O presidente do Boavista, Vítor Murta, afirmou nesta segunda-feira ser contra o cartão do adepto no acesso a determinados setores nos estádios dos clubes da Liga de futebol, considerando que «o tempo do acesso livre» chegou ao fim.

«Sou, desde a primeira hora, frontalmente contra o cartão de adepto, até pela forma como foi idealizado e executado. Estarei sempre do lado da lei e da ordem, mas também para dar contributo no combate feroz à violência, ao racismo e à xenofobia na sociedade e no desporto. Nunca desta forma, através de leis que só servirão para afastar as pessoas do futebol», disse Vítor Murta em mensagem no site do clube.

O dirigente não concorda com a distinção feita entre adeptos e garante que os «axadrezados» estarão sempre do lado da luta pelas causas sociais, mas não do lado do cartão do adepto.

«Alguém se lembrou que as pessoas que pretendem assistir a um espetáculo de futebol têm de ser catalogadas, identificadas e marginalizadas sob o manto de uma alegada promoção da segurança. Que fique bem claro: eu e o Boavista vamos estar sempre na linha da frente do combate a qualquer tipo de violência no desporto», afirmou.

Vítor Murta deixa críticas ao Governo pela medida que, segundo uma nota divulgada há um ano, vai favorecer «o registo e a identificação dos seus titulares para efeitos de dimensionamento e de gestão do acesso às zonas com condições especiais de acesso e permanência de adeptos».

«Não posso concordar que esse combate seja feito com aparentes resquícios pidescos que perduram quase 50 anos depois, mesmo naqueles que batem com a mão no peito e exibem o cravo vermelho em determinados eventos públicos. Se todos os intervenientes trabalhassem em conjunto, teria sido fácil de perceber que continuaria a ser mais do que suficiente permitir o acesso das pessoas em zonas específicas de cada clube», notou.

O início das duas ligas profissionais do futebol português no fim de semana assinalou o regresso do público aos estádios, 17 meses depois, com uma lotação máxima de 33%, devido à pandemia de covid-19, mas Vítor Murta lamenta que o processo tenha tido «mais burocracia, barreiras e dificuldades para aqueles que amam o futebol».

«Para este campeonato, que arrancou na sexta-feira, ficamos desde já com a certeza de que vai ser bem mais difícil o acesso de um cidadão a um estádio de futebol em Portugal do que a passagem por uma qualquer fronteira fora do Espaço Schengen», concluiu.

A criação do cartão do adepto surgiu no seguimento de alterações ao regime jurídico da segurança e combate ao racismo, à xenofobia e à intolerância nos eventos desportivos, tendo sido publicada em Diário da República em junho de 2020. Tem validade de três meses, pode ser requisitado por qualquer pessoa acima dos 16 anos e serve para conceder acesso a zonas identificadas nos recintos, normalmente associadas à presença de claques.

O Boavista defronta o Gil Vicente nesta segunda-feira, no Estádio Cidade de Barcelos, no encontro que fecha a jornada inaugural da nova edição da Liga, com arbitragem de Cláudio Pereira, da associação de Aveiro.

Até esta segunda-feira, nos oito primeiros jogos da primeira jornada, só o FC Porto esgotou a capacidade possível, correspondente aos 33 por cento da lotação do Estádio do Dragão.