João de Deus é a primeira chicotada da época. O ex-técnico do Gil Vicente sucumbiu à terceira jornada depois de averbar outras tantas derrotas nos jogos realizados. O treinador fica na história do clube de Barcelos depois de tocar nos extremos: protagonizou o melhor arranque de sempre do Gil e assinou uma série negra de 16 jogos sem ganhar, o pior registo do clube.

A aventura do técnico, agora com 37 anos, começou a 29 de maio de 2013, altura em que foi anunciado oficialmente pelo Gil Vicente. Assumiu, desde logo, um grande legado: substituiu Paulo Alves, um treinador acarinhado em Barcelos depois de subir o clube ao principal escalão do futebol português, na ressaca do célebre «Caso Mateus». Paulo Alves esteve quatro anos à frente dos destinos do Gil.

Ambicioso, João de Deus dá o pontapé de saída nos gilistas estreando-se ao mesmo tempo na I Divisão. Ao lado do presidente António Fiúza disse estar preparado para o desafio. 

«Há muito tempo que ambicionava treinar na Primeira Liga e fazê-lo num clube com a estabilidade e as condições que o Gil Vicente oferece é muito bom. Falei com o presidente sobre a permanência, se possível, fazendo um campeonato mais tranquilo. Sinto-me preparado» referiu o técnico de Setúbal na sua apresentação enquanto treinador do Gil Vicente.

Do céu ao inferno…

A entrada em cena foi avassaladora e João de Deus afirmou-se como um técnico a ter em conta na nova vaga de treinadores lusos. Em época de estreia na Liga protagonizou o melhor arranque de sempre do Gil Vicente. Passeou o Gil pelos primeiros lugares da tabela e colocou a Europa nos horizontes gilistas. Barcelos vivia um sonho às mãos de João de Deus; um autêntico conto de fadas.

Contudo, aquele a quem António Fiúza ousou assumir como maior que Jesus, protagonizou uma segunda volta muito pobre e entrou uma vez mais para os livros da história do Gil: somou 16 jogos consecutivos sem tomar o sabor dos triunfos. Um verdadeiro inferno.

Foram mais de três meses de futebol deprimente, sem alma e sem alento, que depois de um arranque promissor colocaram o Gil Vicente às portas dos lugares de descida. A época acabaria por terminar de forma sofrível, com o 13º lugar a ser alcançado de forma tímida e com os trinta pontos apregoados por João de Deus a serem alcançados à risca.

O descontentamento das gentes de Barcelos era notório e o divórcio pairava no ar no final da época passada, pese embora o balanço positivo do técnico. Metódico, João de Deus levou uma cábula para a sala de imprensa para atestar os seus feitos.

«Tive a oportunidade de fazer os trabalhos de casa, porque sabia que essa seria a primeira pergunta, a questão dos trinta pontos e dos objetivos alcançados. Acabamos com os quatro objetivos alcançados: manutenção garantida; trinta pontos; nas taças chegamos à fase de grupos da Taça da Liga que foi o proposto, onde perdemos com quem ganhou, na Taça de Portugal perdemos com quem possivelmente vai ganhar; um último objetivo em tom de desafio foi o lançamento de jovens valores e de divisões secundárias», assumiu o técnico.

João de Deus prosseguiu o seu raciocínio: «Lançámos dez jogadores: Gabriel, Nélson Agra, Alphonse, Luan, Vitor Gonçalves, Paulinho, Diogo Viana, Simi, Leandro Pimenta e Avto. Isto em termos concretos dá 18 pontos na primeira volta, mais 3 do que na época passada; 13 pontos na segunda volta, mais três do que na época passada. No geral temos mais duas vitórias e mais seis pontos do que na época passada. No ano passado lançaram-se quatro jogadores e nós lançámos dez».

O dobro das derrotas relativamente aos triunfos

Na tarde deste domingo o Gil averbou a terceira derrota depois de perder com o V.Guimarães e com o V.Setúbal nas duas primeiras jornadas do campeonato. «Mexe na equipa homem de Deus» ouviu-se em plenos pulmões um grito desesperado da bancada do Estádio Cidade de Barcelos. Um prenúncio do que viria a suceder no final do jogo. Um enorme coro de assobios e lenços brancos a contestar o desaire.

Assim foi. O divórcio consumou-se e o técnico que chegou a Barcelos proveniente da Oliveirense deixa o Gil Vicente ao fim de sensivelmente um ano e três meses, num total de 459 dias a comandar as tropas gilistas.

Ao todo, João de Deus sentou-se no banco de suplentes do Gil Vicente por 41 ocasiões. Nestas mais de quatro dezenas de jogos oficiais deixa um registo negativo em que as derrotas suplantam as vitórias...no dobro.O Gil Vicente perdeu por vinte ocasiões e venceu apenas dez jogos, registando-se ainda onze empates.

No final do encontro com o Marítimo, João de Deus reuniu todo o grupo do Gil Vicente no centro do relvado e proferiu um discurso visivelmente inflamado. A despedida? Talvez…Se o foi, decorreu debaixo de muitos assobios.

Já na sala de imprensa, apesar de dizer que ainda não tinha falado com o presidente António Fiúza, deixou uma mensagem de esperança para o, ainda seu, grupo de trabalho: «Não há nada a apontar aos jogadores. Esta equipa tem qualidade para fazer mais e melhor, o tempo dar-me-á razão. Há que motivar para que corra melhor na próxima». 

Está dada a primeira chicotada da presente edição da Liga.