A testemunha principal da investigação ao primeiro-ministro israelita por corrupção afirmou esta terça-feira à justiça ter entregue a Ehud Olmert cerca de 150 mil dólares em dinheiro para campanhas eleitorais e para gastos pessoais ao longo de 15 anos.

O testemunho do empresário israelo-norte-americano Morris Talansky foi apresentado como decisivo para a investigação, que pode terminar com uma acusação formal de Ehud Olmert e a sua consequente demissão.

«Dei somas em dinheiro a Olmert para as suas campanhas (eleitorais autárquicas) de 1991 e 1992 (...) Ele disse-me que preferia em dinheiro e eu dei-lhe inicialmente somas (provenientes) dos meus fundos privados e, depois, somas recolhidas nos Estados Unidos para ele», declarou o empresário, de 75 anos, segundo os jornalistas que assistiram à audição da testemunha no tribunal de Jerusalém.

Empresário afirmou que «não esperava nada em troca»

«Em 1998, também, foram dadas somas, cada uma de 3.000 a 8.000 dólares, sempre em dinheiro porque Olmert não queria cheques. Explicou-me que assim seria mais fácil repartir as verbas», acrescentou.

O empresário, que vive em Nova Iorque, afirmou que «não esperava nada em troca», e disse ter conhecido Ehud Olmert durante a Guerra do Golfo (1990-1991). «Nessa altura, ele era ministro da Saúde. Era um príncipe do (partido de direita) Likud, um homem inteligente que eu admirava (...) e que, do meu ponto de vista, devia ser ajudado», disse Morris Talanski, citado pela rádio pública israelita.

O empresário disse por outro lado não estar em condições de especificar como foram utilizados os fundos que entregou a Olmert, cerca de 150 mil dólares ao longo de 15 anos, mas deu a entender que uma parte se destinou a gastos privados e pessoais.

Sobre este aspecto, Talanski disse por exemplo ter emprestado 25 mik ou 30 mil dólares a Ehud Olmert para uma viagem a Itália em 2004. «Eu sei que ele gostava de uma vida de luxo, hotéis de luxo, charutos finos, canetas caras e relógios, e eu achava isso estranho».

A audição de Talansky, em que o empresário respondeu sob juramento às perguntas colocadas pelo procurador do Ministério Público e pelo procurador da comarca de Jerusalém, decorreu entre as 9h e as 16h locais (7h e 14h em Lisboa).

O advogado de Ehud Olmert deverá contra-interrogar a testemunha em data a anunciar.

O processo está na fase de inquérito preliminar, pelo que tanto pode evoluir para uma acusação formal como ser arquivado.

Na origem da investigação estão suspeitas de corrupção, fraude e abuso de confiança. Olmert é suspeito de ter recebido de Talansky «somas avultadas» e «não autorizadas» quando era presidente da câmara de Jerusalém (1993-2003) e, mais tarde, quando foi ministro do Comércio e da Indústria (2003-2006).