Amadeu Portilha, Presidente da Comissão Executiva de Guimarães Cidade Europeia do Desporto 2013, falou ao Maisfutebol sobre o centro de deteção de talento desportivo, que está a nascer na cidade.

«É uma ideia que tem tanto de simples como de brilhante e que irá de encontro a um dos grandes problemas do desporto em Portugal. Infelizmente exigem-nos medalhas olímpicas, títulos de campeões da Europa e do Mundo e esquecem-se de que em Portugal a base falha.



No primeiro ciclo do ensino básico, entre os seis e os dez anos, quando os miúdos começam a ter um contacto mais direto com a atividade física e desportiva, quantos miúdos não haverá, com uma especial aptidão para uma determinada modalidade, com condições ou características físicas fora do comum, e que, por circunstâncias diversas, o desporto acaba por perder? Quanto talento desportivo desperdiçamos por não estarmos atentos ao que se passa no seio das escolas?

Por isso decidimos criar um centro, constituído por técnicos especializados em educação física, que, a partir de agora, vão contactar os coordenadores do desporto escolar dos vários agrupamentos, para descobrir se há miúdos, que ainda não estão inseridos no desporto formal, mas que têm uma especial característica (força, velocidade, altura, etc.) que nos permite pensar que está ali um futuro talento desportivo».

O que acontecerá depois da deteção desse talento?

«Vamos procurar saber quais são as motivações dele, por que é que ele não está a praticar desporto formal, e depois, se ele quiser e os pais autorizarem, encaminhá-lo-emos para um clube desportivo que possa desenvolver as suas aptidões.

Queremos potenciar o aparecimento do talento desportivo puro. É evidente que isto é um processo criterioso, que vai necessitar de muita observação, de diálogo com os pais, com os clubes, com as escolas... Depois se vai dar campeão ou não, não sei, o que eu não quero é perde-los.

Só daqui a 5, 10, 20 anos é que vamos saber se resultou. Porque o objetivo é que também haja depois a monitorização permanente destes jovens, para perceber os que conseguiram singrar e os que não conseguiram, e quais as causas».

Temos um exemplo paradigmático em Guimarães. Convém não esquecer que a Dulce Félix há dois anos trabalhava oito horas por dia atrás de um tear. Mas toda a gente me diz que ela com 10, 12, 14 anos, já corria que «era um disparate». Falta de facto detetar estes talentos de forma precoce. Porque a Dulce chega a um nível até muito razoável, mas foi com 27 ou 28 anos. Não se pode exigir dela que chegue aos Jogos Olímpicos e ganhe uma medalha, porque compete com pessoas que treinam a alto nível há muitos anos».

Em que fase está o projeto

«Está a começar. Estamos em reuniões com os agrupamentos de escolas, com alguns clubes de referência, porque queremos que esses talentos sejam encaminhados para instituições que tenham todas as condições para os desenvolver.

Se tivermos um miúdo com especial aptência para a prática do futebol, não tem sentido coloca-lo num clube dos regionais porque nunca mais vai desenvolver. Por isso estamos em contacto com o Xico Andebol, o Vitória, o Moreirense...

Acredito que assinaremos os protocolos durante março e rapidamente avançaremos. Mas já este ano queria detetar algum talento desportivo para que ele possa ingressar num clube em setembro, já no início da época».