Um inédito feito minhoto, numa noite em que o Benfica teve uma derrota honrada. Um resultado que retira alguma da confiança alcançada no Dragão, mas que demonstrou duas realidades. Mesmo sem todas as peças, o Benfica tem jogadores para discutir um resultado até ao fim; o Sp. Braga não perdoa quando vê um adversário algo combalido.

A surpresa inicial de Jesus deixou de a ser no segundo tempo e, por isso, mais expedito a aproveitar os erros contrários, o Sp. Braga somou uma histórica terceira vitória seguida sobre os da Luz e vai até à última defender um título que ainda lhe pertence.

A primeira notícia era, obviamente, a apresentação do Benfica em campo. Jorge Jesus lançou o onze possível, mas mudou-lhe a estrutura. Weigl era para ser médio na ficha de jogo, mas os minutos iniciais confirmaram: o alemão estava a jogar como central.

Esse posicionamento mudou quase tudo nos lisboetas, a defender em 5x3x2: Jesus pensou muito na largura do Sp. Braga, certamente, mas também naquilo que não tinha. Sem laterais titulares, lançou Cervi de um lado e João Ferreira do outro. E aqui estava uma nuance bem interessante da partida.

O Sp. Braga tentou dar sempre muita largura ao jogo, com Galeno projetado à esquerda e Esgaio à direita. Mas Jesus quase nunca os deixou no um para um, pois Todibo protegeu à direita e Jardel à esquerda. Quando esse apoio falhava, várias vezes surgiram Rafa e Taarabt na cobertura.

O Benfica encaixou no Sp. Braga, basicamente.

Como desequilibrou o Sp. Braga então? Quando o Benfica não conseguiu fazer essas coberturas e encontrou terreno aberto pela frente: foi desse modo que Ruiz pegou na bola no meio, abriu em Esgaio, que estava solto na direita e com todo o Benfica a compensar o movimento, o 47 minhoto devolveu rasteiro e valeu Weigl a bloquear o remate do espanhol, por exemplo.

Também causou perigo de bola parada, ou melhor, na sequência delas. Fez isso no golo, com o cruzamento de Ricardo Horta a ser desviado por Abel Ruiz e quando Fransérgio mergulhou para uma cabeçada ao lado, nas costas de Todibo, percebeu-se que havia ali trabalho e que os dois lances não foram mero acaso. Portanto, aqui estava um ponto que merecia alguma atenção e, por isso, vamos decorá-lo.

E o Benfica? Não atacou? Claro que sim e criou perigo. Darwin descaiu muitas vezes para a esquerda para depois permitir a subida de Cervi também. O argentino esteve bastante ativo no cruzamento, mas foi o uruguaio quem esteve muito perto do golo. O lance aos três minutos foi o treino para aquele aos 42, a puxar da esquerda para o meio e a disparar ao ferro com estrondo.

Ato contínuo, Seferovic atirou para grande defesa de Matheus e este já era o melhor momento da equipa de Lisboa no jogo, porque apesar de «dizimado» pela pandemia, o Benfica ainda tem argumentos para se bater com bons rivais.

Exemplo disso é o jogo de Cervi e o jogo de Darwin, naquela atitude sul-americana de antes quebrar que torcer: combinaram de novo, com o argentino a encontrar o uruguaio, num lance que só terminou com a bola na baliza de Matheus. David Carmo carregou Darwin e Pizzi não perdoou de penálti.

Lembra-se das costas de Todibo?

A expectativa para o segundo tempo era esta: agora que estava descoberta a estratégia de Jesus para o encontro, como responderia o Sp. Braga vindo de uma conversa com Carvalhal?

Antes de se ver alguma ideia nova, viu-se uma velha. Darwin é um problema enorme quando tem espaço. Pizzi obrigou Matheus a uma grande defesa, mas foi o uruguaio quem transformou um alívio de João Ferreira em lance de perigo como esse que terminou no remate do 21.

Depois, outra ideia que já vinha do primeiro tempo. O Sp. Braga estava perigoso nas bolas paradas, Fransérgio atirou à barra com estrondo e mesmo quando o Benfica aliviava, a equipa de Carvalhal tinha a lição estudada.

O Sp. Braga aproveitou de novo a insistência de uma bola parada para encontrar o Benfica em contrapé, descobrir espaço nas costas de Todibo e Tormena fazer o 2-1. Ricardo Horta esteve exímio no lançamento do jogo aéreo.

Uma nota aqui: o Benfica mudou toda a linha defensiva, mudou a estrutura e se ela lhe deu garantias em várias partes do encontro, outras houve em que fraquejou. A descoordenação de Todibo foi a parte mais evidente de uma linha defensiva que não sobreviveu a adversário tão sagaz.

O Benfica ainda tentou. Jesus percebeu que a equipa estava a entrar não só em alguma falência física, mas também de ideias e trocou três peças de uma vez só. O Benfica mudou um pouco, Everton deu largura e Cervi foi mais dentro, mas o Sp. Braga já não se surpreendia, estava mais equilibrado e não caiu.

Pelo contrário, esteve até mais perto do 3-1 do que o oposto, com o Benfica já em risco quase total. O Sp. Braga vai à final da Taça da Liga discutir o troféu com o Sporting e essa é a melhor prenda dos 100 anos que fez nesta terça-feira.

Já o Benfica tem o peso de mais uma derrota. Atenuada pelos eventos desde o Dragão até Leiria.