A renovada Eslováquia procura a terceira presença seguida na fase final de um campeonato da Europa, depois de ter chegado aos oitavos-de-final na estreia, no Euro 2016, em França, e de se ter ficado pela fase de grupos no Euro 2020, quando várias das principais figuras de uma geração estavam na fase descendente das suas carreiras.

A seleção eslovaca é segunda classificada no grupo J com 13 pontos, menos cinco do que Portugal, mais três do que o Luxemburgo. E são, precisamente, esses dois países que visita por estes dias. O objetivo está assumido: ganhar jogos, o que até poderia garantir já a qualificação.

«Precisamos de somar pontos, especialmente no Luxemburgo, que é o nosso concorrente direto para o segundo lugar de apuramento», disse o experiente avançado Róbert Mak, que agora joga na Austrália, no Sydney FC. Ele é um dos quatro jogadores da equipa com dois golos marcados nesta fase de qualificação.

Mas a Eslováquia não descarta o jogo de sexta-feira, no Dragão. Stanislav Lobotka, o «motor» do meio-campo, considera que «vão ser dois jogos fisicamente exigentes, especialmente contra Portugal». «Não vai ser fácil porque os portugueses têm uma força enorme, mas no primeiro jogo vimos que podemos jogar com eles e criar oportunidades. Temos de as aproveitar», acrescentou o médio do Nápoles.

É um dos temas mais falados em redor da seleção orientada por Francesco Calzona: o desempenho de Portugal neste grupo. As seis vitórias, os 24-0 no registo de golos. Os eslovacos querem acabar com os teimosos zeros nas colunas das derrotas (ou empates…) e dos golos sofridos.

«Sabemos o que nos espera. Vamos somar pontos!», garantiu o selecionador dos ‘Falcões’. E não estava a falar apenas da viagem ao Luxemburgo, na próxima semana.

«Seríamos estúpidos se não fossemos a Portugal com a intenção de dar o nosso melhor. São três pontos em jogo, não vamos brincar com o nosso nome, não querer tirar algo desse jogo seria um erro», considerou o técnico italiano, acrescentando que vão «começar a pensar no Luxemburgo depois do jogo em Portugal».

De adjunto a selecionador

Francesco Calzona, 54 anos, começou como treinador amador, ao mesmo tempo que trabalhava como vendedor de café. Foi, depois, adjunto de Maurizio Sarri, Eusebio Di Francesco e de Luciano Spalletti. Boa escola. No Nápoles chegou ao mais alto nível. E foi de lá que partiu, em 2022, para assumir o cargo de selecionador da Eslováquia, que vinha de uma dececionante campanha na Liga das Nações da UEFA.

O convite pode ter sido surpreendente, mas, na verdade, os resultados começaram a melhorar.  Com o italiano, a Eslováquia fez dez jogos, venceu quatro, empatou outros quatro e só perdeu dois – um deles, com Portugal, em setembro; o outro foi o da estreia, com o Azerbaijão, ainda na Liga das Nações.

Calzona costuma montar a equipa em 4-3-3, com vocação ofensiva. Gosta de ter uma atitude pressionante, agressiva, procurando forçar erros do adversário. Tentou isso frente a Portugal, em Bratislava.

«Vimos no jogo em nossa casa que podemos vencer Portugal», disse o ‘capitão’ Milan Skriniar, colega de vários internacionais portugueses no PSG. «Falei com o Vitinha, o Danilo e o Gonçalo Ramos e todos disseram que ficaram surpreendidos com o nosso estilo, não estavam à espera de ser atacados daquela forma, obrigámo-los a correr mais do que esperavam», acrescentou.

Skriniar garantiu ainda que, no Porto, «a intenção é obrigar Portugal a fazer coisas de que não gosta».  Os eslovacos salientam que ainda há 12 pontos para disputar e que nada está decidido.

Herdeiros de Hamsik

Marek Hamsik ainda é a grande referência do futebol da Eslováquia pós-independência. O mais internacional da história do país, com 138 presenças na seleção, e o melhor marcador, com 26 golos. Marcou uma geração.  

Terminou a carreira há poucos meses, no final da última época. Mas já tinha renunciado à seleção um ano antes. Na altura, com os maus resultados a sucederem-se e a Eslováquia em queda livre no ranking da FIFA (está agora no 48º lugar, longe do seu melhor, o 14º, em agosto de 2015) temeu-se que o futebol do país, ‘órfão’ de Hamsik, não se reencontrasse.

Francesco Calzona, no entanto, conseguiu reagrupar os jogadores, encontrar outros líderes e lançar novos talentos.

Nesta convocatória tem dois estreantes: Dominik Holly, médio ofensivo de 19 anos do Trencin – que lidera a liga do país – e Leo Sauer, extremo de 17 anos do Feyenoord, dos Países Baixos. Ele é o mais jovem de sempre a ser chamado à seleção A da Eslováquia – e também o mais jovem jogador do país a atuar na Liga dos Campeões da UEFA.

Foram chamados, segundo o selecionador, «para adquirirem hábitos e se integrarem na seleção», mas podem ser surpresas frente a Portugal.

Segurança defensiva…

Apesar de ser uma equipa com vocação ofensiva, a Eslováquia tem tido algumas dificuldades em marcar golos. Somou até agora apenas oito, menos dois do que a penúltima classificada Islândia. Tem compensado com a segurança defensiva, sofrendo apenas dois golos.

A solidez começa na baliza, onde Dubravka é quase indiscutível, apesar de não jogar no Newcastle. «Ele é o melhor guarda-redes da Eslováquia», afirmou o selecionador, apesar de garantir que respeita os outros convocados. Na verdade, Rodak, a segunda opção, também costuma ser suplente no Fulham.

Na defesa, a maior dúvida é saber quem joga ao lado de Skriniar. Contra Portugal esteve Vavro, do Copenhaga. No jogo seguinte, vitória sobre o Liechtenstein, jogou Gyomber, da Salernitana.

Pekarik, do Hertha de Berlim, e Hancko, do Feyenoord, costumam ocupar as laterais, apesar de Tomic ter vindo a ganhar protagonismo no lado direito.

O meio-campo, uma verdadeira casa das máquinas, tem Lobotka como dínamo. Com ele, podem estar o mais experiente Duda, do Verona – que até sabe surgir a marcar golos – e Bénes, do Hamburgo. Se o selecionador preferir mais experiência, ainda há Kucka para o bloco central.

…e uma ‘pantera’ no ataque

Na frente, há uma dúvida: Haraslim, do Sparta de Praga, está a recuperar de uma lesão muscular, mas não foi dispensado, já que foi visto como recuperável. Se estiver apto, deve compor o tridente ofensivo com Mak e o boavisteiro Bozenik, como ponta-de-lança. A menos que o selecionador opte por retirar essa figura da equipa, para reforçar o meio-campo e apostar em avançados móveis, sem dar uma referência à defesa portuguesa.

A boa forma de Bozenik, no entanto, tem sido um dos temas mais abordados na concentração da equipa eslovaca. «Está numa fase como há muito não se via», escreve a imprensa do país.

«Sempre acreditei em Bozenik, ele é importante para a seleção», garante o treinador. O facto de o jogo ser na cidade do Porto, onde agora faz vida e profissão, pode pesar a favor do boavisteiro para entrar no onze. Contra, o facto de não marcar um golo na seleção há dois anos…

Calzona, de resto, também lembra que Suslov «tem estado bem no Verona» e que Tupta, do Slovan Liberec, «pode fazer golos e ser utilizado em várias posições». Além de que, na receção a Portugal, Ivan Schranz, do Slavia de Praga, jogou de início. O bom início de época do goleador do Boavista pode pesar na decisão.  

Bozenik, ele próprio, diz que está «mais forte, mais maduro, mais inteligente e mais rápido». Avisou os colegas de que as pessoas, no Porto, «estão ansiosas por este jogo, está tudo esgotado» e que vão encontrar «um ambiente fantástico». Mas garantiu: «vamos ao Porto para jogar e tentar não regressar de mãos vazias».