Quinze anos depois, a seleção dos Camarões está na ribalta do futebol africano, com a conquista do Campeonato Africano das Nações (CAN). Os «leões indomáveis» quebraram um jejum que durava desde 2002, ano em que conquistaram o último título... até este domingo.

Entre os homens ao comando do selecionador belga Hugo Broos, a história de um jovem jogador campeão tem contornos emotivos. Hercúleos.

Fabrice Ondoa, 21 anos, guarda-redes. Suplente na equipa B do Sevilha, atual 11.º classificado da segunda liga espanhola. Em menos de um mês, o guardião camaronense passou de jogador não utilizado a herói da sua seleção no CAN.

Ora veja-se: foi totalista na caminhada dos Camarões ao quinto título na competição, homem do jogo nos quartos de final contra o Senegal, ao defender uma grande penalidade decisiva a Sadio Mane. E manteve a baliza a zeros nas meias-finais. Além de defesas decisivas no último jogo da fase de grupos, que mantiveram o empate a zero com o Gabão, atirando o anfitrião para fora do CAN e mantendo em prova o seu país.

A «parada» de Ondoa a Sadio Mane, nos 'quartos' da CAN:

A história teria, porventura, contornos aparentemente normais se não se tratasse de um jovem guardião que não somou qualquer minuto nas últimas duas épocas, nos clubes por onde passou. E pela concorrência experiente dos compatriotas Jules Goda, guardião de 28 anos que passou pelo Portimonense em 2011/12 e do menos conhecido Georges Bokwe, 27.

Discípulo de Eto’o e o agradecimento

Ondoa é um dos produtos mais recentes do projeto de captação de jovens talentos da Fundação Samuel Eto’o, academia que o antigo avançado organizou no seu país natal. Aos 14 anos, as prestações entre os postes catapultaram-no para outra realidade. Na época 2007/08, Ondoa chegou ao Barcelona, onde fez grande parte da sua formação. Foi titular na carreira vitoriosa dos «blaugrana» na Youth League em 2013/14. Na época seguinte, fez apenas um jogo pelo Barça B, aquele que seria o último oficial por clubes. Passaria sem sucesso pelo Nástic em 2015/16 e continua tapado no Sevilha B este ano, pelos colegas Jose Antonio Caro e Juan Soriano.

Na seleção, contudo, há outra história para contar e que lhe pode abrir portas maiores para uma carreira que ainda vai curta como jogador sénior.

Depois do triunfo final ante o Egito, este domingo, foi a Eto’o que Ondoa agradeceu, não esquecendo a academia que o lançou para o futebol europeu. Entre lágrimas de emoção de parte a parte. «Falei com ele no balneário e dediquei-lhe o triunfo», referiu o guardião.