Dizem que o tempo não é dinheiro. O que é obviamente falso. O tempo não só é dinheiro como o próprio dinheiro também é tempo.

Para quem tem o suficiente para comprar um Rolex, por exemplo, é tempo de qualidade.

Piadas de gosto duvidoso à parte, o dinheiro também é tempo para quem tem a vida presa por um tratamento caro no estrangeiro. Ou para quem pode dar-se ao luxo de fazer gazeta ao trabalho e arrancar com a família durante uma semana para a Polinésia Francesa.

O dinheiro é tanto tempo que se tivermos muito podemos trabalhar menos e ficar com mais tempo para nós. Para os nossos amigos, para a Guerra dos Tronos, para os policiais de Nelson DeMille. Podemos ficar, enfim, com mais tempo para as coisas que de facto gostamos de fazer.

Até para gastar dinheiro é preciso tempo.

Se o tempo não fosse dinheiro, aliás, perder tempo não custava dinheiro. E a verdade é que custa: ao Estado, à empresa, ao marido que não se pode distrair quando dá um cartão de crédito à esposa.

O Sporting, de resto, é um bom exemplo de como o tempo é dinheiro.

Frederico Varandas disse na campanha eleitoral, e disse bem, que o clube não podia arriscar falhar outro acesso à Liga dos Campeões. Mas a verdade é que, para já, agoniza no quarto lugar.

Ora enquanto isso, o FC Porto está perto de chegar aos 70 milhões de euros encaixados em prémios da UEFA e o Benfica já ultrapassou os 40. Sendo que se confirmar que voltam a ser deles as duas posições de Champions, deverão receber na próxima época pelo menos mais 40 milhões.

O fosso do Sporting em relação aos dois rivais, que já é nesta altura considerável, ameaça aumentar exponencialmente em apenas dois anos. Ameaça aliás tornar-se irrecuperável.

Dinheiro gera dinheiro, que gera dinheiro, que gera dinheiro.

Quanto mais os clubes o fizerem, mais capacidade ganham para o fazer: tendo dinheiro para contratar melhores jogadores, podem ganhar mais vezes e com isso gerar mais dinheiro, que por sua vez lhes vai permitir melhores jogadores, para ganhar mais vezes e fazer ainda mais dinheiro. É uma bola de neve imparável, como já se deve ter percebido.

É verdade que o Sporting tem um excelente contrato de venda de direitos televisivos para lhe encher a barriga, mas os rivais também o têm. Para além disso, vale a pena referir um estudo de que o Maisfutebol deu conta há umas semanas, para lembrar que os prémios da UEFA são a maior fonte de rendimento dos clubes portugueses.

São no fundo os prémios da Champions que fazem a diferença.

E o que acontece quando o Sporting falha um acesso? Os rivais conquistam-no. O que lhe lhes permite fazer um encaixe que duplicou esta época, para cavar cada vez um fosso maior.

Por isso falhar este ano o acesso à Liga dos Campeões não significa apenas mais um mau ano na vida do Sporting. Pode significar um ano trágico.

O Sporting precisa por isso de não perder tempo para ganhar dinheiro que lhe permita conquistar tempo. Porque tempo é dinheiro.

«Box-to-box» é um espaço de opinião de Sérgio Pereira, subdiretor do Maisfutebol, que escreve aqui às terças-feiras de quinze em quinze dias