Mauro Goicoechea está a ser tudo aquilo que se esperava dele quando chegou a Portugal para reforçar o Arouca. A contratação uruguaio formado no Danúbio de Montevideu fez sensação na altura e está a revelar-se num dos mais acertados movimentos de mercado do clube do sopé da serra da Freita, «protegido» por uma cláusula de rescisão de milhão e meio de euros.

É o guarda-redes mais pontuado pelos jornalistas do Maisfutebol e o quinto jogador do ranking absoluto, apenas com André André, Jackson, Gaitán e Deyverson à frente. Em suma, está a ser uma das figuras da Liga.

Intratável entre os postes, cedo conquistou a confiança de Pedro Emanuel com exibições de luxo, beneficiando do facto de jogar numa equipa que, não pertencendo à luta do primeiro terço da tabela, acaba sempre por ter no guarda-redes um posto de grande visibilidade.
 
Mais ainda quando começa a destacar-se pelas grandes penalidades defendidas. Deixou um cartão de visita para quem não o conhecia em Alvalade, quando defendeu um remate nessa condição de Nani, mas não conseguiu garantir pontos para a sua equipa... por que Carlos Mané marcou nos descontos. No último sábado, foi diferente. Desta feita, a «parada» valeu um ponto no Restelo.

Tiago Silva bem tentou, mas a estirada do longilíneo número 1 arouquense foi plena de eficácia. «Não sei se é uma questão de experiência, ou de sorte… talvez um pouco de tudo, mas é uma sensação muito boa. É sempre difícil defender e, por isso, fico sempre bastante contente. O desafio é enorme, as probabilidades de sucesso para quem marca são muito maiores, por isso, defender, é algo muito lindo», confessa, em conversa com o Maisfutebol.

Diz, por isso, que não se sente um especialista em parar grandes penalidades. Lembra-se de algumas quando jogava no Uruguai e apenas de uma quando passou pelo Otelul, na segunda metade da última época, uma vez que, ao serviço da Roma, não defendeu nenhuma.

«É sempre importante para o guarda-redes, e sobretudo para a equipa, parar um penálti, em geral. Não me lembro de alguma ocasião em que tenha sido determinante, mas, esta última, com o Belenenses, por exemplo, terá evitado uma derrota. Nunca se sabe o que se poderia ter passado depois», analisa.

Também não é daqueles que treina este tipo de lances até à exaustão. «No final dos treinos, nas vésperas de jogos, ficam alguns jogadores a trabalhar os remates e nós, guardiães, claro, temos de dar o nosso contributo, só isso», confessa, pelo que não vê qualquer segredo ou receita específica para ser bem-sucedido:

«Acaba por ser mais um trabalho psicológico, digamos assim, entre quem marca e quem procura defender. Quem parte para a bola tem mais pressão e há que saber tirar partido disso. Procuro concentrar-me no jogador que vai bater, ficar até ao último segundo a tentar perceber se ele dá alguma pista para que lado vai meter a bola.»


Do convívio com os craques ao sossego de Arouca

A questão é recorrente e surge sempre que um jogador, habituado a palcos de outra dimensão, chega a Arouca. Para quem privou com alguns campeões do Mundo como Perrotta, De Rossi ou Francesco Totti, ingressar no clube do distrito de Aveiro é entrar numa realidade completamente diferente. Porém muito apreciada pelo uruguaio.

«Eu e a minha esposa somos pessoas pacatas, gostamos de ficar em casa, e, como também não gosto de cidade grandes, da agitação, trânsito, e afins, sou muito feliz em Arouca. Quando é preciso, também estamos perto do Porto. Portugal é um bom país para se viver e para jogar», desvenda.

Da capital italiana, guarda o convívio com os craques, que também conheceu no Uruguai. Cavani, Martín Cáceres ou Luis Suarez foram só alguns dos colegas que teve nos sub-17 e sub-20 da seleção azul celeste. «No futebol, como em tudo na vida, temos de estar preparados e adaptar-nos a quaisquer circunstâncias», diz.

 
Mas de quem Mauro Goicoechea é mesmo fã é de Buffon. «Estava no banco quando o defrontámos e nem tive coragem de falar com ele ou de lhe pedir a camisola»
, confessa. Ficou a pensar naquilo e, mais tarde, atreveu-se a pedir o favor a um colega antes deste partir para um estágio da seleção transalpina. «Voltou com a número 1 da seleção italiana para mim. Fiquei radiante»
, confessa, anuindo que se trata de um dos principais troféus da sua carreira que guarda num cantinho muito especial.

«Não o imito de forma consciente, mas identifico-me muito com o seu estilo e forma de jogar em geral»
, admite, antes da inevitável comparação: «O Goycoechea [guarda-redes da Argentina no Mundial 90]? É um clássico. Perguntam-me sempre se sou familiar dele, até porque, muita vezes, pensam que sou argentino. Melhor do que ele? Não, nem pensar…»