*Enviado-especial ao Euro 2016
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Dia 11, daqui a três. Fernando Santos tinha razão. Portugal está na final do Euro 2016 e esse objetivo foi cumprido. É apenas a segunda final da história dos AA portugueses, e a primeira fora do seu território. O selecionador também prometeu que regressava em festa, e essa convicção será colocada a toda a prova no domingo, no Stade de France.

Falta ganhar o jogo mais importante de todos. Será preciso bater o país organizador no seu estádio do coração, com um peso histórico esmagador desfavorável. A batalha só por si, sem o ambiente à volta, já seria enorme. O trabalho é ainda maior, hercúleo.

O trajeto não entusiasmou. O jogar-feio continua como rótulo da Seleção e dificilmente o perderá, aconteça o que acontecer na final. Primeiro, três empates e sintomas de desequilíbrio no embate com a Hungria, que seriam resolvidos posteriormente nas partidas a eliminar – Fernando Santos conseguiu fortalecer emocionalmente novamente a equipa, e isso tem mérito. Depois, um golo a acabar no prolongamento fez cair a talentosa Croácia, a eficácia no desempate por penáltis a Polónia e uma boa segunda parte derrubou o estreante Gales no primeiro triunfo nos 90 minutos.

Do outro lado do quadro, a campeã da Europa Espanha seria eliminada pelo último finalista vencido, a Itália, que, por sua vez, cairia perante a campeã mundial Alemanha, agora derrotada pelo organizador. Os favoritos foram saindo de prova pouco a pouco, com Portugal a bater-se com um nível de dificuldade não tão alto, garantido com um golo de um islandês à Áustria nos descontos.

Os tubarões foram mostrando também as suas debilidades. A super-Alemanha cometeu erros infantis na defesa assim que o nível aumentou, a Espanha mostrou-se sem chama apesar dos esforços de um poético Iniesta, e a Itália juntou-se como equipa, mas chegou mal aos penáltis, com aquela dança de Zaza a acentuar a má noite. É preciso não esquecer o sofrimento que Les Bleus tiveram por que passar em alguns jogos da fase de grupos e a Irlanda nos oitavos, com o seu crescimento a sustentar-se depois naquele 5-2 frente à Islândia, em que, mesmo aí, marcaram cedo a aproveitaram alguma inocência dos bons dos nórdicos.

A seu favor, a equipa de Fernando Santos tem a consistência recuperada a nível defensivo, o retomar do controlo dos jogos, mesmo que por vezes numa situação mais passiva, e a união do grupo. Esse gosto pelo controlo também tem o outro lado: a enorme dificuldade de dominar assaltando as balizas adversárias, criando roturas com assistências e movimentos. A primeira parte com Gales foi exasperante. A ponte com o passado em que Portugal era o Brasil da Europa já não existe.

Tem também Ronaldo – que salto gigantesco e golo fabuloso, o terceiro grande momento do capitão neste Euro de altos e baixos – e obviamente que um jogador de classe mundial como é pode ser fundamental. A abrangência de Cristiano tem-se estendido para lá dos relvados e, com os golos a aparecer, esta pode ser mesmo a sua grande conquista pela sua Seleção.

O conjunto de Didier Deschamps atingiu agora em Marselha o seu ponto mais alto dos índices de moral, e viu também Antoine Griezmann confirmar-se como uma das grandes figuras do torneio, afastada que está também aquela ideia de encostá-lo a uma das linhas. Depois de eliminar o campeão do mundo, a França não deixará de pensar que está muito perto de ganhar. Uma sensação que poderá trazer vantagens a Portugal. Isso aliado a foco ao máximo, solidariedade e um pouco de felicidade podem dar a Portugal o que há muito persegue.

As finais são mesmo para ganhar. O selecionador volta a ter razão. Agora, é cumprir o resto da promessa, e voltar em festa para casa. Depois de ter sido o engenheiro do penta, ficaremos muito felizes se for também o engenheiro do primeiro título de Portugal.

LUÍS MATEUS é subdiretor do Maisfutebol e pode segui-lo no TWITTER. Além do espaço «Sobe e Desce», é ainda responsável pelas crónicas «Era Capaz de Viver na Bombonera» e «Não crucifiquem mais o Barbosa» e pela rubrica «Anatomia de um Jogo».