O desporto francês está em polvorosa com as recentes declarações de Angélique Cauchy, antiga tenista francesa que foi alvo de múltiplas agressões sexuais da parte do seu treinador, Andrew Gueddes, quando tinha apenas 12 anos. A história não é recente e o treinador já foi, inclusive, condenado a 18 anos de prisão, mas as novas revelações da antiga tenista, que diz que «violada 400 vezes durante dois anos», voltaram a trazer o assunto para a ribalta.

Angélique Cautchy voltou a abordar o episódio traumatizante do seu início de carreira no decorrer do testemunho que prestou a uma comissão de investigação que está a procurar eventuais falhas no controlo nas diversas federações desportivas do país que tem permitido revelar novos episódios de agressões e abusos sexuais no desporto francês.

«Fui violada quase 400 vezes pelo meu treinador durante dois anos», disse Cauchy que destaca um estágio de quinze dias em La Baule, em 1999, num episódio que retrata como «as piores semanas» da vida dela. «Ele violava-me três vezes por dia. Na primeira noite pediu-me para ir ao quarto dele e eu não fui. Então veio ele ao meu. Foi pior ainda. Estava presa, não podia sair quando queria», destaca.

A antiga tenista, agora com 36 anos, tinha, na altura, apenas 12 e recorda que sentiu, acima de tudo, medo. «Eram treze os passos que me separavam do quarto dele...», acrescenta.

Um período de terror para a tenista que, na altura, era apontada como uma grande promessa do ténis francês. «Começou por me agredir verbalmente. Tentei defender-me e pedia-lhe que parasse, repetindo dia após dia “não me toque, isto não está bem, não quero”. Mas ele respondia “não te preocupes, isto acontece muitas vezes entre os treinadores e as alunas”. Mas eu não queria, ele tinha a idade da minha mãe...», destacou ainda.

Além das agressões sexuais, Cauchy recordou ainda que o antigo treinador lhe disse que tinha SIDA, aumentando ainda mais o terror da então jovem tenista. «Vivi entre os 13 e os 18 anos a pensar que tinha SIDA. Pensei muitas vezes em suicidar-me, violou-me três vezes por dia! Vivi um pesadelo que arruinou a minha carreira», contou.

Cauchy passou pelo terror em silêncio, mas está convencida que o mundo do ténis tinha consciência do que estava a acontecer, até porque terão existido outras vítimas de Andrew Gueddes. «No mundo do ténis sabia-se que ele não era correto com as raparigas», destacou ainda Angélique Cauchy.