Durante algumas semanas, o mundo do futebol acreditou que poderia pairar sobre Petit o «fantasma de Luís Campos», que, na temporada 2002/03 treinou duas equipas que acabaram por descer de divisão – V. Setúbal e Varzim. O Tondela e o Boavista – onde o técnico iniciara a época – chegaram a partilhar a zona de descida durante algumas jornadas.

Numa entrevista ao treinador que termina a época como uma das figuras da Liga, a pergunta sobre se isso lhe chegou a ensombrar o sono seria obrigatória. Até para introduzir a sua saída dos axadrezados, que levantou muitas interrogações.

Chegou a pensar que podiam descer as duas equipas que tinha treinado, o Tondela e o Boavista?

Toda a gente me faz essa pergunta (risos). Não. Quando eu sai do Boavista, a equipa tinha nove pontos. Acho que tinha cinco acima da linha de água e tinha cinco equipas abaixo dela. E, salvo erro, estávamos a cinco ou seis pontos dos lugares europeus, já tendo jogado com duas equipas candidatas ao título e quatro ou cinco candidatas à Europa. Eu deixei o clube estabilizado na tabela classificativa. Depois, é claro que muita gente começou a comentar, mas isso não entra na forma como penso o futebol. Para mim teria sido mais fácil ficar em casa a descansar do que vir para o Tondela, mas acreditei no convite que me fizeram, como acredito muito no meu trabalho. Acho que estamos todos de parabéns e não quero estar a pensar se poderia ter descido duas equipas.

Fez ontem 15 anos que foi campeão pelo Boavista, um clube onde fez história. A forma como saiu deixou algumas perguntas no ar.

Não. Eu saí a bem com toda a gente. Foi um ciclo que fechei. Quando cheguei, o Boavista estava com muitas dificuldades no Campeonato Nacional de Séniores. Estive primeiro como jogador, passei a jogador-treinador e conseguimos fazer com que o clube voltasse a ser falado e que voltassem outros jogadores que eram referência para o clube. Depois, também me deram uma oportunidade para treinar na I Liga. Mas foi um ciclo que se fechou, num clube pelo qual tenho bastante estima, e a quem desejo as maiores felicidades.

A ligação do Petit ao Boavista alguma vez se vai fechar mesmo?

Eu cheguei lá com 9 e saí com 26 anos, quando fui para o Benfica. Depois ainda fui para a Alemanha e voltei para acabar a carreira lá – já não podia dos joelhos, mas acabei a carreira lá, ajudando a que o clube continuasse a ser falado. O Boavista era um clube que as pessoas já não acreditavam que pudesse voltar à I Liga. Eu fiz o meu trabalho e foi um ciclo que se fechou.

Falou também da seleção, que enfrenta agora a fase final do Europeu. Qual o seu desejo?

O que eu desejo é ser campeão (risos). Desejo e acredito que Portugal pode estar na final outra vez. Tem jogadores com muita qualidade, num misto de irreverência e de jogadores experientes. Alguns dos convocados jogam nas melhores equipas do mundo. E o facto de termos jogadores que já estiveram em várias fases finais permite que possam transmitir essa experiência. Porque não é fácil estar um mês numa competição em que se joga de três em três dias. Mas acredito que Portugal pode conseguir aquilo que estivemos quase a conseguir em 2004.

O sentimento será igual a levantar o troféu como jogador?

Sim. Sou português e torço sempre para que o meu país possa ganhar algo. Já andamos há alguns anos a tentar – em 2004 perdemos na final e em 2006 nas meias-finais –, mas acredito que Portugal pode estar numa final e que a possa ganhar. Esse é o meu sonho como português.