 golos na época, registo que superava as seis temporadas anteriores da sua carreira.

Esta tarde, João Mário repetiu a dose e chegou aos 16 golos, cinco deles apontados nos últimos três jogos – já tinha marcado também em Paços de Ferreira.

E esta noite, o número 20 das águias traduziu em golos, aos 35 e 43 minutos (duas jogadas de alto nível, refira-se), uma primeira parte do Benfica que havia sido irrepreensível a quase todos os níveis, frente ao quinto classificado da Liga.

O tal João Mário depois de Schmidt.

Teste sensação superado

Na segunda parte, Filipe Martins, técnico dos gansos, lançou Yuki Soma e Clayton, numa clara tentativa de mostrar outra cara, mais ofensiva. Mas o carrossel da Luz já estava montado.

O Benfica continuou a jogar como quis e onde quis, sem permitir qualquer tentativa de reação ao adversário. O problema voltou a ser o mesmo: aqui a ali, a águia é demasiado tímida a rematar à baliza.

Ainda assim, deu para chegar ao 3-0. Alexander Bah, após uma correria desenfreada durante largos metros, rematou de pé esquerdo para estrear-se a marcar pelo emblema da Luz. A festa encarnada ficava completa ao minuto 71.

O Benfica passou no teste sensação da Liga e reforçou a liderança do campeonato: a pressão nesta jornada 19 vai agora para FC Porto, Sp. Braga e Sporting. Ao Casa Pia, há pouco a apontar: a águia não permitiu muito ao ganso.