*Enviado-especial ao Brasil

Se em Portugal o discurso reinante é de pessimismo, face à autêntica missão de Hércules que a equipa portuguesa tem pela frente para seguir para os oitavos-de-final do Mundial, no Gana há também quem não esteja muito confiante. Ou melhor, menos confiante que os compatriotas.

Kwame Ayew, avançado ganês que se notabilizou no Boavista e foi campeão no Sporting em 2000, foi ouvido pelo Maisfutebol na antecâmara do encontro que pode dar o apuramento a um dos países ou, então, deixar ambos pelo caminho.

Tio de André e Jordan Ayew, dois dos selecionados de Kwesi Appiah, o antigo avançado diz estar com o coração dividido.

«Tenho os meus sobrinhos na equipa do Gana e metade do meu coração está com eles. A outra metade está com Portugal. O que eu gostava era que passassem os dois», assume. Missão impossível, claro está.

Mas a divisão de Ayew é compreensível e o próprio explica-a: «Joguei ano e meio no Gana e dez anos em Portugal.»

«Conheço muito bem Portugal e sei que vai ser muito difícil para o Gana. Já disse isso ao treinador. Joguei com Paulo Bento e Cristiano Ronaldo. Também Moutinho, Nani, Bruno Alves. Quase todos eram miúdos quando eu estava aí. Jogavam em equipas pequenas ou nos juniores. Mas todos têm muita qualidade. Tenho muito conhecimento e já avisei aqui todos que vai ser muito difícil», continua.

Ayew destaca a «garra» de Paulo Bento e acredita que Portugal «vai fazer tudo para ganhar» no jogo que até pode ser da despedida, mesmo que vença. O ex-leão tem pena que Portugal esteja a caminho de voltar a falhar numa grande competição.

«Portugal não ganha nada há muito. A última vez foi com o FC Porto em 2004, mas foi o clube e não a seleção. Gostava que Portugal fosse campeão do mundo. Já era na altura. Tem jogadores com qualidade para isso. Muita gente pode achar que eu sou maluco por dizer isto mas é a verdade», comenta.

Loucura por Ronaldo em casa de Abedi Pelé

A família de Ayew respira futebol. Para além dos sobrinhos, o ex-jogador de Sporting e Boavista, atualmente com 40 anos, é irmão de Abedi Pelé, a maior glória da história do futebol ganês. E um fã assumido de Cristiano Ronalo.

É Ayew quem conta: «Em casa do meu irmão são todos doidos pelo Ronaldo. Estão sempre a dizer-me: viste o Ronaldo? Parece que ele vive lá em casa! Já perguntei a algumas pessoas: Gana ou Portugal? E ficam divididos alguns!»

«O meu irmão diz que lhe vai custar muito torcer contra o Ronaldo. Diz que não gosta de ver o Ronaldo perder. Gosta muito dele. Uma vez disse-me: irmão, sabes porque gosto tanto do Ronaldo? Porque ele não gosta de perder. Quando eu jogava também era sim. Tinha o mesmo caracter», revela.

Ayew vai estar em Brasília, esta quinta-feira, a assistir ao encontro. Apesar do mau momento de Portugal e mesmo de Cristiano Ronaldo, sabe o que diria ao craque se o visse: «Dizia-lhe para ter cuidado. A defesa do Gana é fraca, não precisa marcar muitos. Dois chega, está bem?»

E Portugal depende só de Ronaldo? Ayew acha que a equipa «vale pelo coletivo», mas tendo «o melhor do mundo», pode resolver um jogo complicado.

«O Moutinho também é muito bom, é um dos melhores médios do mundo. Está ao nível do Xavi ou do Iniesta. Tem muito boa visão de jogo», elogiou.

Para o final, Ayew deixa um recado interno: «Acho que o Gana está convencido de mais.»

«Homens, mulheres crianças falam em chegar às meias-finais. Há oito anos, na Alemanha, fomos aos oitavos-de-final; há quatro anos aos quartos-de-final e agora todos falam nas meias-finais. No futebol tudo pode acontecer, mas com a equipa que temos, acho que é preciso jogar muito bem e rezar para passar a primeira fase», completa.

Um golo de Ayew no jogo do título do Sporting em 2000: