Se um brasileiro, por acaso jogador de futebol, vive em Portugal há tempo suficiente para se sentir de cá, por que não ter dupla nacionalidade e ser elegível para jogar na equipa nacional?
Digo brasileiro por que nesta altura se discute a possibilidade de Fernando poder jogar por Portugal. Curiosamente, na mesma altura em que Brasil e Espanha regateiam os serviços de
Diego Costa, um processo sinuoso e pouco edificante. Pensaria o mesmo se se tratasse de um cidadão nascido em qualquer outro lugar do mundo.
Portanto, nenhuma dúvida: se Fernando se sente um de nós, só temos de o aceitar com entusiasmo. E nem é um
favor, uma vez que se trata de alguém com provas dadas e uma conduta correta.
Mas jogar pela seleção é outra questão.
A questão fundamenal é, do meu ponto de vista, esta: o que deve ser uma seleção?
A lógica atual aproxima as seleções dos clubes. O que Espanha fez, por exemplo, foi
contratar Diego Costa ao Brasil. Faz sentido? Não devia fazer, creio.
As seleções deveriam manter-se como o mais próximo do
futebol em estado puro. Os clubes são uma atividade profissional, comercial. Hoje em dia pouco guardam de romântico e a simples utilização da palavra desportivismo faz rir plateias.
As seleções, pelo contrário, são responsáveis por verdadeiros momentos de união. Ali, jogadores e adeptos esquecem as diferenças que os separam nos outros dias do ano e respiram o mesmo hino.
Se uma seleção é isto, ela deveria pelo menos resistir a uma lógica que se aproxime do mercado.
Este caso de Fernando, acho, não resiste a uma pergunta: se o médio do FC Porto fosse convocado por Scolari amanhã, iria? Penso que ninguém duvida da resposta: sim, iria. A correr.
Se no fundo o desejo, legítimo, de Fernando é jogar pelo Brasil e só não o faz porque não o convocam, o mais correto é continuar a trabalhar e esperar que o selecionador se lembre dele. Percebo que do ponto de vista da carreira do jogador seria útil poder estar nas grandes competições internacionais. Mas, lá está, as seleções devem manter-se o mais possível afastadas deste tipo de lógica, por mais legítima que ela possa ser.
Dito isto, acho Fernando um jogador fantástico, alguém que seria de enorme utilidade no meio-campo português, que carece de força. Sim, gostaria muito de ter o médio portista na equipa nacional. Só não acho que seja o caminho certo.
PS: Independentemente da minha opinião, acho que estes processos deviam ser mais formais. Uma carta, em vez de uma entrevista. O início ou o fim da época em vez de duas semanas antes de um play-off decisivo. E por aí fora.
(quem estiver interessado por ler o que escrevi sobre o tema em fevereiro, quando se falou na possibilidade de
Lima, do Benfica, ser convocado)