O F.C. Porto foi ao banco reclamar créditos para conquistar os adeptos e despedir-se do Dragão com uma vitória segura (3-0). Moutinho, Kléber e James endireitaram o que nasceu torto e compensaram os adeptos que aguentaram uma parte monótona. Mérito inicial para o Paços, antes do acto suicida que abriu o repasto.

Vítor Pereira prometera uma despedida de casa que orgulhasse os adeptos portistas. Os dragões fazem as malas para jornadas decisivas fora da Invicta, iniciando o périplo com um teste milionário no Chipre.

A receita para a noite de sexta-feira era a mesma. Repete-se o onze, junta-se um visitante inusitadamente familiar e anuncia-se um serão bem passado, uma refeição à medida de um Dragão esfomeado de boas exibições.

O convidado chegou bem cedo. Trouxe entusiasmo, irreverência, começou desde logo a agitar a noite, contra as regras da casa. Entre os locais, um estranho nervosismo, confundido à primeira vista com preguiça.

A monotonia do divã

O F.C. Porto convidara as suas gentes com mão cheia de promessas e outra de incertezas camufladas. Ninguém queria assumir o papel de bom anfitrião, preparar o repasto, aquecer a noite fria.

Num ápice, entrou-se na monotonia do divã, olhos colados num filme sem rasgos de criatividade, todos à espera que outro assumisse a iniciativa, muitos com medo de errar, de inventar, de ficar mal e estragar o serão.

Hulk passava ao lado do jogo, Walter falhava o que aparecia, Belluschi e Varela tentavam inverter a tendência fatalista, um atirava a centímetros do poste e outro tentava enganar Cássio, num remate disfarçado de cruzamento e desviado para a trave. Parecia pouco.

O Paços, moralizado por duas vitórias consecutivas, crescia à esquerda e ameaçava Helton. Luisinho e sobretudo Melgarejo reclamavam protagonismo. Ele chegaria a segundos do intervalo, com candidatura directa ao momento hilariante do ano.

Uma Melga na baliza errada

Alvaro Pereira aproveitou o único trago de acerto de Hulk, tabelou com o Incrível e descobriu o Inacreditável. Luisinho e Melgarejo, dois feitos num, acumularam erros até o português acertar no paraguaio e a bola seguir para o fundo da baliza de Cássio.

Acaso do destino. Melga, o mais inconformado dos visitantes, o avançado moralizado pela convocatória do Paraguai, motivado pela oportunidade de levar um sorriso ao patrão (jogador dos quadros do Benfica), estava no local errado à hora errada. Não merecia.

Hulk como Ricardo Quaresma

Os adeptos portistas, 30 mil que cantaram e incentivaram no período de monotonia, só denotaram falta de tolerância a Hulk. O brasileiro queria levantar a plateia mas não teve uma ideia boa, um momento de inspiração, tudo soava a repetitivo, forçado, egoísta e até disparatado.

A fronteira entre o génio e a loucura é ténue. Quaresma terá sido o último a experimentar o que Hulk sentiu esta noite. Vítor Pereira desconfiou da vantagem e mexeu. Moutinho, Kléber, depois James. À terceira, com hora de jogo, tirou a figura de cartaz.

Foi o momento da noite. Por um lado, o treinador reconquistou os adeptos. Por outro, colocou o brasileiro no banco dos réus. O público respondeu em uníssono. Veredicto: culpado. Aplausos para a entrada de James, assobios para o Incrível, jogador irritado, rumo ao balneário.

O melhor ficou para a ceia

O segundo golo do F.C. Porto terminou o episódio. O Paços reentrara bem mas, uma vez mais, as substituições provaram que o melhor dragão estava no banco de suplentes. Toque de Moutinho, remate de James ao poste, recarga pujante de Kléber. A festa, finalmente.

A equipa fez o resto. Não mais baixou o ritmo, o Paços perdeu embalagem e a noite terminou com aplausos. O melhor estava guardado para a ceia. A refeição servida tardiamente, na segunda leva, com Moutinho a apresentar a conta, terceiro golo num remate de raiva, com o pé esquerdo.