Pode parecer estranho, mas se duvida como fez o jornalista vá já para o fundo da página e veja o vídeo do jogo entre o Esteghlal e o Traktor: é uma espécie de clássico e meteu 90 mil pessoas no estádio! O Traktor jogava fora, ganhou por 3-2 e Flávio Paixão marcou o último golo. «Foi espectacular», diz.

Nesta altura convém apresentar o Traktor. Natural da região do Azerbaijão Oriental, ao lado do Azerbaijão Ocidental, na fronteira com a Turquia, é o clube de uma comunidade sobretudo que fala mais turco que curdo, que tem costumes próprios e que faz dos jogos uma espécie de assembleia étnica.

Os adeptos gostam de aproveitar o futebol para entoar cânticos em turco e reclamar por mais direitos para a etnia dos turcos azerbaijanos que habitam no Irão. «É uma loucura, nunca vi nada assim. Nos jogos em casa temos 50 ou 60 mil adeptos, nos jogos fora temos facilmente dez mil adeptos.»

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No jogo com o Esteghal, na capital Teerão, estavam 40 mil adeptos do clube. «Teerão fica a oito horas de carro, houve adeptos que demoraram um dia a chegar lá. São os melhores adeptos do Irão e criam ambientes que em Portugal só se vê num jogo Porto¬-Benfica ou num Sporting-Benfica.»

Apesar do forte apoio da etnia dos turcos-aberbaijanos, o Traktor nunca foi campeão. Passou aliás parte da última década na segunda divisão. Agora é líder do campeonato iraniano. «Disseram-me que foi a primeira vez que chegou à liderança. Os adeptos ficaram loucos», conta.

«Quando fomos jogar a Teerão encontrei o António Simões, que é adjunto de Carlos Queiroz na selecção, e até ele me admitiu que raramente se vê um ambiente assim. Depois de ter marcado aquele golo deixei de poder sair à rua, todos me querem tirar uma foto ou cumprimentar. É uma loucura.»

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Entretanto já passou mais uma jornada, Flávio Paixão voltou a marcar um golo e o Traktor manteve a liderança. «As pessoas andam contentes e tratam super bem os estrangeiros. Também porque Queiroz está a fazer um bom trabalho na selecção e isso traz consideração em relação aos portugueses.»

Para quem chegou pela primeira vez ao Médio Oriente, Flávio diz ter ficado surpreendido com o que encontrou. «Este fenómeno dos adeptos é sobretudo do Traktor e tem a ver com as questões políticas e étnicas, mais nenhum clube consegue colocar tanta gente a ver os jogos, em casa ou fora», diz.

«Mas para além disso o nível do futebol no Irão surpreendeu-me. Pensava que ia encontrar um futebol fraco, mas a verdade é que há bons atletas aqui e todas as semanas descubro novos bons jogadores. Podiam jogar em campeonatos europeus. Para além disso, os clubes têm boas condições.»

Para além dos estádios e dos centros de treinos, Flávio Paixão diz que «mesmo os métodos de treino são muito profissionais e semelhantes ao que se faz na Europa». «A maior diferença está na intensidade dos jogos. Na Europa o futebol é mais rápido e enérgico, aqui é mais lento, mas tem boa técnica.»

Veja o ambiente no Esteghal-Traktor (golo de Flávio Paixão aos 9:47)



E veja como se festejou a vitória no primeiro jogo do campeonato: