James Dean celebrizou o paradigma: live fast, die young. O lema de vida, pertinente, tem no FC Porto de Paulo Fonseca um seguidor fundamentalista. Viver depressa, morrer jovem, no sentido de andar constantemente em risco, no lado selvagem da vida, a saborear os prazeres e a piscar o olho ao perigo.

O estilo não é saudável, envolve um sem número de opções pouco recomendáveis e, na verdade, pode facilmente dar para o torto. Mas, como se viu neste Clássico, o dragão junkie tem também momentos de puro deleite e fruição, como se o amanhã não fosse mais do que uma maçadora inevitabilidade.

Neste limbo, por vezes espetacular, por vezes perturbador, o FC Porto goza, afronta e sai por cima, já depois de se olhar no espelho e tremer sem necessidade, como se não gostasse do que vê no próprio reflexo.

FICHA DE JOGO E NOTAS AOS ATLETAS

A estrutura organizada, segura, ajuizada,que fazia a cama, dobrava o pijama e escovava os dentes três vezes por dia, já não mora no Dragão. Vítor Pereira saiu para as Arábias e levou atrás de si o lado ajuizado deste Porto.

Por opção ou mera birra de quem se vê forçado a reformular os ideais, o dragão é por estes dias um corpo confuso. Ganhou ao Sporting, ganhou bem, foi realmente convincente no segundo tempo, mas para lá chegar viveu uma série de equívocos pouco compreensíveis.

O lado bom da equipa, com Josué e Lucho a ter bola e a acertar no passe, Jackson a recuar e a tabelar, Silvestre Varela a ir à linha e cruzar, os centrais a não inventar, esteve no relvado só ao longo da segunda parte.

OS DESTAQUES DOS LEÕES: é bom ver William Carvalho


Em vantagem no marcador desde cedo, golo de Josué a castigar um penalty tão infantil quanto claro de Maurício a Alex Sandro, o FC Porto ainda permitiu o empate a William Carvalho. Mais um livre mal defendido, com o jovem e competente leão a empurrar para a baliza de Helton.

A partir daí, sim, surgiu a melhor versão deste FC Porto rebelde. Diríamos, de resto, que a última meia-hora foi das melhores coisas que os tricampeões nacionais já fizeram este ano. E a revogação de toda a inconsciência surgiu no minuto certo, imediatamente a seguir ao 1-1.

Danilo, tão errático no primeiro tempo, arrancou um lance de inspiração e fuzilou Rui Patrício com um tiro de pé esquerdo. Estava feito o segundo dos portistas e depois, exceção feita a um cabeceamento perigosíssimo de Fredy Montero, foi tudo azul e branco, foi tudo perfeição no mundo do Dragão.

OS DESTAQUES DOS DRAGÕES: Josué saiu cedo


Para que a angústia se dissipasse por completo, Lucho fez o terceiro, faltavam ainda 17 minutos para o fim. O Porto despiu as jeans rotas, a t-shirt justa, as sapatilhas manchadas e o cigarro a queimar no canto da boca. Vestiu o fato de respeitável executivo, ajustou a gravata e fez-se à vida.

Leonardo Jardim e o Sporting acabaram por ser ultrapassados pelos acontecimentos. Até ao descanso, o 4x3x3 leonino esteve razoavelmente afinado, embora curto. O erro juvenil de Maurício deixou a equipa encostada às cordas, mas depois teve períodos de controlo interessante sobre o oponente.

Enquanto o FC Porto foi deficiente no ataque organizado e só saiu com perigo em recuperações de bola/transições, o Sporting esteve confortável e sempre a espreitar a igualdade. No entanto, lá chegado, espalhou-se logo a seguir. Alguns chamam a isto dores de crescimento.

Clássico terminado, cinco pontos de vantagem do FC Porto sobre Sporting e Benfica. Para uma equipa esclarecida e sensata, com uma boa conta-poupança e um PPR à espera, a vantagem seria provavelmente irrevogável.

O jovem dragão, porém, ainda comete excessos e afronta o bom-senso. Olha ao espelho e não pode gostar de tudo o que vê. A fórmula viver depressa e morrer jovem só se ajusta ao Passeio da Fama, em Los Angeles. A liga portuguesa é para resistentes.