Mattheus Oliveira assinou em 2017 um contrato válido por cinco temporadas com o Sporting. Só teve algumas oportunidades na primeira época, ao serviço de Jorge Jesus. O médio brasileiro, de 26 anos, teve de voltar ao Brasil para reencontrar o futebol com que deslumbrou Jesus ainda com a camisola do Estoril-Praia. 

Apesar da passagem forte pelo Vitória de Guimarães, com um ano e meio de empréstimo, em Alvalade continuou a não ter oportunidades. José Peseiro, Marcel Keizer, Jorge Silas e Ruben Amorim, em momentos distintos, continuaram a não olhar com atenção para o talentoso esquerdino. 

Em entrevista ao Maisfutebol, depois de mais um treino no Coritiba - o contrato de empréstimo acaba no final de junho - Mattheus abre a alma e fala sobre a ligação que já vai longa com o emblema de Alvalade.
  

PARTE II: «O Jesus disse que estava satisfeitíssimo comigo»

PARTE III: «Fiz uma grande exibição na Luz e assinei pelo Sporting no dia a seguir»

Maisfutebol – Depois de Guimarães voltou ao Sporting, esteve de fora uns meses e foi reintegrado mais tarde.

Mattheus Oliveira – Disseram-me que o Marcel Keizer não tinha acompanhado bem a minha época. Se foi uma opção dele, tenho de respeitar. Não posso questionar, apenas discordar respeitosamente. Acho que tinha feito uma excelente temporada em Guimarães.

MF – Foi nessa altura que o presidente Frederico Varandas disse que o Mattheus Oliveira não quis sair para jogar futebol. O que se passou, afinal?

MO – Recebi propostas que não me interessavam nada, até pela época que fiz no Vitória. Disse logo que o meu foco não era o dinheiro e que a prioridade era continuar em boas equipas. Acreditei que ia ter pelo menos uma oportunidade. Fui reintegrado pelo Silas e meti na cabeça que ia dar tudo e que tinha qualidade para jogar. O Bruno Fernandes e o Coates vieram falar comigo a elogiar-me, o Silas foi um bom treinador e depois entrou o mister Ruben Amorim. Ainda me levou para alguns jogos, deu-me esperanças, mas infelizmente não tive minutos e não joguei.

MF – Ficou chateado?

MO – Eu queria ajudar o Sporting e fiquei chateado por não ajudar o Sporting. Sou um atleta do clube, um ativo, mas não tomo as decisões. Não há mágoa nenhuma, as coisas foram assim.

MF – O Ruben elogiou publicamente a sua postura nos treinos.

MO – É verdade, tive boas relações com o Silas e com o Ruben. Não tenho coisas más para dizer deles. Antes do jogo em Guimarães, o Ruben chamou-me para falar e eu não estava à espera: ‘Olha Mattheus, pelo que tens mostrado nos treinos, mereces ir para o jogo. Coloco-te a lateral esquerdo, a trinco, a extremo e nunca reclamas’. Disse-lhe que podia contar comigo na posição em que fosse necessário. Eu só fiquei chateado por nunca ter conseguido ajudar o clube. Só posso estar grato ao clube. Contratou-me e ofereceu-me um contrato de cinco anos. Há coisas do futebol que não controlamos. Nunca fui de falar na imprensa e nas redes sociais, estive sempre disponível. Até os adeptos falavam comigo, perguntavam por que não jogava. Eu não cheguei ao Sporting por acaso. Cheguei pelo que mostrei no Estoril. Ficam as amizades. Tenho mais um ano de contrato, nunca se sabe.

MF – Neste último verão, o Ruben Amorim disse-lhe que não contava consigo?

MO – Não me disse nada, não conversámos. Eu estava há tanto tempo sem jogar, não fazia sentido ficar e continuar a não ser opção. Fui eu que pedi aos meus empresários para me arranjarem uma solução, porque treinar bem não é a mesma coisa do que jogar. Foi assim que surgiu o Coritiba. O Jorginho era o treinador e já me conhecia dos tempos do Flamengo. Conhece-me desde pequeno, conhece o meu futebol há muitos anos. Não me contratou só por ter sido colega de seleção do meu pai. Além da parte desportiva, havia a parte familiar. A minha filha ia nascer e eu queria que ela nascesse perto da minha família. Com a pandemia, não ia ser possível estar a viajar constantemente entre Portugal e Brasil. Somos uma família muito unida e essa foi a melhor opção.

MF – O Sporting está à frente do campeonato. Trabalhou com o Ruben Amorim, conhece-o bem. O que identifica do Ruben nesta equipa?

MO – A forma de jogar é aquela que o Ruben já queria na época passada. Ele sempre teve o seguinte pensamento: ‘vamos jogar sempre assim, independentemente do resultado e do adversário’. Aliás, lembro-me de um jogo em que o Ristovski foi expulso e o Ruben podia ter metido um outro lateral e tirado um central, mas ele manteve a linha de três atrás. Tem convicções e ideias bastante vincadas.

MF – E do ponto de vista humano, que imagem guarda do Ruben?

MO – O Ruben jogou à bola e tem a linguagem do jogador, às vezes há treinadores que não conhecem isto. Jogou a um alto nível, seleção, e acredita muito nas ideias dele. Nada o faz mudar de ideias e isso é relevante. Um bom treinador tem de acreditar nas próprias ideias e saber passá-las aos jogadores. O Ruben tem isso, como o Jesus também tem. Acredito, e isso sou eu que digo, que o Jesus até seja uma referência para o Ruben, por alguns trabalhos que ele nos pedia.