Antes de viajar de férias, William Carvalho esteve com o Maisfutebol para uma entrevista com vista para o rio Tejo. Uma conversa que andou sobretudo à volta do essencial: o título de campeão europeu conseguido no último domingo.

William Carvalho recordou as emoções de um dia inesquecível e revelou o que é que Fernando Santos tem de especial. Também falou de Éder, e de uma capacidade rara que o herói nacional tem, acabando por garantir que vai cumprir uma promessa feita.

Já conseguiu dormir como deve ser?

Esta noite já consegui dormir um bocado. Mas foi difícil. Foi uma euforia muito grande, a euforia de um sonho que se realizou. Como tudo isto ainda é demasiado recente, a verdade é que ainda estou muito eufórico. Ainda não estabilizei totalmente...

E o Mr. Paco já o desculpou?

[risos] Estava com saudades, quase não me reconhecia, mas parece que já se habituou outra vez a mim. Por isso calculo que já me desculpou.

Mas ele foi bem tratado, pelo menos está gordo...

Sim, ele sempre fez questão de se alimentar bem. [risos] Mas foi bem tratado, sim.

 

Já não me respeita 😂😂

Um vídeo publicado por William Carvalho (@wcarvalho14) a

Deixando o Mr. Paco de lado, diga-me uma coisa: é uma pessoa mais feliz agora que é campeão europeu?

Não, acho que não. Sou acima de tudo uma pessoa mais realizada, e isso deixa-me feliz. Todos nós temos sonhos na vida, este era um sonho que tinha, ser campeão pela seleção do meu país, um sonho que consegui concretizar. Por isso sinto-me muito feliz neste momento. Mas sou a mesma pessoa que era antes, apenas mais realizada.

Já encontrou um sítio para a medalha lá em casa?

Não, ainda não. Mas vou ter que arranjar um sítio especial, onde me cruze muitas vezes com ela para a ver e recordar estes dias.

Qual foi a primeira coisa que lhe veio à cabeça quando o árbitro apitou para o fim do jogo?

Para ser sincero, não me veio nada à cabeça. Estava na adrenalina do jogo, ainda, a festejar, naquela euforia toda. Só passado alguns minutos caí de facto na real. Espera lá, sou campeão, ganhei o Europeu por Portugal. Mas aquilo é tanta coisa, tantas emoções, que uma pessoa nem tem bem noção. É impossível até conseguir pensar direito.

Também era impossível agarrar o Éder quando ele marcou?

Eu tentei, eu tentei, mas não deu. Ele vinha fora dele. Praticamente correu o campo inteiro para festejar. Tentei agarrá-lo, mas ele estava muito forte naquele momento...

Quando o Éder recebeu a bola do João Moutinho, também pensou chuta Éder?

Pensei, sim. Conhecendo o Éder, sabendo da forma como ele estava a treinar, sentia que ele estava bem e que podia fazer o que fez. O Éder foi muito criticado, mas grupo sempre teve confiança nele. Por isso naquela altura também eu desejei que ele rematasse.

É curioso que diga que o Éder estava bem, porque a sensação que dá é que nunca se deixou afetar pelas críticas: manteve sempre um sorriso...

E é de facto verdade. Faz parte da personalidade dele não se deixar afetar facilmente pelas críticas. Tem uma grande confiança nele.

Qual foi o momento em que sentiram que a final era vossa?

Quando o árbitro apitou para o fim. Marcámos a dez minutos do fim, mais ou menos, e percebemos que ia ser um sufoco até ao fim. Sentimos que a França ia subir as linhas e ia tentar fazer um golo de qualquer maneira. Ficamos ali um bocado apertados e até ao árbitro apitar não deu para ter a certeza que o jogo estava ganho.

E naquele momento em que o Gignac atirou ao poste, não deu para pensar: isto está feito para nós?

Foi um momento que nos fez acreditar mais, admito. Acreditámos que era muito possível ganhar aquela final.

Quando Fernando Santos disse que só regressava a Portugal dia 11, também pensaram, como Portugal inteiro, que o mister se estava a espalhar ao comprido?

Não, nada disso. Nós sabíamos que não éramos a seleção mais forte, mas tivemos uma grande confiança em nós. O mister sempre teve uma mentalidade muito forte, sempre teve um discurso de que era possível, aquela frase foi apenas mais um exemplo disso.

E o que é que Fernando Santos tem de especial?

Uma crença enorme. É um homem de muita fé e acreditou desde o início. Acho que o segredo foi esse: em primeiro lugar o trabalho que fizemos e depois a fé que o mister nos passou, a crença que havia nas palavras dele em todas as palestras. Foi contagiante.

É verdade que ele é um homem de sorte?

Não, é um homem de trabalho. Ter fé e ter sorte não é a mesma coisa. Vocês dizem que Fernando Santos é um homem de sorte, mas o quê, foi um jogo? Não, foram sete jogos. É possível ter sorte em sete jogos consecutivos? Não, não é. Pode ter-se sorte num jogo, dois, agora em sete jogos é impossível.

Fernando Santos é diferente dos outros treinadores que já teve?

É especial. Muita gente diz que ele acorda todos os dias mal disposto, mas tem uma relação ótima com os jogadores e tenho a certeza que ninguém tem uma razão de queixa que seja dele. Criou um grupo muito forte.

E ele acorda realmente todos os dias mal disposto?

É a maneira de ser dele, é a postura dele. Não quer dizer que esteja chateado... [risos]

Agora vai deixar crescer o bigode?

Vou. Fiz uma promessa, portanto vou deixar crescer o bigode.

Até onde? Um bigode à Hercule Poirot?

[risos] Não sei, não sei. Depois veem. Vai ser surpresa.

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