Obrigado. Pela emoção, pelo espetáculo, pela imprevisibilidade e pelo desafio de reescrever – vezes sem conta – o arranque desta crónica. Se, a princípio, a noite em Madrid desenhava-se com contornos de pesadelo para o Manchester City, então os comandados de Guardiola edificaram a ascensão ao paraíso, ainda que num ápice tenham regressado à Terra.

A súmula do primeiro «round» dos quartos de final da Liga dos Campeões, entre Real Madrid e Man. City (3-3). Uma autêntica montanha-russa. Obrigado pela magia até à pausa na eliminatória.

Numa partida que não contou com De Bruyne entre os titulares – de acordo com a imprensa britânica atormentando por uma indisposição intestinal nas horas que antecederam o jogo – Rúben Dias capitaneou os campeões europeus.

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Perante um ambiente ensurdecedor – e arrepiante – os «Citizens» silenciaram o Santiago Bernabéu ao fim de dois minutos. Na sequência de uma falta desnecessária de Tchouaméni a meio-campo – e que valeu cartão amarelo, o que arreda o francês da segunda mão – Bernardo Silva surpreendeu.

Quando se esperava um cruzamento, o criativo português tirou as medidas e visou a baliza de Lunin. Surpreendido pelo arco exterior, o ucraniano não conseguiu parar o remate, ficou mal na fotografia e soltou a euforia entre os forasteiros.

Foi o quarto golo de Bernardo Silva ao Real Madrid, ao cabo de sete jogos, e o segundo nesta Liga dos Campeões.

Vini Jr. e Rodrygo, os diabos

Em desvantagem, os anfitriões apenas foram capazes de ensaiar a resposta ao 12.º minuto por Camavinga. Ainda assim, o remate de longa distância do francês desviou em Rúben Dias, enganando Ortega.

No reatar do duelo, o Manchester City tentou visar a baliza contrária, avançando oito unidades. Contudo, sucedeu-se uma perda de posse fatal. Nos pés de Vini Jr., em milésimas de segundo, o esférico foi bombeado, pela esquerda, para a corrida de Rodrygo. Perante Ortega, o brasileiro contou com Akanji para consumar a reviravolta. De forma consecutiva, os «Merengues» contaram com a «estrelinha» da Champions. Estavam decorridos 14 minutos.

Concretizado o que, porventura, poderia ser considerado o mais complicado, o Real Madrid estacionou a defesa, tornou o meio-campo compacto e contou com Vini Jr. e Rodrygo para instalar o pânico na defesa contrária. Quanto aos «Citizens», a ansiedade era por demais evidente, a começar pela incapacidade em construir e efetivar a resposta à desvantagem.

Entre oportunidades, sempre construídas à esquerda por Rodrygo e Vini Jr., os «Blancos» iam desperdiçando o terceiro golo. Entretanto, na outra extremidade, Haaland estava desaparecido, silenciado – e de que maneira – por Rüdiger.

Foden e Gvardiol, abençoados pés

Para a etapa complementar, os campeões europeus – e do Mundo – prometiam maior clarividência. A julgar pelos lances trabalhados por Grealish, Foden e Bernardo Silva, o empate voltou à equação. Face à ineficácia do Real Madrid – que até parecia acomodado e despreocupado com as oportunidades falhadas – Foden efetivou, por fim, a reação dos «Citizens». Descaído para a direita, o «baixinho» dominou, mirou as redes e desferiu um arco indefensável, assinando o quinto golo na Champions.

Atordoados, os «Merengues» foram incapazes de suster a fúria dos ingleses. Cinco minutos volvidos, mas desta feita pela esquerda, Gvardiol subiu, puxou a si os holofotes e assinou um belíssimo golo. À boca da área, o defesa croata tentou a sorte, encheu o pé e soltou a festa nas hostes forasteiras. Uma vez mais, Lunin até poderia ganhar asas, nada mais poderia fazer. O cronómetro anotava 71 minutos.

Foi preciso regressar à mó de baixo, e ouvir alguns assobios do tribunal do Bernabéu, para o Real Madrid reagir. Aos 79m, e quando, uma vez mais, se antevia uma tarefa complicada para os comandados de Ancelotti, Valverde repôs a igualdade, à lei da bomba. Em resposta ao cruzamento perfeito de Vini Jr., da esquerda para a direita, o uruguaio aplicou um «amorti» primoroso, teleguiando o esférico rente à relva, para frustração de Ortega.

Até final, o marcador não mais mudou, mas a expectativa prevaleceu até ao derradeiro apito. Para o rescaldo, escasseiam os adjetivos para esta autêntica montanha-russa. Para sorte dos apaixonados pelo jogo – e para desespero de quem tiver de ensaiar crónicas – haverá mais emoção dentro de uma semana, a 17 de abril (quarta-feira).

Nota para o trabalho de Rüdiger. Se Haaland esteve desaparecido em campo, foi por responsabilidade do defesa alemão. Em todo o caso, Guardiola apenas lançou Julián Álvarez aos 87m, mas para o lugar de Foden.

Para já, o Real Madrid, líder da La Liga, visita o Maiorca. Por sua vez, o Manchester City recebe o «aflito» Luton Town. Os comandados de Guardiola terão nova prova de consistência, numa altura em que a disputa pelo título na Premier League segue em píncaros.

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Ancelotti atinge os 200 jogos na Champions

Na noite em que cumpriu 200 partidas, como treinador, na Liga dos Campeões, Carlo Ancelotti anotou o segundo empate ante Guardiola, em 11 partidas (3V-2E-6D). Se o italiano perdeu seis duelos frente ao catalão – sobretudo enquanto timoneiro do Everton – sorriu mais vezes na Liga dos Campeões, eliminando, sempre pelo Real Madrid, o Bayern Munique (13/14) e o Manchester City (21/22).

Do outro lado, Guardiola anseia repetir o feito da última época, na qual assinou a queda dos «Merengues», contando com o bis de Bernardo Silva (4-0).

Ancelotti acumula quatro Ligas dos Campeões, enquanto Guardiola conquistou três. O outrora treinador do Barcelona empatou pela sexta vez ante o Real Madrid, em 24 duelos.

Dito isto, muitos milhares assinariam para avançarmos já para a segunda mão desta eliminatória. Por agora, há apenas uma certeza. Tchouaméni não jogará, uma vez que viu cartão amarelo esta noite.

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