A rábula vivida pelo árbitro Miguel Nogueira no Estádio do Dragão, durante o FC Porto-Arouca deste domingo, aparece um pouco espelhada nas páginas da imprensa internacional: de Espanha, ao Brasil, do Uruguai aos Estados Unidos, de Itália a Inglaterra.

«O futebol português supera-se: VAR falha, a decisão é tomada por telefone, golo marcado aos 109 minutos e pedido de impugnação do jogo», titula por exemplo o espanhol Relevo.

«Surrealismo no Porto: árbitro ao telemóvel e golo aos 109 minutos», destaca o As, também em Espanha, enquanto o Soccer Odd, dos Estados Unidos, fala num «grande caos».

«Árbitro em momento de choque forçado a usar o telemóvel para verificar um penálti no VAR... antes de mudar de ideias sobre a decisão», escreve o The Sun.

Já em França, a RMC, destaca que «o Porto chora um escândalo após penálti anulado pelo VAR quando o árbitro não conseguiu ver as imagens».

«O jogo ficou marcado pelos descontos alargados, anunciados para 17 minutos, mas prolongados até os 22 minutos. Também surgiu polémica em torno do VAR, que anulou um penálti sem permitir a visualização das imagens pelo árbitro», adianta a rádio de Monte Carlo.

Por todo o lado, de resto, a imagem do árbitro Miguel Nogueira ao telemóvel, num momento raro no futebol e que deixa uma péssima imagem da Liga Portuguesa.

Sport, de Barcelona:

«Mas o mais marcante aconteceu quando Miguel Nogueira, árbitro do jogo, marcou grande penalidade por falta de Milanov sobre Mehdi Taremi, numa jogada ocorrida nos descontos. O VAR teve opinião diferente e, ao chamar Nogueira para ver as imagens, foi registada uma falha tecnológica que o impediu o acesso às imagens. Depois de cinco minutos sem resolver o problema e com Nogueira a falar ao telefone com o VAR, a decisão dos árbitros assistentes prevaleceu e o penálti foi anulado, embora o FC Porto tenha tido outro que Galeno falhou.»

Futbol.uy, de Montevideu:

«Falhas no VAR geraram um final de jogo louco. O árbitro recuou após uma decisão chave sem ver a repetição. Cristo González tinha colocado a equipa visitante em vantagem aos 84 minutos, quando parecia que o fim estava próximo. No entanto, o jogo acabou por prolongar-se até aos 110 minutos. O árbitro marcou penálti sobre Taremi aos 91', mas houve erros na comunicação do VAR e da cabina avisaram por telemóvel o juiz principal que não houve falta. Embora não tenha conseguido ver as imagens, ele confiou nos colegas e recuou na decisão.»

El Relevo, de Madrid:

«No Porto-Arouca decidiu... o VAR! Exatamente assim, como leram. A tecnologia do Estádio do Dragão avariou e o árbitro Miguel Nogueira perdeu a ligação com a sala do VAR no momento mais decisivo do jogo, após assinalar um penálti de Bogdan Milovanov sobre Mehdi Taremi à entrada do minuto 90. Nem sequer funcionava o monitor, localizado entre as bancadas. Nesta situação, telemóvel no ouvido e a decisão final coube a Rui Oliveira, presente a mais de 300 quilómetros do local dos acontecimentos. O árbitro de campo não viu as imagens em nenhum momento. A verdade, porém, é que a decisão final foi a correta. Taremi sentiu o contacto de Milovanov, antigo jogador do Real Sporting, e atirou-se para o relvado. O árbitro, após ouvir a análise do VAR, conversou com os dois treinadores e invalidou o penálti a favor do Porto, que buscava uma nova reviravolta. Nessa altura, os Dragões perdiam por 0-1, graças ao golo do jovem madridista Cristo González, contratado pelo Arouca a custo zero neste verão. Mas um jogo contra o Porto é muito longo, embora talvez nunca tão longo como este domingo. O árbitro só deu o apito final aos 112:03. E nos descontos aconteceu tudo. Além do que já foi noticiado, houve nova penalidade a favor dos azuis e brancos, desta vez confirmada pelo VAR. Penálti máximo que Galeno não conseguiu converter contra o uruguaio Ignacio de Arruabarrena. Depois, aos 109 minutos, já ultrapassados os 17 minutos de descontos, o empate veio com muita participação espanhola. Iván Jaime, a última contratação do Porto, marcou um cruzamento com música que Fran Navarro e Evanilson mandaram para o fundo das redes. Um desfecho com muita tensão e conotações surreais que deixa em frangalhos a imagem do futebol português.»

Diário As, Madrid:

«Poucos jogos mais estranhos se viram ultimamente no Estádio do Dragão, no Porto, onde a equipa local tem somado pontos nos descontos. Desta vez foi apenas um, frente ao surpreendente Arouca, que viu a vitória escapar em longos acréscimos de 20 minutos. A verdade é que nesse prolongamento o jogo deixou várias imagens curiosas. A maior delas foi ver o árbitro da partida, Miguel Nogueira, consultar o VAR sobre um possível penálti a favor do Porto. A comunicação com o vídeoárbitro, Rui Oliveira, acabou por ser por telemóvel (devido a um problema de bateria do intercomunicador) e, após avaliação, este decidiu não aplicar a pena máxima. Sim, ele faria isso minutos depois, aos 103 minutos, mas desta vez Galeno esbarrou em De Arruabarrena, o guarda-redes uruguaio especialista em penáltis. Finalmente, aos 109 minutos, Evanilson empatou e salvou um ponto in extremis para um Porto que já tinha vencido os dois últimos jogos com golos nos acréscimos (ambos de Marcano). Desta vez, o empate deixa a equipa com 10 pontos e encerra a sequência de três vitórias consecutivas.»

The Sun, de Londres:

«O jogo da Primeira Liga portuguesa entre Porto e Arouca terminou 1-1, mas foi dominado pela polémica com os anfitriões a exigir que o resultado seja cancelado. O Arouca marcou primeiro, por Cristo Gonzalez, aos 83 minutos, antes de as coisas tomarem um rumo agitado e único. O Porto ganhou um penálti aos 90 minutos e o VAR decidiu rever a decisão. O árbitro Miguel Nogueira foi então chamado ao monitor do lado do campo, mas não foi capaz de comunicar com a sala do VAR devido a um erro técnico. Após um longo atraso, o árbitro recebeu um telemóvel e discutiu a possível grande penalidade com seus colegas. Nogueira decidiu então anular a própria decisão, numa partida caótica.»

RMC, de França:

«Para começar, a assistência de vídeo negou um golo ao FC Porto por fora de jogo - por alguns centímetros - de Mehdi Taremi, que marcou de cabeça após cruzamento. Depois, foi a equipa do Arouca a abrir o marcador no terreno adversário, graças a um golo de Cristo, aos 84 minutos. O jogo ficou então irracional. Mehdi Taremi pensou que ganhar um penálti, mas o VAR interveio para anular. Problema: Miguel Nogueira foi contactado pelos assistentes, mas não conseguiu consultar as imagens para tomar uma decisão devido a problemas técnicos. O árbitro recebeu então um telefone da sala de VAR. O que foi suficiente para irritar os dirigentes do FC Porto, que protestaram a partida. Isto constitui uma violação das regras do jogo e um erro de direito suscetível de ter graves consequências no resultado do jogo, denunciou o clube.

RTL, de França:

«O duelo entre FC Porto e Arouca está nas manchetes em Portugal. Em questão, o cenário desta partida, que terminou de forma surpreendente, após 23 minutos de descontos: 17 tinham sido concedidos, mas o tempo adicional fosse prolongado devido a circunstâncias surpreendentes. Com efeito, foram necessários vários minutos para o VAR recusar uma grande penalidade ao Porto, o que aconteceu aos 91 minutos. O árbitro principal teve de consultar as imagens, mas a técnica não acompanhou. Portanto, uma solução teve de ser encontrada. Foi finalmente por telefone que Miguel Nogueira foi avisado pelos colegas, antes de anular o penálti, o que desagradou ao Porto. Este último denunciou um claro desrespeito pelas regras do jogo. Um outro penálti foi marcado aos 103 minutos, mas não foi suficiente, pois Galeno falhou. O Porto, depois, empatou aos 109 minutos. Um jogo lunático e uma situação que irrita o país, onde a arbitragem está agora no centro de um grande debate.»

Corriere dello Sport, de Itália:

«O futebol já nos habituou a tudo. Isto aconteceu em Portugal, onde Porto e Arouca ficaram no 0 a 0 até aos 84 minutos, quando o equilíbrio foi quebrado por um golo de Gonzalez, que colocou os visitantes na frente. A final, porém, foi furiosa, com o Porto na procura desesperada do empate. Taremi caiu na área após contato com um defesa, o árbitro assinou penálti, mas para garantir, decidiu ir ao VAR. Incrivelmente, porém, o monitor não funcionou e o árbitro surgiu ao telemóvel, provavelmente a falar com a sala do VAR. E assim, após esta consulta, decidiu que não era penálti, por entre muitos protestos incríveis da equipa da casa. A ação prosseguiu então e houve outro contacto entre Taremi e um defesa: pontapé de grande penalidade, que no entanto o guarda-redes do Arouca defendeu. O final ilumina-se e só aos 109 minutos é que o Porto chega ao empate, através de Evanilson, após assistência de Borges. Há sempre uma primeira vez para tudo... até no futebol.»

SoccerOdd, dos Estados Unidos:

«Os momentos finais do jogo entre FC Porto e Arouca terminaram num grande caos, neste domingo à noite. O Porto marcou 1-1 aos dezanove minutos dos descontos, mas apresentou protesto à Federação Portuguesa de Futebol após o jogo, devido ao desempenho da equipa árbitro. Tudo aconteceu quando o árbitro Miguel Nogueira apontou para a marca do penálti por falta sobre Mehdi Taremi. Antes que o penálti pudesse ser marcado, o árbitro foi convocado para ver o ecrã do VAR. Houve, no entanto, um problema quando Nogueira chegou à lateral: o ecrã não funcionava. O árbitro recebeu então um telefone para estabelecer comunicação com o VAR. Nogueira não pôde ver pessoalmente o vídeo e confiou no julgamento do vídeo-árbitro assistente, que considerou não justificar a grande penalidade, que acabou anulada.»