* com Nuno Madureira

O FC Porto joga em Bilbau de mãos dadas com uma motivação histórica: em caso de vitória [e se o BATE não ganhar na Ucrânia] pode garantir a qualificação para os oitavos-de-final da Liga dos Campeões.

É a quarta vez (em 19 presenças) que está numa situação tão favorável numa fase tão precoce da prova.

Para quem prefere o lado mais romanceado e menos matemático, há também um dado nada despiciendo: Julen Lopetegui visitará a casa daquele que é o arqui-rival do clube que sempre apoiou como adepto, a Real Sociedad.

Primeiro, então, os números.

Época 1996/97. Treinado por António Oliveira, e com Mário Jardel a fazer o primeiro ano nas Antas, o FC Porto recebe e vence o Rosenborg por 3-0 (golos de Zahovic, Drulovic e Artur). Chega ao pleno, com 12 pontos, e garante nessa quarta jornada a qualificação.

A classificação ficou assim:

FC Porto, 12 pontos
AC Milan, 6
Rosenborg, 3
Gotemburgo, 3

Época 2009/10. Jesualdo Ferreira até entra a perder em Stamford Bridge (1-0, Anelka), mas vence depois três jogos consecutivos: Atlético Madrid e APOEL, este duas vezes.

Com quatro jogos, a tabela ganhou esta forma:
Chelsea, 10 pontos
FC Porto, 9
At. Madrid, 2
APOEL, 1

Época 2012/13, já com Vítor Pereira no comando técnico dos dragões. Três vitórias seguidas (em Zagreb e na receção a PSG e Dínamo Kiev) e um empate (em Kiev) deixam o FC Porto descansado para as duas últimas jornadas.

O cenário era este, com quatro jogos feitos:

FC Porto, 10 pontos
PSG, 9
D. Kiev, 4
D. Zagreb, 0
  
Desta vez, os dragões podem fechar novamente a quarta ronda com dez pontos. Se o Shakhtar também vencer, algo altamente provável, passa a ter oito pontos. O BATE continuará com três e o Athletic com um.

Julen Lopetegui conseguiria alcançar um dos grandes objetivos da época e, ao mesmo tempo, fazer um pequeno favor à sua Real Sociedad.

No passado mês de maio, o Maisfutebol publicou uma alargada reportagem sobre o técnico espanhol. Julen acabara de chegar ao FC Porto e era praticamente um desconhecido do público português.

Guiados pelo pai, visitámos a casa de família em Asteasu – pequena vila a 110 quilómetros de Bilbau – e ficámos a conhecer alguns segredos do seu passado. Particularmente da infância.

Enquanto José Antonio Lopetegui, uma figura extremamente popular na região, se dedicava ao levantamento de pedras (algumas de 200 quilos!) e à paixão pela carne basca no restaurante da família, os filhos homens entregaram-se a outras atividades desportivas.

O mais velho, também José Antonio, tornou-se num verdadeiro entusiasta da pelota basca. Julen, porém, sempre preferiu o futebol.

Neste reencontro com don José Antonio, fala-se sobretudo da longa relação da família com o azul e branco. E com a certeza de que em Bilbau estará uma alargada representação de Asteasu. Não faltará apoio ao FC Porto.

«Eu não vou, enervo-me muito. Nem pela televisão vejo os jogos do meu filho. É muito raro. Mas o Julen terá lá familiares e amigos», diz-nos o patriarca dos Lopetegui, 84 anos de uma jovialidade impressionante.

«Ainda bem que é contra os de Bilbau. Se fosse contra a Real Sociedad seria mais complicado», continua o señor Lopetegui, antes de explicar o óbvio.

«Não posso dizer que detestamos o Athletic Bilbau»

Asteasu fica perto de San Sebastian, cidade da Real, e dos seus 1000 habitantes poucos são os que não se identificam como adeptos donostiarras.  A família Lopetegui não é exceção.

«Levei o Julen e o irmão desde pequeninos ao Atocha [antigo estádio da Real Sociedad]. Não posso dizer que detestamos o Athletic. Eu até nem ligo a futebol. Mas é verdade que o azul e branco da Real Sociedad sempre fez parte da nossa mobília».

Julen Lopetegui, de resto, vestiu a camisola da Real «a partir dos 16 anos» e até sair para o Real Madrid «aos 19». Entronizou, por assim dizer, o azul e branco nos relvados de Espanha.

«Ainda jogou numa equipa pequena aqui da região [Antíguo], inclusivamente a avançado. Depois foi para a baliza e fez uma carreira muito bonita», diz-nos José Antonio Lopetegui, a partir do País Basco.

A pouco mais de 100 quilómetros de distância da casa da família, em Asteasu, Julen mistura sangue azul e branco com história para tentar derrubar o Athletic.