No dérbi de Madrid, a festa começou por ser do aniversariante Cristiano Ronaldo, que teve direito a coro de parabéns nas bancadas no dia em que completou 29 anos. Prosseguiu depois, com uma grande exibição de Di María, a fazer as pazes com os adeptos depois de amuos de parte a parte nos últimos meses. Prolongou-se com a confirmação de Jesé como a maior promessa a sair da cantera merengue desde Iker Casillas. E conclui-se com mais um recorde, dos muitos que o guarda-redes dos «blancos» vai acumulando desde que chegou à primeira equipa, em 1999.

A noite em que o At. Madrid sofreu a derrota mais pesada dos últimos 12 meses foi também aquela que permitiu a Iker Casillas prolongar o seu recorde de imbatibilidade na baliza do Real Madrid. Os 3-0 dos merengues no dérbi não se limitaram a deixar encaminhado um Real-Barça na final da Taça do Rei: também permitiram ao capitão do Real fixar em 772 minutos o seu máximo de jogos sem sofrer golos.

O registo não tem precedentes na história do clube merengue, mas tem de ser contabilizado em regime de pára-arranca, visto que Casillas perdeu o estatuto de titular para Diego Lopez, há um ano e daí para, mesmo depois da saída de Mourinho, só tem jogado na Taça do Rei e na Liga dos Campeões.

Nos 13 jogos que Casillas cumpriu nesta temporada, o Real venceu 11 e empatou dois. O último golo sofrido pelo guarda-redes com mais títulos de seleções na história do futebol data de 27 de novembro, com o Galatasaray (vitória por 4-1). Estavam decorridos 38 minutos e, para além dos 52 restantes nesse jogo, seguiram-se até agora sete partidas a zero para a Taça e uma para a Champions.

Se a contabilidade se referir apenas aos jogos da Taça do Rei, então o registo é ainda mais impressionante: o último golo sofrido por Casillas nesta prova remonta a janeiro de 2012. Daí para cá, 878 minutos sem golos sofridos, incluindo nessa série o acidentado jogo de há um ano, com o Valencia, em que foi substituído por lesão aos 17 minutos e perdeu de vez a confiança de Mourinho.

A curta viagem ao Vicente Calderón, na próxima terça-feira, é uma forte ameaça ao prolongamento da marca, embora esse cenário seja em parte atenuado pela ausência por castigo de Diego Costa – viu cartão amarelo no Bernabéu, num jogo marcado por constantes trocas de provocações com os defesas do Real Madrid.

Mas este nem sequer é o registo mais impressionante de Casillas, que não perde um dérbi com o At. Madrid há quase 15 anos: foi derrotado na estreia, em 1999, apenas com 18 anos, quando entrou a substituir o lesionado Bizarri. Daí para cá, seguiram-se 25 jogos com o Atlético, com o saldo de 19 vitórias e seis empates e apenas 18 golos sofridos.

O desfecho desta quarta-feira interrompeu uma sequência de 23 jogos oficiais sem derrota por parte do Atlético Madrid e, principalmente, impediu que os «colchoneros» conseguissem repetir uma proeza com 73 anos: foi em 1941 que pela primeira e, até agora, única vez, conseguiram ganhar três dérbis seguidos, ainda com o nome de Atlético Aviación, herança da Guerra Civil. Daí para cá, o ascendente do Real Madrid acentuou-se, como o ilustra a série de dez vitórias consecutivas entre 2009 e 2013, e o saldo dos dérbis ficou irremediavelmente inclinado para o lado «blanco»: 142-64 em vitórias, em jogos oficiais.

Por momentos, o efeito-Simeone pareceu capaz de iniciar um novo ciclo, com duas vitórias seguidas em jogos em que a baliza merengue foi ocupada por Diego Lopez. Mas, a menos que o At. Madrid consiga a maior vitória dos últimos 27 anos, na próxima terça-feira, esta meia-final da Taça do Rei parece destinada a fazer com que as hierarquias voltem a cair na «normalidade» dos últimos anos, que Casillas ilustra melhor do que ninguém.