Hélder Barbosa tem 36 anos e há cerca de um mês decidiu terminar a carreira de futebolista. Foram 31 anos «a jogar à bola», 21 deles como profissional. O antigo avançado correu o mundo com a bola nos pés e cumpriu sonhos, muitos sonhos.

Começou no Paredes, o clube da terra, mas rapidamente se mudou para o FC Porto, «a equipa da família», na qual começou a demonstrar o belo pé esquerdo que tinha.

Somou sete jogos pelo emblema principal dos dragões, que o emprestaram a clubes como Académica, Trofense e V. Setúbal. Hélder Barbosa percebeu que não tinha espaço de azul e branco e por isso rumou a Braga, onde chegou a internacional A por Portugal.

O ex-jogador, de 36 anos, passou dez anos no estrangeiro e recordou esses tempos em entrevista ao Maisfutebol. Jogou em Espanha, na Grécia, nos Emirados Árabes Unidos e na Turquia, onde chegou a ter um presidente que disse, orgulhoso, que o seu clube só tinha dois meses de salários em atraso.

Maisfutebol - Porquê a mudança para o Almeria, depois de três épocas a bom nível no Sp. Braga?

Foi uma decisão tomada com o meu representante, para abrir novos caminhos. Tinha chegado o Jesualdo Ferreira ao Sp. Braga e tive uma conversa sincera com ele. Tinha vontade de abrir novos horizontes, estavam também a aparecer novos jogadores no Sp. Braga e era o momento ideal para deixar Portugal. Ainda para mais para jogar numa das melhores ligas do mundo. Foi o momento certo para sair.

Jogou depois na Grécia. Primeiro no AEK e, mais tarde, no Panetolikos. No fundo trocou a Liga Espanhola pela segunda divisão grega…

Foi, provavelmente, das melhores decisões que tomei na minha carreira. Na altura, a verdade é que vinha da La Liga e fui para a segunda divisão grega, realmente foi um grande tombo. O diretor do clube era o mesmo do Las Palmas, que já me conhecia do campeonato espanhol. O AEK era um grande clube, que estava a passar por um momento difícil, mas que tinha uns adeptos com muito amor pelo clube. Fui muito acarinhado. Mais tarde, o treinador do Panetolikos era o mesmo do AEK, ele convenceu-me a regressar à Grécia, quando andava a ter alguns problemas na Turquia.

Que tipo de problemas?

É algo muito conhecido na Turquia, atrasos nos pagamentos dos salários. É normal lá, cheguei a ter um presidente a dizer numa entrevista, com muito orgulho: «Nós só temos dois meses de atraso nos pagamentos dos salários». Mostra um bocadinho da realidade turca. Muito dinheiro, grandes contratos, mas depois há sempre atrasos nos prémios de jogo, etc. Só dois ou três clubes é que nunca devem nada aos jogadores.

O que leva da carreira de futebolista?

Tudo o que vivi dentro das quatro linhas. O que eu gostava era de jogar futebol, o jogo em si. Treinar durante a semana e ao fim de semana ter aquele jogo. Foi sempre esse o meu sonho. O extra-futebol sempre me passou um bocadinho ao lado. O aproveitamento, o negócio, verem os jogadores quase como mercadoria, que todos vão ser o Cristiano Ronaldo. Penso que isso tem vindo a piorar, que há maior aproveitamento das pessoas à volta do futebol. Os nossos colegas, esses, são a nossa família, quando estamos fora do país. E eu estive 10 anos no estrangeiro... Levo grandes amigos para a vida.