FC Porto: Pinto da Costa em entrevista

Relação com Rui Costa: «Tenho, já de há algum tempo, o princípio de não falar dos rivais.»

Nem de Frederico Varandas, que falou dos sócios do FC Porto? «Fiquei muito contente por ver que um presidente do clube rival está muito interessado na minha saída.»

«O Taremi tem propostas que ainda não aceitou, para ir ganhar dez milhões por ano. Dizem: "Renovem com o Taremi". Sim senhor, dêem dez milhões para o Taremi, mais dez milhões para o fisco, 20 milhões e renovo.»

Milan tentou: «Sim, sim, mas com propostas ridículas, que nem deu para conversar. Não houve nenhuma proposta, nem perto da cláusula dele.»

Se está prevista entrada de capital de investidores na SAD: «Neste momento não. Quando assumi a presidência, o FC Porto tinha 40 por cento da SAD e hoje conseguimos ter perto de 75 por cento. O FC Porto nunca perderá a maioria da SAD. Houve tentativas de compra a que resistimos e não cedemos. Entendemos que o clube é dos sócios, não é dos bancos, dos investidores, seja de quem for. A SAD tem de ser maioritariamente do FC Porto, que não era comigo a presidente.»

«Estivemos em fair-play financeiro e não estamos. A UEFA sabe os nossos planos até ao fim do ano. Se tivéssemos de ter apresentado em junho, vendíamos um jogador, mas eu não quis. A nossa aposta é desportiva.»

Se, para cumprir requisitos de licenciamento da UEFA, tem em cima da mesa algum plano para passar o resto do Estádio do Dragão do clube para a SAD, para haver reforço de capital? «Para a SAD? Não... estou a ouvir isso a primeira vez. Não posso responder, é a primeira vez que oiço isso. Até hoje, não estamos a pensar nisso, mas temos outros planos e projetos que vão fazer entrar algum dinheiro. Por exemplo, uma melhoria grande no Estádio do Dragão, em que uma empresa suporta isso e ainda nos entrega um valor considerável.»

Fala do naming do Dragão? «Não, não entra o naming.»

Naming do Dragão: «É uma realidade. E quando há 20 anos quiseram pôr o meu nome no estádio e eu opus-me e na altura disse que um dia isso iria complicar o negócio do naming no estádio, porque qualquer empresa aceitará "Dragão + o nome da empresa". Agora, ninguém ia aceitar: "Pinto da Costa Super Bock". Estamos a partir da base de cinco a seis milhões, é isso que estamos a negociar. Médio prazo.»

Dinheiro da Champions e de Otávio garante que não tem de vender principais jogadores no fim da época: «Permite-me dizer que não vamos precisar de vender. Não estamos aqui para nos comprometermos, estou a dizer a estratégia. Se passarmos aos oitavos de final, os jogadores são valorizados. Foi por opção que não vendemos jogadores.»

«Está dentro da nossa estratégia para chegar ao fim do ano com contas positivas e capitais próprios positivos.»

Capitais próprios negativos: «Não posso dizer agora qual é o número exato. Agora, o que digo é que os capitais próprios e as contas negativas que apresentamos, foram calculadas para que, em dezembro, possam estar contas positivas e capitais próprios, perto de positivos.»

Como é que até dezembro consegue fechar um "buraco" de mais de 100 milhões de euros: «Já falámos, por exemplo, que os 60 milhões do Otávio entram até dezembro. Se vendêssemos o Otávio antes, as contas estavam equilibradas. Não vendemos por 40, por 60 há uma diferença. O nosso objetivo também é desportivo, estamos a uma vitória dos oitavos de final.»

Se a candidatura de André Villas-Boas divide o universo FC Porto: «Não faço ideia, não quero comentar, nem as suas afirmações, nem redes sociais, nada disso. Não está no meu foco. E é importante, sobretudo junto da equipa, manter tranquilidade e que consiga os objetivos. Quando optamos por ter estas contas negativas, não foi por acaso. Podíamos tê-las positivas.»

Fala do caso Otávio?: «Estou a falar em geral. A estratégia é: se eu retirar, em cima do início da época, o Benfica vendeu o Gonçalo Ramos ao PSG em cima do campeonato. Se retirar isso, as contas são iguais às nossas. O Otávio, aguardámos um mês para vender por 60, mais 20 milhões, que são revertidos agora nas contas até dezembro.»

«O sócio 587 do FC Porto é o presidente do FC Porto e, neste momento, tem três preocupações: primeiro, que esse barulho das redes sociais não chegue à equipa, que a equipa esteja tranquila para os objetivos, que passa por passar aos oitavos de final da Champions. Essa é uma das preocupações. A segunda, que fez parte da estratégia da minha direção é que, em dezembro, possamos apresentar capitais próprios positivos. Se não forem positivos, perto de positivos. E, terceiro, a nossa academia, na Maia, que estão os projetos feitos.»

Relacionamento com André Villas-Boas: «Depois da sua passagem aqui, se falei com André Villas-Boas, vá lá, três vezes... ele até me ofereceu um relógio com uma dedicatória. Mas dizer que falei: infelizmente, a última vez que o vi foi no funeral do Fernando Gomes. Daí para cá, nunca mais o vi.»

Como reage às suas declarações: «Não reajo. Surpreende-me, mas não comento. Se as faz, tem um intuito, presumo que seja candidatar-se à presidência do FC Porto. Tem todo o direito, é associado, tem as quotas em dia. Fico admirado. Agora, mágoa é quando nos morre alguém querido. Que fico surpreendido, fico. Mas não comento, ele tem todo o direito a ser candidato.»

«O relacionamento que há entre mim e qualquer direção com uma claque é o normal. Primeiro, nos jogos fora, se não fosse a nossa claque, estávamos sempre a jogar sozinhos, contra o resto.»

«Os únicos desacatos que vi começaram quando esse associado [Henrique Ramos] voltou para o lugar. Agora, esse associado não faz sentido, até porque se identificou como meu apoiante e mostrou, inclusive, que tinha no corpo a minha assinatura tatuada.»

«Acha que algum treinador de algum clube vai renovar o contrato sem saber com quem vai trabalhar? Acha? Há uma coisa que eu não quero: primeiro, eu não estou em período eleitoral e há uma coisa que eu não quero: envolver nenhum profissional de futebol nesta matéria.»

«Tem-se atacado os Super Dragões. Os Super Dragões, são Super Dragões nos jogos. Fora dos jogos, são sócios como quaisquer outros.»

Relação com Fernando Madureira: «Eu sou amigo de quem sou e sei com quem conto. Não tenho amizade especial com Fernando Madureira, não é parceiro de todos os dias, mas é uma pessoa com quem eu tenho relação e que admiro, formou-se, fez o seu curso com dificuldades...».

«O outro ponto era um artigo que limitava a votação aos 18 anos. Eu defendi, votei contra isso e até disse que não fazia sentido impedir que um indivíduo de 18 anos não pudesse votar nas eleições do FC Porto, quando pode votar noutras, como a do Presidente da República.»

Como chegaram estes pontos à AG: «Chegou ao Conselho Superior porque foi intenção da comissão que foi aprovada no Conselho Superior e não é a minha direção que lá está! Estão algumas pessoas dos órgãos sociais, inclusive do anterior e os que foram eleitos de três listas que se apresentaram. Uma das pessoas que teve mais participações, até pela sua capacidade intelectual e disponibilidade, foi o doutor Miguel Brás, que foi eleito numa lista contrária à minha. Portanto...»

Porque é que vota contra a questão das incompatibilidades: «Entendo que não deve haver isso. Em Portugal, suspeita-se de tudo. A esta hora, estão a dizer que combinámos esta entrevista. Eu já ouvi num canal, um senhor com responsabilidades, dizer que eu só falava para o Porto Canal, porque quando lá ia, tinha entrevistas combinadas. Não há ninguém em nenhum canal que antes eu quisesse saber as perguntas.»

Casas do FC Porto, denunciada por Henrique Ramos na AG: «O que ele se estava a referir é que uma das coisas propostas era os sócios poderem votar nas casas do FC Porto. Eu penso que não faz sentido sócios do Algarve, para votar, tenham de vir do Algarve ao FC Porto, quando temos casas no Algarve. 

O que se passa com essas casas que Henrique Ramos disse não existirem: «Creio que todas que eles referiu está correto, não têm espaço físico. Suponha, numa vila ou numa aldeia pequena de 200 sócios, não há sede. A sede é em casa do presidente ou de um dos membros, isso é o que se chama o espaço físico. Agora, quando a comissão propôs o voto nas casas do FC Porto, não era nessas, o pensamento foi poder votar em Lisboa, ter um sítio de voto no Algarve...»

Pontos dos estatutos que discordou: «Um era a marcação das eleições. Estavam em abril no estatuto em vigor e acrescentou a comissão que podiam ser até junho. Não era que eram em junho. E eu votei contra essa alteração e garantiu, porque tinha a garantia do presidente da AG antes da Assembleia de que as próximas eleições comigo a presidente seriam em abril, nem que a Assembleia aprovasse o "até junho".»

Porque que é que o "até junho" entrou em equação: «Não sei, mas entendi, para que não houvesse quem pensasse que havia alguma intenção da comissão, antes da Assembleia tive o cuidado de dizer ao presidente da AG que ia votar contra e se ele tomava o compromisso de marcar as eleições para abril, ele marcou e eu estive à vontade para votar contra.»

Se não havia vantagem que fosse mais tarde de abril: «A comissão pensou isso que está a pensar, mas como apareceram logo insinuações disto e daquilo, eu disse que votava contra e dei a garantia que o próximo ato eleitoral será em abril.»

«A polícia estava à porta. Penso que se a polícia estivesse lá, podia ter evitado. Parece que também andou tudo aos tiros! Não foi ninguém ao hospital. Agora, se a polícia entrasse, era capaz de ser pior. Nunca viu num estádio a cumprirem a sua missão? Levam logo uma assobiadela!.»

Se garante que isto não se repete: «Não posso, agora que estamos a tomar medidas para que dificilmente se repita...»

Se viu algo premeditado: «Não posso dizer. Vi, nas redes sociais, eu não tenho, mas mostraram-me, um apelo a que viessem em grupos. Não sei quem, vi um nome, mas parece que é falso, não existe. E que filmassem tudo, isso é que me desgosta. Lamento, recrimino tudo o que se passou.»

Se falou com os sócios agredidos: «Não, não sei quem foram.»

Sócios indignados e tristes à saída: «Mas isso é possível, porque já vi desacatos em muitos outros estádios, de gente do clube. O que lamento, repito, é que uma coisa que devia ficar no meio de nós e tomar as respetivas medidas, que tenha sido mandado para fora.»

Se foi das suas piores noites na história do FC Porto desde que é presidente: «Foi uma noite má. Para mim, todas as noites que o FC Porto não ganhe, são más noites. Em termos de Assembleia Geral, foi uma noite má. Se foi a pior, se não foi a pior... há uma coisa que me desgostou muito, duas coisas: sócios contra sócios e ver sócios que, num problema interno entre sócios, o transmitiram através das televisões, fazendo daquilo uma vitória. Não compreendo quem ganhou naquela noite, o FC Porto perdeu e acho que os sócios do FC Porto perderam. Se em nossa casa temos uma noite má, devemos criticá-la, não é torná-la pública para que os nossos inimigos possam fazer daquilo uma bandeira nacional.»

«Qualquer crítica a fazer a qualquer órgão do FC Porto, não vinha para aqui fazer publicamente. A Mesa abriu a Assembleia, eu falei tranquilamente sem ser interrompido, propus que votassem contra três artigos, o doutor Miguel Brás da Cunha falou sem problemas, o doutor Hugo Nunes sem problemas e só quando veio o Henrique, até meu amigo, começaram os problemas durante a sua intervenção e quando ia para o seu lugar.»

Um sócio que comete este tipo de agressão está sujeito a que punição: «Não sei dizer, sinceramente. Não conheço, não posso dizer, porque não sei. Podia ser asneira, não faço ideia. Calculo, mas não vou dizer, não sei.»

Se não conseguiu ver alguém responsável nos tumultos: «A única pessoa que consegui identificar foi o Henrique, que até é um amigo meu e que foi falar e que foi um dos focos. De resto, não conhecia as pessoas, das realmente envolvidas, mas espero que nas imagens se consiga apurar.»

Se colocou a hipótese de intervir para apelar à calma: «Não o fiz porque não me competia a mim, o presidente da AG é que conduz os trabalhos.»

Mas Pinto da Costa tem peso institucional: «Sim, mas há uma coisa que eu não tenho poder é para quando as pessoas entram em zaragata, ir lá separá-las. Não sou segurança, nem me compete. A única coisa que fiz foi pedir ao presidente do Conselho Fiscal para comunicar ao presidente da AG que, na minha opinião, devia terminar com a Assembleia imediatamente e ele terminou com a Assembleia.»

«Só quando veio um associado falar é que começaram os tumultos, chamemos-lhe assim. O que eu podia contribuir para que tudo corresse bem, fi-lo. A primeira intervenção foi minha e para explicar que eu não tinha nada a ver com a comissão dos estatutos e, ali, assumi que ia votar contra os casos que podiam ser mais complicados. Eram três pontos e eu disse que iria votar contra, porque não estava de acordo.»

«Competia ao Conselho Superior a proposta de alteração e eu tive o cuidado de primeiro não ficar nesse grupo (...). Abstive-me na votação no Conselho Superior porque não estava de acordo com algumas coisas. Tive a oportunidade de dizer a minha posição e apelei a que votassem contra esses artigos.»

«O que tenho a dizer é o que todos sentem, foi um momento muito desagradável. Muito mau ver sócios contra sócios e naturalmente que tenho de lamentar tudo o que aconteceu. Já tomámos as providências para que não se repita na próxima AG. Decorrem dois inquéritos, o nosso e o do Ministério Público, para apurar os responsávis, temos de aguardar calmamente.

Não vou dizer quem são os principais responsáveis, senão estava-me a antecipar ao nosso inquérito e ao do Ministério Público. Houve, através das redes sociais, incitamentos a que as pessoas viessem, filmassem tudo o que pudessem. Não compreendi a intenção. Começou tranquilamente, lá em baixo não houve nenhum problema. Tínhamos previsto uma solução, uma alternativa, um plano C, só apareceu na altura, mas tínhamos aqui tudo montado. Foi uma frequência anormal, tivemos de ir para o pavilhão, que estava como uma última hipótese.»