Embora seja injusto colocar todos os jogadores dentro do mesmo saco, é quase unânime que é da mais elementar justiça arranjar um saco apenas para Oleguer Presas.
O defesa do Barcelona é quase um caso único, «um tio raro», como dizem os espanhóis.
Recusa-se a perder a individualidade em troco do dinheiro que os clubes pagam pelo silêncio dos jogadores, gosta de ter ideias próprias e faz questão em defendê-las sempre.
O escritor Antoni Damases referiu-se a ele como «o defesa contundente que tem alma».
Nos últimos dias voltou a ser notícia por estar mais uma vez a contas com a justiça, desta vez por agressão a um polícia.
Aconteceu em Sabadell, a sua cidade natal, e pode levá-lo durante três anos para trás das grades de uma prisão. Não é a primeira vez.
Já há alguns anos o jogador tinha sido condenado em tribunal, na circunstância por se ter juntado a um grupo de independentistas catalães que ocuparam um prédio devoluto e acabaram por envolver-se em confrontos com os polícias que os expulsaram do local.
Anarquista, independentista e crítico do sistema parlamentar...
Os confrontos com a polícia só vêm evidenciar o carácter anarquista de um homem que antes de mais se assume como um independentista catalão, militante anti-globalização e crítico do actual sistema parlamentar, que considera «um grande teatro de marionetas».
Por afinidade apoia também a causa dos independentistas bascos, tendo há cerca de um ano escrito um artigo de opinião em que comparava o estado espanhol à antiga polícia política de Franco, por manter o terrorista De Juana Chãos preso há vinte anos.
Esse artigo de opinião veio aliás roubar-lhe o contrato de patrocínio com uma marca desportiva, a qual justificou que trabalha com desportistas e não com políticos. Oleguer pouco se importou. Manteve as convicções políticas e continuou a defendê-las sempre.
... escritor e articulista
Homem culto, académico, é licenciado em Economia pela Universidade de Barcelona e começou entretanto a estudar também História Política. Escreveu o livro A caminho de Ítaco, onde expôs as reflexões sociais e políticas, e vários artigos na imprensa.
São essas reflexões e a forma como as defende, aliás, que o tornaram num dos jogadores mais queridos dos adeptos do Barcelona. Há mesmo quem diga que a titularidade na equipa de Rijkaard se justifica pela forma como é defendido pelos adeptos catalães.
Especulações à parte, é indesmentível que Oleguer Presas é diferente. Um «tio raro», lá está. Um jogador de futebol de aspecto anarquista, espírito comprometido e convicções tão questionáveis como quaisquer outras. Mas respeitáveis de tão corajosas.