O FC Porto é de uma raça que não se verga. E o Arsenal certamente saberia que, mesmo que perdesse, a equipa de Sérgio Conceição iria vender cara a derrota, tal como o fez esta noite, em Londres, onde disse adeus à Liga dos Campeões.

As palavras dos ingleses antes do jogo, a perspetivar um ambiente aterrador e um atropelo sobre os portistas foram manifestamente exageradas: o FC Porto até sofreu o 1-0, mas aguentou esse resultado no tempo regulamentar, foi para prolongamento e só nos penáltis é que, verdadeiramente, foi inferior aos «gunners».

Conceição voltou a mostrar todos os recursos que têm e fez jus às palavras do filho na véspera. Está mesmo entre os melhores do mundo. E este FC Porto também. Porque até pode nem estar tão bem apetrechado como as restantes equipas da Champions, mas é em campo que teima em provar o contrário. Uma equipa competentíssima e que já tem habituado o público português a ser fiável na Europa, quaisquer que sejam as circunstâncias.

Durante toda a eliminatória, o FC Porto permitiu que o Arsenal tivesse mais bola, soube compreender que tem lacunas, mas mostrou que há diferentes formas de jogar futebol e, enquanto forem onze contra onze, há sempre espaço para sonhar.

O melhor elogio que se pode fazer aos dragões é que os «gunners» nunca conseguiram ser a equipa que todos os fins de semana entra em campo na Premier League.

FILME DO JOGO

As antevisões ao jogo previam uma entrada aguerrida e agressiva dos londrinos, para tentar limpar a imagem apática que deixaram no Dragão. É certo que a equipa inglesa até conseguiu rematar enquadrado bem cedo – não o fez sequer por uma vez na primeira mão – mas o FC Porto conseguiu reagir e mostrou personalidade para ter bola no meio-campo do adversário.

De resto, os dragões, a meio da primeira parte, tinham mais bola do que o Arsenal e Evanilson já tinha deixado avisos num par de ocasiões.

O Arsenal carregou pelo lado direito, tentou aproveitar erros de Otávio e Wendell, enquanto deixava o corredor esquerdo despovoado. Aí, encontrou a chave do sucesso no seu melhor período, ainda antes do intervalo.

A energia inesgotável de Pepe, a qualidade de Diogo Costa e a organização defensiva dos dragões só poderiam ser derrubadas perante um toque de génio. E Martin Odegaard puxou dos galões, quando, aos 41 minutos, com um passe só ao nível dos predestinados, colocou Leandro Trossard na cara do golo.

O Arsenal empatou a eliminatória mesmo em cima do intervalo, mas pareceu entrar com muito respeito pelo FC Porto na segunda parte e voltou a não ser autoritário como, a jogar em casa, prometeu.

Só por volta da hora de jogo é que o Arsenal conseguiu puxar para si o ascendente do jogo e ficou muito perto de dar a cambalhota na eliminatória. Numa das raras vezes em que Pepe e Diogo Costa estiveram desatentos, o central fez a contenção para a bola chegar ao guarda-redes, Havertz pressionou, pressionou e continuou a pressionar, a baliza ficou deserta e a bola sobrou para Odegaard, que encostou para golo. Valeu que o árbitro considerou falta do alemão sobre Pepe.

O lance de perigo poderia ter abalado a equipa portista, mas, pelo contrário, serviu de motivação para assustar o Arsenal. Isto porque, logo de seguida, Francisco Conceição obrigou David Raya a aplicar-se.

Num jogo em que o ascendente inglês tão depressa aparecia como era diminuído pela capacidade de o FC Porto sacudir a pressão, o Arsenal acelerou o ritmo nos minutos finais, mas nem assim conseguiu desligar a concentração dos portistas.

Mesmo no prolongamento, as pernas já estavam a pesar o dobro, não havia fôlego, o pensamento não fluía da mesma forma, mas as tropas azuis e brancas souberam estar organizadas e com alma, a ripostar perante o calibre dos «canhões». Mesmo sem Alan Varela, um guerreiro valente que já tinha saído de maca, apesar da vontade de ficar em campo bem expressa no rosto.

Depois, veio o único momento em que o Arsenal foi claramente melhor. Os «gunners» foram mais competentes nos penáltis – o cansaço terá prejudicado o FC Porto – e coube a Wendell e Galeno, que atravessam o melhor momento da carreira, a triste sina de desperdiçar o remate. Mas não saem cabisbaixos de Londres, porque o FC Porto voltou a mostrar que é de uma raça que não se verga.

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