Sete anos depois de trocar o Sporting pelo Valência, Mário Rui olha para trás e assume ter cometido erros evitáveis na Academia de Alcochete. O lateral esquerdo português atravessa um momento excelente em Itália e conta ao Maisfutebol como tudo começou para ele no futebol.

Curiosamente, durante os primeiros anos dividiu a atenção entre o desporto-rei e o andebol. Por culpa do irmão mais velho. Aos 11 anos saiu de casa dos pais, em Sines. Até hoje.


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A sua família é de Sines. Como é que foram os primeiros anos no futebol?
«O meu irmão mais velho era o meu ídolo e eu imitava-o em tudo. Ele era muito bom andebolista e por isso andei entre os dois desportos, andebol e futebol, durante muitos anos. Acabei por optar pelo futebol, diziam que eu tinha mais jeito. Comecei no Vasco da Gama de Sines e fui para o Sporting com dez anos. Observaram-me num torneio de seleções distritais e gostaram».

Deixou a casa dos seus pais com dez anos?
«Primeiro só ia de Sines para Alcochete às sextas-feiras. Estudava em Sines e treinava no Vasco da Gama. Às sextas o meu pai, que trabalhava em Setúbal, levava-me para a Academia. Eu dormia lá, no sábado jogava e voltava para Sines. Mas aos 11 passei a viver em Alcochete, sim».

Não teve medo de sair tão cedo de casa?
«Eu era uma criança, o mais pequenino de todos no Sporting. Mas nunca tive medo. Em Sines tinha muita liberdade, brincava na rua e isso ajudou-me a ter coragem. Não sofri com a mudança, sinceramente. Continuei a estudar, pois a escola de Alcochete ficava a dez minutos da Academia do Sporting».

«A minha família nunca foi rica e por isso não era fácil andar constantemente entre Sines e Alcochete. Estamos a falar de uma viagem de uma hora e um quarto. Por isso não estávamos juntos tantas vezes como desejávamos. Os meus pais fizeram grandes sacrifícios».

Quem eram os seus melhores amigos nesses dias no Sporting?
«O Januário Jesus, um rapaz do Algarve. E o Cédric Soares, que na altura era o capitão dos infantis. Tenho medo de me esquecer dos outros. Falo desses dois, mas outros mereciam ser lembrados. Não me esqueço dos meus técnicos: Paulo Cardoso, Nuno Lourenço, Luís Gonçalves e Luís Dias».

Passou toda a adolescência, dos 11 aos 17 anos, a viver numa academia de futebol…
«Ganhei muitos títulos e habituei-me a ganhar. Acho que em seis anos perdemos três jogos. Cresci muito depressa, ganhei responsabilidades e experiência. Estou a colher agora esses frutos».

Com 17 anos muda-se do Sporting para o Valência. Foi opção sua ou do clube?
«Comecei a ter muitos problemas no Sporting. Muitos por culpa minha, não aproveitei o que me deram. Sempre foram impecáveis comigo e eu não tive, durante um período, o melhor comportamento. Devido a esses problemas, surgiu a possibilidade de ir para Valência. Estava a render menos porque andava com alguns problemas na vida privada. E lá fui para Espanha, um ano e meio. Foi bom».

E quando volta a Portugal assina pelo Benfica. Os seus colegas do Sporting reagiram bem?
«Penso que sim, acho que ficaram surpreendidos (risos). Um dos meus primeiros jogos no Benfica foi contra o Sporting, curiosamente. As amizades continuaram, estavam e estão acima de tudo. Com 18 anos já tinha jogado no Sporting e no Benfica, é uma honra».

Nessa altura ia frequentemente às seleções nacionais?
«Sim, comecei a ir aos sub16 e fui sempre até aos sub21».