A sua revista digitalSem ninguém lhe pedir, Terry quis até salvar o segundo maior amor da sua vida. O Hallen AFC atravessa uma grave crise financeira, corre o sério risco de perder o complexo desportivo que utiliza e precisa de 20 mil libras (cerca de 27 mil euros) para chegar a acordo com a autarquia local.
Ora, 20 mil libras é precisamente o que o bom do Terry tem no banco. São as poupanças de uma vida.
O velho funcionário - que vive numa roulotte estacionada dentro do pequeno estádio - não imagina melhor destino para elas do que ajudar a evitar o fim do Hallen AFC. A história tocou o Maisfutebol.
«A minha mulher Eileen morreu o ano passado. Perdi o grande amor da minha vida. Agora tenho de fazer tudo o que posso para salvar o amor que me resta».
A explicação de Terry Henderson é desarmante, uma lição de honradez, altruísmo e verdadeira paixão por um clube de futebol.
«Todas as minhas memórias vêm ter direitinho a Moorhouse Lane [estádio do Hallen AFC]. Eu ficaria devastado se o clube perdesse o campo e acabasse. Isto significa tudo para mim», continua Terry Henderson, o funcionário mais velho em atividade no futebol britânico.
Esta necessidade urgente de fundos tem um motivo. A Câmara Municipal de Almondsbury – pequena cidade na costa oeste de Inglaterra, perto de Bristol – subiu o valor do arrendamento de Moorhouse Lane em 40 por cento.
As 12 mil libras anuais passaram a 20 mil, um valor incomportável para os depauperados cofres do Hallen AFC. Faltam receitas, adeptos, tudo o que um clube necessita para subsistir sem ajudas estatais.
A direção do Hallen AFC, respeitosamente, declinou a oferta salvadora de Terry Henderson.
«Ele é um homem generoso e não esqueceremos o gesto. Mas não podemos aceitar o donativo, porque o nosso objetivo é tornar o clube sustentável. O dinheiro do Terry salvava-nos por mais um ano, sim, e depois? Ele ama o clube, sabemos disso e tudo faremos para salvar o Hallen».
Francis Fairman, vice-presidente da direção, explicou desta forma a recusa. Terry não terá de mexer nas poupanças que estão no banco, mas como se poderá salvar o segundo grande amor da vida deste empregado extraordinário?
Num comunicado publicado no último domingo, a direção do Hallen AFC dá conta da intenção de adquirir «de forma definitiva» o complexo desportivo municipal.
«Enviámos uma proposta à câmara municipal para a aquisição imediata e total dos terrenos ou para fazer um pagamento faseado durante os próximos 25 anos» , pode ler-se na missiva oficial do Hallen Football Club.
O município reagiu através dos mesmos meios.
«Sempre apoiámos financeiramente o Hallen AFC, particularmente durante os últimos 12 meses (…) Infelizmente não foi possível encontrar uma solução e o clube não tem condições para assumir um compromisso financeiro com a autarquia. Não estamos a despejar o clube das suas instalações, mas temos apoiado da forma possível e não podemos esquecer o interesse dos outros residentes de Almondsbury (…)» .
O clube criou, entretanto, uma petição pública onde pede o apoio financeiro da comunidade. Na noite desta terça-feira, e no instante em que esta reportagem está a ser publicada, centenas de pessoas juntam-se na escola secundária de Hallen para afinar estratégias e resgatar o clube local da morte.
Terry Henderson senta-se na primeira fila.
O Hallen AFC joga na Toolstation Premier Division , a liga distrital da zona sudoeste de Inglaterra, nono escalão na pirâmide nacional.
Acabou a temporada 2014/15 num modestíssimo 17º lugar, apenas à frente do Winterbourne United e do Bishop Sutton. Além da primeira equipa, o clube tem reservas e todos os escalões jovens.
A decisão do município de Almondsbury está a gerar uma onda de revolta em todo o futebol britânico. Clubes, futebolistas e sociedade civil colocam-se ao lado do Hallen AFC e de Terry Henderson nesta luta.
Em Portugal, quantos clubes amadores estarão nesta situação aguda de necessidade?
