«O risco de estagflação é especialmente relevante para a Espanha», observa Martin Van Vliet, um economista do ING Bank em Amesterdão, que acrescenta que «as pressões inflacionistas estão em marcha e os efeitos de segunda ordem já estão a emergir».
A economia espanhola tem 45 por cento de probabilidade de sofrer una contracção durante dois trimestres consecutivos antes do final de 2009, contra 30% no mês passado, de acordo com a média das respostas dos 18 economistas ouvidos pela Bloomberg.
Os preços na produção aumentaram ao ritmo mais elevado em 23 anos, anunciou o Instituto de Estatísticas espanhol (INE).
A «estagflação» refere-se a um período de abrandamento do crescimento económico e de aceleração da inflação.
Governo admite menor expansão dos últimos 16 anos
O Governo espanhol já previu o menor crescimento económico em 16 anos, com a crise no sector imobiliário e da construção e a escalada dos preços do petróleo e dos alimentos a afectar o consumo.
Somente o investimento público impediu uma contracção da economia no primeiro trimestre, segundo Raj Badiani, um economista da Global Insight.
«A economia espanhola teve azar porque o ajustamento no mercado imobiliário coincidiu com o aumento das taxas de juro», disse Susana Garcia-Cervero, economista no Deutsche Bank, que previu 60% de probabilidades de recessão.
«É o feito sobre a confiança que importa realmente, e as condições de crédito estão a ficar mais duras», acrescentou.
Espanhóis menos confiantes
A confiança dos consumidores registou uma quebra recorde em Maio num contexto de subida dos preços que afecta o poder de compra.
Os preços no consumidor deverão subir cerca de 5% em Junho, segundo uma consulta feita pela Bloomberg a quatro economistas.
A confirmar-se esta previsão, será a taxa de inflação mais alta desde que foi introduzida a medida harmonizada a nível europeu em 1997. Espanha conheceu em 1995 uma inflação de 5%.
Os efeitos de «segunda ordem», em que os aumentos dos preços da energia levam a um maior aumento nos preços e nos salários, desencadeando a «espiral inflacionista» tão receada pelo Banco Central Europeu, são mais prováveis em Espanha devido «à existência mais generalizada de mecanismos de actualização automática dos preços sobre a taxa de inflação», advertiu no início do mês o governador do Banco de Espanha, Miguel Ángel Fernández Ordóñez.
Travagem foi brusca
«A economia espanhola, em poucos meses, passou de um crescimento a um bom ritmo para uma travagem brutal», admitiu esta semana em Madrid o primeiro-ministro José Luis Rodriguez Zapatero. «Vemos um crescimento fraco a curto prazo, mas não uma estagnação», afirmou.
A economia espanhola cresceu 0,3% no primeiro trimestre, após 0,8% no quarto. A taxa de crescimento deverá ser inferior a 2% este ano, segundo dados governamentais.
Em 2007, o PIB espanhol cresceu 2,8%, superando pelo décimo terceiro ano consecutivo a média de crescimento da zona euro que foi de 2,6%.
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