25 de outubro de 2000.

Provavelmente a data não lhe diz nada, a esta distância, mas nessa altura o Benfica vivia dias agitados. As eleições que opunham Vale e Azevedo a Manuel Vilarinho eram dois dias depois, os ânimos estavam exaltados e os candidatos lançavam desesperadamente todos os trunfos.

Manuel Vilarinho garantia, por exemplo, que já tinha assinado contrato com Mário Jardel e que enviara nesse mesmo dia os papeis para o Brasil por faxe. O que o futuro veio a desmentir.

Perante isto, Vale e Azevedo lançou uma bomba... milionária.

O Benfica chamou os jornalistas à sala de imprensa do antigo Estádio da Luz para anunciar que estava tudo bem com Van Hooijdonk. Nesse mesmo dia tinha sido notícia que o avançado enviara, através de um advogado, um faxe ao clube ameaçar rescindir por ordenados em atraso.

Ora Van Hooijdonk garantia na sala de imprensa que não era verdade e que o problema que havia relativamente às dívidas do Benfica já tinha sido resolvido há cerca de duas semanas.

«O problema foi ultrapassado há quinze dias e já não faz qualquer sentido», referiu.

Tudo bem, tudo perfeito, tudo muito bonito quando as coisas acabam bem.

Ou será que não acabam? Os jornalistas já abandonavam a sala de imprensa quando o assessor do Benfica pediu que voltassem, que havia mais uma comunicação a fazer.

Vale e Azevedo entrou então na sala de imprensa com José Capristano e mais três pessoas, uma das quais se apresentava como Bernd Fischerbeck, representante da RCN, parceira da IBM.

Os dois deixaram a mesma garantia:  o Benfica e a IBM tinham assinado um contrato de parceria para a remodelação do Estádio da Luz, construção do parque de lazer e do centro de estágios do Seixal, o qual levaria a multinacional alemã a investir 35 milhões de contos no clube. O que significa, mesmo sem atualização financeira, 180 milhões de euros atuais.

«Esta parceria vai permitir ao Benfica cumprir os objetivos previstos no seu propecto e no seu plano financeiro para os próximos cinco anos. Começamos a ter um grupo de grandes empresas multinacionais ligadas ao Benfica, o que demonstra que o clube começa a ganhar credibilidade», atirava Vale e Azevedo, no último triunfo antes das eleições.

O problema veio no dia a seguir. A IBM desmentiu qualquer contrato já assinado e referiu que estava apenas a negociar um contrato para ser o fornecedor tecnológico do Benfica.

Ou seja, não havia nenhum contrato assinado, apenas negociações para vender material informático. À semelhança do que já fazia noutros clubes.

Vale e Azevedo ainda tentou, à sua maneira, virar a conversa: disse que a IBM confirmava o acordo, que tinha tido ao seu lado o presidente da empresa na conferência (o que não era verdade) e que estava claro que a empresa só negociava com um candidato credível como ele.

A mancha, essa, ficou. No fim, viria a descobrir-se depois, era só mais uma.

«Máquina do tempo» é uma rubrica do Maisfutebol que viaja ao passado, através do arquivo da TVI, para recuperar histórias curiosas ou marcantes dos últimos 30 anos do futebol português.