Pedido expresso de Jorge Jesus, Mattheus Oliveira entrou no Sporting em 2017. William Carvalho e Adrien Silva estavam para sair, o futebol do esquerdino agradava muito ao treinador e as expetativas do filho do histórico Bebeto eram completamente fundadas. Saiu tudo ao lado. 

A permanência dos internacionais portugueses, além da entrada de Bruno Fernandes, roubaram a Mattheus o espaço que ele esperava ter. Nesta entrevista ao Maisfutebol, o ainda médio do Sporting - o contrato expira em junho de 2022 - considera Jorge Jesus «o melhor treinador» com quem trabalhou e estranha apenas que José Peseiro não lhe tenha dado mais oportunidades no Sporting. Afinal, em Guimarães foi titularíssimo com o técnico ribatejano.


PARTE I: «O Ruben Amorim deu-me esperanças, mas acabei por não jogar»

PARTE III: «Fiz uma grande exibição na Luz e assinei pelo Sporting no dia a seguir»


Maisfutebol – Com que impressão ficou do Jorge Jesus?

Mattheus Oliveira – Foi um dos melhores treinadores com quem trabalhei, se calhar o melhor. Ele tem uma leitura tática muito boa, a linha defensiva dele é uma coisa espetacular. Tem aquele jeito dele, explosivo, mas se soubermos assimilar que ele faz isso para o nosso bem, as coisas correm da melhor forma. O Gelson Martins, por exemplo, tornou-se um jogador diferente por trabalhar com o Jesus. E por isso foi vendido ao Atlético Madrid e depois ao Mónaco. Foi um dos melhores treinadores que conheci.

MF – Apesar de ter sido um pedido do Jorge Jesus, acabou por jogar poucas vezes com ele.

MO – Tenho de ser honesto. Eu tinha 23 anos quando cheguei ao Sporting, tinha poucos anos de Europa, e quando eu fui contratado havia a forte possibilidade de o William Carvalho e o Adrien Silva serem vendidos. Mas ficaram. Quero jogar sempre, mas havia William, Adrien e Bruno Fernandes, o meio-campo de Portugal. Tive de saber esperar. Tive a oportunidade de me estrear na Liga dos Campeões contra o Olympiakos, que era um sonho antigo, mas queria jogar mais. Só que com aquele trio… fui treinando, estava preparado e até apareci bem contra o Oleiros na Taça de Portugal, marquei um golo. A concorrência era fortíssima, tive de entender isso.

MF – Saiu por empréstimo para o Vitória por vontade sua ou por decisão do Jesus?

MO – Lembro-me perfeitamente. Estávamos em janeiro e o Armando [Marques] e o Flávio Meireles, dirigentes do Vitória, ligaram-me a convidar. Eu tinha feito uma grande exibição ainda pelo Estoril contra eles, com um golo num 3-3 memorável. O treinador do Vitória era o Pedro Martins e deu-me os parabéns pela minha exibição. Depois eu fui para o Sporting, foi tudo adiado até essa abordagem em janeiro de 2018. ‘Olha, precisamos de um médio com as tuas características e sabemos que vais ser muito feliz cá’. No mesmo dia o Pedro Martins também me telefonou, disse que gostava do meu futebol e que ficava muito contente se eu fosse. Eu gostei da abordagem, mas senti que tinha chegado ao Sporting há pouco tempo e que precisava de lutar pelos meus minutos.

MF – Mas acabou mesmo por sair.

MO – Decidi que no dia a seguir tinha de falar com o Jorge Jesus. ‘Mister, vim para jogar, sei que tenho poucos minutos e há esta possibilidade’. Ele respondeu-me assim: ‘Mattheus, fui eu que pedi a tua contratação e estou satisfeitíssimo com o seu trabalho. Sei que estás a jogar pouco tempo e a decisão é tua, o clube é muito bom. Não me arrependo de te ter trazido’. Sentei-me com a minha família e achámos que jogar seis meses em Guimarães ia fazer-me bem. Fui muito bem recebido pelos adeptos, recebi logo mensagens, fui muito feliz e por isso é que fiquei lá um ano e meio.

MF – Gostou de trabalhar com o Pedro Martins, José Peseiro e Luís Castro?

MO – Com o Pedro estive pouco tempo e fiquei triste, porque foi ele a convidar-me. Gostei bastante do que vi. Com o Peseiro estive em Guimarães e no Sporting, não tenho nada contra ele e sempre nos demos bem. O Luís… foi engraçado. Falávamos muito no início, eu dizia que tinha de ser assim, ele disse que era assado e lá nos entendemos, foi muito bom. Quando ele saiu para o Shakhtar enviei uma mensagem para ele, disse-lhe que ia ganhar coisas maiores. Ainda hoje contacto regularmente com os adjuntos do mister. Acho que foi com ele que fiz a minha melhor época em Portugal. Tivemos uma boa relação.

MF – Foi titularíssimo com o José Peseiro em Guimarães, mas em Alvalade não entrou nos planos dele. Como se explica isso?

MO – Ainda não entendi muito bem. Depois da meia época que fiz em Guimarães, esperava outra coisa. Ainda por cima recebi uma mensagem do adjunto e filho dele, o Vítor, criei expetativas. Eu acho – é uma suposição – que teve a ver com a indefinição diretiva, as coisas estavam algo desorganizadas. Eu fui contratado ainda pelo presidente Bruno Carvalho e nessa altura, com as mudanças, eu nem sabia bem com quem falar. O José Peseiro não tinha… não digo autonomia, ele estava dependente daquilo que poderia acontecer. Eu queria e sabia que podia ajudar. O Sporting estava com falta de jogadores, mas o futebol é assim. Voltei para o Vitória e fiz a minha melhor época em Portugal.