Os desportistas quase nunca estão preparados para as transições nas carreiras, apesar de estar permanentemente a enfrentá-las. A ideia foi defendida pelo professor Paul Wylleman, durante um evento dedicado à saúde mental organizado pela Comissão de Atletas Olímpicos.

Numa intervenção na sede de Comité Olímpico de Portugal, em Lisboa, o especialista defendeu que é preciso perceber o que aconteceu antes no percurso.

«É preciso falar com os atletas sobre a carreira, não é suficiente falar apenas sobre o pós-carreira. Todas as carreiras desportivas são uma sucessão de transições. As transições têm sempre um impacto no desenvolvimento, performance e bem-estar do atleta.»

O pós-carreira apresenta alguns desafios, com o especialista a revelar que 29% dos ex-atletas enfrentam problemas de ansiedade/depressão, 27% distúrbios alimentares, 23% consumo de álcool, 22% distúrbios de sono e 18% a sensação de angústia, sendo que 16% apresenta, pelo menos, dois sintomas.

Desta forma, é obrigatório os atletas terem noções de gestão de carreira, mas também de comunicação da mesma, como explicar os seus planos, qualidades e até defeitos.

O saber lidar com o stress, ter autoconfiança e a capacidade de procurar soluções, numa atitude centrada na resolução de problemas.

Paul Wylleman deixou ainda duras críticas aos políticos.

«Penso que, às vezes, os nossos políticos não entendem o que podem fazer além de dar dinheiro e sair na foto com os atletas nos Jogos Olímpicos», referiu, chamando à atenção para a ausência de programas para o pós-carreira dos atletas.