Faltam dois dias para o reencontro entre Benfica e Marselha nas competições europeias e os duelos entre águias e franceses puxam às memórias o célebre golo marcado por Vata, no Estádio da Luz. O antigo futebolista angolano, que marcou aos franceses o dito golo em abril de 1990, revelou então ter tido uma noite sem dormir, com o telefone de casa sempre a tocar.

«Não sei aonde que as pessoas descobriram o meu número de telefone. A chatear-me, a insultar-me. Um [ndr: adepto francês] disse que se soubesse onde eu morava, podia dar-me um tiro. Que o que eu fiz, não se faz…», revelou o antigo jogador, em entrevista à Lusa.

Aos 63 anos e radicado na Austrália, onde dá aulas de futebol e acompanha o crescimento dos filhos, Vata, que representou o Benfica entre 1988 e 1991, reconhece que o golo apontado aos 83 minutos do jogo ainda dá muito que falar.

Com o golo de Vata, no jogo da segunda mão das meias-finais da Taça dos Clubes Campeões Europeus, o Benfica venceu por 1-0 depois de ter perdido em França por 2-1, tendo-se apurado para a final da prova.

Para Vata, continua a não existir qualquer ilegalidade no lance, apesar das imagens mostrarem que terá marcado com o braço, algo que o avançado continua a recusar, 34 anos depois, dizendo que não tem qualquer vantagem em negar a situação. «Quando o Valdo bateu [o canto], e antes de a bola chegar onde eu estava, o Di Meco estava a agarrar-me. Estava nas minhas costas, estava a agarrar-me. Eu não tinha outro jeito, eu tinha de meter o ombro...», referiu, dizendo que só existe uma razão para a evidência do ombro ser negada: a importância que o jogo teve à época, o que representava para o Marselha e as constantes declarações polémicas do ex-presidente do clube Bernard Tapie.

«Agora, vou mentir para quê? Vou ganhar o quê? O quê? Agora, aquilo que eu disse, qualquer pessoa que estava no outro lado, do Marselha, sinceramente, naquele momento, o problema era o momento do jogo, a importância do jogo, que deu aquela polémica.  A importância do jogo faz com que o golo seja falado até hoje, as pessoas chateiam-me até hoje», admitiu Vata, acrescentando que a explicação do lance continua a ser clara para si: foi no movimento em que se tentou libertar do lateral Di Meco - com quem falou recentemente - que meteu o ombro na bola, numa fração de segundo após um primeiro desvio do sueco Mats Magnusson.

Vata, que começou esse jogo no banco, lembrou também a sua entrada em campo, pressionado pelo antigo companheiro Mozer, central internacional brasileiro que na época anterior vestia as cores do Benfica e se transferira para os franceses. «Quando eu entrei no campo, a primeira coisa foi que o Mozer me deu uma chapada. Ele, o Mozer, juntamente com o [Franck] Sauzée, apertaram-me ali e o Mozer disse: “negão”, você não vem aqui para estragar a festa», contou o antigo avançado, garantindo que não se deixou intimidar e que, pouco antes de entrar, o treinador Sven-Goran Eriksson mostrou que contava com a sua ajuda.

Vata já tinha marcado ao Marselha (1-0) ainda no início dessa época, num particular pela transferência de Mozer. «Quando foi o jogo da segunda mão, lembro-me que estava no posto médico, e lembro-me dele [Eriksson] dizer: ”Quando as coisas complicarem vou precisar de você”, revelou Vata, que atualmente segue os jogos do Benfica sempre que pode, apesar da grande diferença horária para Melbourne, acreditando que o Benfica vai novamente afastar os franceses de uma competição europeia.

Na história, o Marselha caiu perante o Benfica na Taça dos Clubes dos Campeões Europeus de 1989/90, competição que o Benfica perderia na final com o Milan (1-0), mas também nos oitavos de final da Liga Europa de 2009/10. «Eu tenho a certeza que o Benfica vai passar. O Marselha tem um trauma, entendeu? Já no Estádio da Luz, eles não vão ter sossego. Acho que o Benfica vai fazer um bom resultado, o resultado de casa vai resolver o jogo em Marselha. Eles vão fazer tudo para se vingar do jogo, mas o Benfica tem sempre 60 ou 70 por cento de caminho para ganhar essa eliminatória», vaticinou o avançado.

A primeira mão é na Luz, na noite de quinta-feira (20h00). A segunda mão é uma semana depois, em Marselha, no dia 18.